Opinião
A natureza fala por nós?
A natureza fala por nós?
De LEONARDO MELGAREJO*
Semana passada foi a semana do/a professor/a.
Quem não reconhece a importância crucial de alguém ou de várias pessoas que, neste papel, foram decisivas para que conseguíssemos chegar aqui, sendo o que somos? E afinal, o que somos?
Nossos/as professores/as, mestres/as por ofício, por destino familiar, acaso ou oportunidade o que pensariam disso? O que nos diriam, hoje, aquelas pessoas que se destacaram aqui e ali, semeando as perguntas, dúvidas, certezas, exemplos de atitudes e direcionamentos que, acumulados como tijolos, cada um a seu momento, acabaram não só desenhando o que para nós é o mundo como também, e principalmente, o que acreditamos ser as responsabilidades que nos cabem em vida?
Não é difícil perceber que uma mesma lógica de aprendizado comum dá corpo aos parâmetros e filtros que nos agrupam, por identificação, em atores sociais mais ou menos comprometidos com projetos que vão além do que nos cabe através de sonhos e objetivos individuais.
Por isso, seria de pensar que o tempo traria avanços seguros rumo a um usufruto coletivo das maravilhas da vida. Afinal, foi a compreensão sobre o significado e a importância das alianças que permitiu, após tragédias horríveis, acordos globais a respeito dos direitos (e deveres) humanos universais.
Entretanto, graças ao oportunismo de alguns, à apatia de outros e a conivência de muitos, aquelas conquistas (a ONU e os Direitos Humanos) acabaram se revelando uma espécie de ficção capturada pela lei da força bruta. E para piorar, com a mercantilização de tudo se tornou evidente que, mesmo superadas as ameaças construídas ao longo dos curtos períodos de paz havidos nesta fase triste da história, os direitos que nos humanizam só terão viabilidade se/quando se fizerem expandidos rumo aos direitos da natureza. E isto parece ainda mais difícil de ser alcançado do que o impedimento de bombardeios sobre hospitais que cuidam de crianças feridas em uma guerra da qual é impossível fugir.
Harry Berguer¹ foi defendido por Sobral Pinto com base nos direitos dos/na lei de proteção aos animais. O argumento era bom, e é válido ainda hoje, para todos nós.
Afinal, o que somos, o que aprendemos com nossos mestres e mestras, e que respeito merecemos, fazendo vista grossa ao que já ocorre na Ucrânia, na Palestina e que cresce na surdina, como câncer, entre nós?
A água que bebemos tem agrotóxicos, a senadora Eliziane Gama foi ameaçada de morte por relatar o óbvio sobre os bolsonaristas/golpistas de alto escalão. Breno Altman está ameaçado de perder os dedos e os dentes, por ter dito ser inaceitável uma política que já matou 700 crianças e feriu mais de duas mil em um território abandonado pela ONU graças ao veto dos EUA… tudo isso e muito mais, enquanto o medo e a culpa seguem avançando entre nós. Já não basta esperar, nem adianta mais rezar. Precisamos aprender a ficar em pé, dar as mãos e dizer Basta, dizer Não.
Na verdade, precisamos andar e gritar, juntos: Não. Isto Não, Não Senhor!
*Engenheiro Agrônomo, mestre em Economia Rural e doutor em Engenharia de Produção. Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio e presidente da AGAPAN. Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.
¹https://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/sobral-pinto/
Imagem em Pixabay.
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