Opinião
CARTA DE NATAL 2023
CARTA DE NATAL 2023
DA PASTORAL POPULAR LUTERANA – PPL
E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor
entre as principais cidades de Judá;
porque de ti sairá o Guia
que há de apascentar o meu povo de Israel.
Mateus 2.6
Neste Natal de 2023 as notícias que nos chegam da atual Belém não são boas, nem motivo de grande alegria para o povo. Aliás, Belém está ocupada por soldados israelenses da ocupação que humilham e perseguem diariamente a população palestina nativa. Se considerarmos o convite acolhido pelos pastores dois mil anos atrás, este ano ele pode até se repetir, mas lá não se encontrará o acontecimento que os anjos anunciaram. Isto é, que o Deus vivo se revelou de modo inusitado em uma criança recém-nascida, encontrada numa manjedoura com a jovem mãe e o pai carpinteiro. Não há quem possa voltar de lá glorificando e louvando a Deus por tudo que tenha visto e ouvido.
Por causa da guerra iniciada dia 07 de outubro, por um ataque terrorista do grupo Hamas contra um grupo significativo de civis israelenses, a resposta militar de Israel contra o território palestino da Faixa de Gaza se revelou mil vezes mais agressiva e mortal. É um massacre desproporcional contra uma população civil desarmada e que já custou, até este momento, cerca de 20 mil mortos, em sua maioria crianças e mulheres. A ONU informa que existem mais de 50 mil pessoas feridas e que não mais podem ser atendidas, pois o exército de ocupação arrasou a maioria dos hospitais, chegando a prender médicos e atendentes. No sul da Palestina, a Faixa de Gaza há muito se tornou um enorme campo de concentração a céu aberto como um regime de apartheid sangrento, repressivo, cheio de ódio e alienado de qualquer significado que possa se traduzir em vida. A violência e o ódio nada produziram até aqui a não ser vingança e morte de milhares de pessoas. Quando este massacre vai acabar? Chega de guerra! Chega de genocídio!
Por isso, com profunda tristeza e coração oprimido dizemos que não há sentido em celebrar o Natal de Jesus sem nos solidarizarmos com todas as vítimas dessa e de tantas outras guerras. Não há como celebrar, esquecendo que diariamente se retiram crianças mortas dos escombros das cidades de Gaza, vítimas inocentes da violência promovida pelo atual Estado de Israel. Em Belém foram canceladas as festas de Natal como nos informou o Pastor luterano M. Isaac da Igreja Evangélica da Natividade. Não há pinheiros cheios de enfeites, nem decorações em suas ruas ou em sua famosa Praça da Manjedoura. Também não há turistas ou peregrinos que tragam o seu espírito natalino para Belém. Em lugar de anjos cantando louvores a Deus desejando paz na terra às pessoas por ele amadas, ouvem-se a explosão de misseis e o barulho insistente e repetitivo de armas. Como escreveu Mateus no evangelho, parece que novamente escutamos o choro e o lamento de Raquel em Ramá, hoje Ramalah, na Cisjordânia. Ao saber que um novo rei havia nascido, Herodes se enfureceu e mandou matar todos os meninos de Belém e arredores de dois anos para baixo (Mateus 2.16ss). Cumpriu-se mais uma vez, desgraçadamente, a profecia: “Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem”.
Mas isto não acontece só em Belém, na terra de Judá. Por aqui são crianças indígenas as vítimas da violência de grileiros e invasores de seus territórios. São crianças negras vítimas da violência de balas perdidas de traficantes, milicianos e policiais. São crianças de rua, vítimas do descaso e abandono de políticas públicas que não permitem que elas aprendam a brincar nas praças. Que podemos dizer diante desses fatos? É como se o projeto dos Herodes de todos os tempos continuasse a se perpetuar com o massacre planejado de crianças.
Nós sabemos e cremos que Jesus nasceu e viveu para proclamar a PAZ com JUSTIÇA (Mateus 6.33). Como comunidade de seguidoras e seguidores do Menino Deus, nós queremos seguir um OUTRO caminho, o caminho da reconciliação, do perdão e da entrega da vida por amor do povo que Deus ama. Aqui no Brasil, na América Central, mas também na África, na Palestina, em todos os lugares. Se um fio de esperança ainda pode brilhar neste Natal tão sofrido, nós o celebramos como um desafio para construirmos, com todas as pessoas a quem Deus quer bem, um outro mundo possível.
Que o Deus vivo, o Deus de Jesus, o Pai de todas as crianças, nos ajude e abençoe neste Natal de 2023!
Coordenação Nacional da PPL
Imagem em Pixabay.
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