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Opinião

CARTA DE NATAL 2023

CARTA DE NATAL 2023

Artigo por RED
24/12/2023 05:30 • Atualizado em 26/12/2023 10:26
CARTA DE NATAL 2023

DA PASTORAL POPULAR LUTERANA – PPL

E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor  

entre as principais cidades de Judá;  

porque de ti sairá o Guia  

que há de apascentar o meu povo de Israel. 

Mateus 2.6

Neste Natal de 2023 as notícias que nos chegam da atual Belém não são boas, nem  motivo de grande alegria para o povo. Aliás, Belém está ocupada por soldados  israelenses da ocupação que humilham e perseguem diariamente a população  palestina nativa. Se considerarmos o convite acolhido pelos pastores dois mil anos  atrás, este ano ele pode até se repetir, mas lá não se encontrará o acontecimento que  os anjos anunciaram. Isto é, que o Deus vivo se revelou de modo inusitado em uma  criança recém-nascida, encontrada numa manjedoura com a jovem mãe e o pai  carpinteiro. Não há quem possa voltar de lá glorificando e louvando a Deus por tudo  que tenha visto e ouvido.  

Por causa da guerra iniciada dia 07 de outubro, por um ataque terrorista do grupo  Hamas contra um grupo significativo de civis israelenses, a resposta militar de Israel  contra o território palestino da Faixa de Gaza se revelou mil vezes mais agressiva e  mortal. É um massacre desproporcional contra uma população civil desarmada e que  já custou, até este momento, cerca de 20 mil mortos, em sua maioria crianças e  mulheres. A ONU informa que existem mais de 50 mil pessoas feridas e que não mais  podem ser atendidas, pois o exército de ocupação arrasou a maioria dos hospitais,  chegando a prender médicos e atendentes. No sul da Palestina, a Faixa de Gaza há  muito se tornou um enorme campo de concentração a céu aberto como um regime de  apartheid sangrento, repressivo, cheio de ódio e alienado de qualquer significado que  possa se traduzir em vida. A violência e o ódio nada produziram até aqui a não ser  vingança e morte de milhares de pessoas. Quando este massacre vai acabar? Chega de  guerra! Chega de genocídio! 

Por isso, com profunda tristeza e coração oprimido dizemos que não há sentido em  celebrar o Natal de Jesus sem nos solidarizarmos com todas as vítimas dessa e de  tantas outras guerras. Não há como celebrar, esquecendo que diariamente se retiram  crianças mortas dos escombros das cidades de Gaza, vítimas inocentes da violência  promovida pelo atual Estado de Israel. Em Belém foram canceladas as festas de Natal  como nos informou o Pastor luterano M. Isaac da Igreja Evangélica da Natividade. Não  há pinheiros cheios de enfeites, nem decorações em suas ruas ou em sua famosa Praça da Manjedoura. Também não há turistas ou peregrinos que tragam o seu espírito  natalino para Belém. Em lugar de anjos cantando louvores a Deus desejando paz na  terra às pessoas por ele amadas, ouvem-se a explosão de misseis e o barulho  insistente e repetitivo de armas. Como escreveu Mateus no evangelho, parece que  novamente escutamos o choro e o lamento de Raquel em Ramá, hoje Ramalah, na  Cisjordânia. Ao saber que um novo rei havia nascido, Herodes se enfureceu e mandou  matar todos os meninos de Belém e arredores de dois anos para baixo (Mateus  2.16ss). Cumpriu-se mais uma vez, desgraçadamente, a profecia: “Ouviu-se um clamor  em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e  inconsolável porque não mais existem”. 

Mas isto não acontece só em Belém, na terra de Judá. Por aqui são crianças indígenas  as vítimas da violência de grileiros e invasores de seus territórios. São crianças negras  vítimas da violência de balas perdidas de traficantes, milicianos e policiais. São crianças de rua, vítimas do descaso e abandono de políticas públicas que não permitem que  elas aprendam a brincar nas praças. Que podemos dizer diante desses fatos? É como  se o projeto dos Herodes de todos os tempos continuasse a se perpetuar com o  massacre planejado de crianças. 

Nós sabemos e cremos que Jesus nasceu e viveu para proclamar a PAZ com JUSTIÇA  (Mateus 6.33). Como comunidade de seguidoras e seguidores do Menino Deus, nós  queremos seguir um OUTRO caminho, o caminho da reconciliação, do perdão e da  entrega da vida por amor do povo que Deus ama. Aqui no Brasil, na América Central,  mas também na África, na Palestina, em todos os lugares. Se um fio de esperança  ainda pode brilhar neste Natal tão sofrido, nós o celebramos como um desafio para  construirmos, com todas as pessoas a quem Deus quer bem, um outro mundo  possível. 

Que o Deus vivo, o Deus de Jesus, o Pai de todas as crianças, nos ajude e abençoe neste Natal de 2023! 

Coordenação Nacional da PPL 


Imagem em Pixabay.

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