De ALEXANDRE CRUZ*
As recentes divulgações do Censo 2022 pelo IBGE trouxeram uma notícia interessante: a proporção de mulheres no Brasil atingiu a marca de 51,5%. Um marco significativo que também se reflete no cenário político, uma vez que as mulheres agora são maioria em todas as regiões do país. Essa ascensão do gênero feminino ao poder de decisão nas urnas é uma especificidade que merece análise, especialmente quando se trata do voto nas formações políticas de extrema direita.
De fato, observamos uma tendência notável em várias partes do mundo, incluindo Argentina, Brasil, Espanha e Polônia, onde as mulheres demonstraram resistência ao apoio à extrema direita. O que leva as mulheres a votarem menos nesse espectro político? E, igualmente importante, será que o aumento da participação feminina será suficiente para conter o avanço dessas políticas atuais?
O fato de que as mulheres votam menos nas formações partidárias de extrema direita não é uma mera opinião, mas sim um resultado que se sustenta em estudos acadêmicos. Diversos fatores podem explicar essas características. Primeiramente, a retórica de extrema direita muitas vezes é marcada por posições conservadoras em questões de gênero, o que pode excluir as eleitoras. Além disso, políticos extremistas tendem a adotar uma postura mais agressiva e polarizada, o que não é atraente para um eleitorado que valoriza a estabilidade e o consenso.
Outro fator crucial é a agenda social e o papel que as mulheres desempenham na sociedade moderna. À medida que as mulheres conquistam mais espaço e visibilidade em todos os setores, inclusive a política, elas tendem a valorizar candidatos que defendem a igualdade de gênero e os direitos das minorias. Portanto, as propostas de extrema direita que frequentemente vão contra esses princípios podem ser um obstáculo para o voto feminino.
A participação crescente das mulheres na política é, sem dúvida, uma força positiva e um contrapeso importante contra o avanço da extrema direita. No entanto, a simples presença de um maior número de eleitoras não é suficiente para conter completamente o movimento extremista. É fundamental que sejam adotadas medidas políticas e sociais que promovam a inclusão, a igualdade e o respeito pelas minorias em todas as esferas da sociedade.
Investir em programas de educação e conscientização sobre igualdade de gênero, diversidade e inclusão é essencial para criar uma sociedade mais justa e informada. Promover a participação das mulheres na política, garantindo que tenham oportunidades iguais de se candidatar e ocupar cargos de liderança, é um passo importante para garantir que suas vozes sejam ouvidas. Incentivar o diálogo e o debate construtivo na política é crucial para encontrar soluções que atendam às necessidades de toda a sociedade, independentemente de sua orientação política. Abordar questões socioeconômicas e de desigualdade é fundamental para combater o apelo da extrema direita, que muitas vezes aproveita o descontentamento da população. Exigir transparência e responsabilidade por parte dos políticos é essencial para garantir que cumpram suas promessas e representem verdadeiramente os interesses de seus eleitores.
Em resumo, a presença crescente de mulheres nas urnas é, sem dúvida, um fator importante na resistência à extrema direita, mas para conter esse movimento, é necessário adotar uma abordagem multifacetada que promova a igualdade, o respeito às minorias e o diálogo construtivo. Só assim poderemos construir sociedades mais justas e inclusivas.
*Jornalista.
Imagem da Marcha das Margaridas em Brasília, em 16/08/23. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil.
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