Opinião
Vendedor de ilusões ou tocador de obras?
Vendedor de ilusões ou tocador de obras?
De SERGIO ARAUJO*
Faltando um ano para a realização das eleições municipais, sempre é bom recordar as promessas de campanha feitas pelos vencedores e o que efetivamente foi realizado. No caso de Sebastião Melo, por exemplo, que se elegeu prefeito de Porto Alegre em 2020, a propaganda do então candidato mostrava-o como um especialista nos assuntos da capital. Aliados chegavam ao exagero de dizer que Melo conhecia cada palmo de chão da cidade, pois foi doze anos vereador e quatro, vice-prefeito, na gestão de José Fortunati. Nessa última função, que coincidiu com a realização da Copa do Mundo no Brasil, tendo Porto Alegre como uma das sedes dos jogos, Melo atuou como se fosse o “capataz” das obras. Nascia aí mais uma ferramenta do seu marketing eleitoral: a de “tocador de obras”.
Pois bem, Sebastião Melo, que embora não tenha nascido no Rio Grande do Sul sempre sonhou em ser prefeito da capital dos gaúchos, conseguiu se eleger e oportunizou que os porto-alegrenses pudessem constatar que a tal expertise ficou apenas no papel, o que significa dizer, no santinho da propaganda eleitoral. Prova disto é que até hoje tem obras da Copa inacabadas e outras que sequer foram iniciadas.
Já prefeito, abriu novas frentes de trabalho que, a exemplo das anteriores, andam a passos de tartaruga, prejudicando transeuntes, tráfego de veículos, comerciantes e moradores. A tal revitalização do Centro Histórico, promessa de vários prefeitos que o antecederam, escolhida por Melo como a joia da sua administração, continua sendo uma miragem ainda distante.
Não dá para esquecer também os escombros políticos provocados pelo emedebista. A começar pela sua adesão às teses bolsonaristas de privatização, negacionismo científico durante a pandemia (comprou o ineficaz kit cloroquina e condenou a recomendação do “fique em casa”) e outros mais. E é sempre bom lembrar que Melo apoiou a reeleição de Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2022, quando todos já sabiam da ineficácia administrativa do falso mito e das suas intenções ditatoriais. Também é importantíssimo enfatizar que a sua gestão na área da Educação está sendo alvo de investigação por parte de uma CPI na Câmara de Vereadores.
Mas eis que, às vésperas de um novo pleito, o personagem do tocador de obras volta à cena política. Nesse aspecto, não há dúvida de que a revitalização da orla do lago Guaíba será usada como sua grande vitrine na campanha à reeleição. Mas basta ser atento ao que aconteceu em Porto Alegre, nos últimos três anos, para constatar que o tal reavivamento, incluindo o desmatado do parque da Harmonia, não passa de uma maquiagem para disfarçar o abandono gerencial para com a imensa maioria dos porto-alegrenses. Tanto e a tal ponto, que dá para dizer que temos um prefeito que administra de frente para o Guaíba e de costas para a cidade.
Basta circular pelas ruas da capital para constatar o abandono daquela que deveria ser a rotina de um bom administrador, qual seja, a manutenção da estrutura básica instalada. Ruas esburacadas, problemas crônicos com a coleta de lixo, parques, praças e ruas mal cuidadas e mal iluminadas, árvores necessitando de poda com galhos debruçados sobre a rede elétrica ou encobrindo semáforos e placas de trânsito, bueiros entupidos gerando alagamentos, transporte coletivo deficiente, ciclovias desmoronando, guarda municipal truculenta e um sem número de obras abertas sem previsão de conclusão.
Mas para disfarçar o que deveria ter sido feito e não foi, o prefeito trata de colocar a máquina pública a serviço da sua reeleição. À toque de caixa, uma frota de homens e equipamentos iniciaram uma operação de recapeando de uma pequena parte das principais ruas e avenidas, as de maior visibilidade, claro. E, para não fugir à regra, com andamento lento, pois o que importa é chegar no ano eleitoral com as máquinas na pista, dando a falsa impressão de que temos um prefeito “tocador de obras”.
Esquece, porém, o astuto alcaide, talvez por soberba, que o cenário político de 2024 não é mais o mesmo de 2020. Mesmo que ele consiga, como parece estar conseguindo, formar um grande bloco de partidos apoiadores, não por coincidência os mesmos que se aliaram a Bolsonaro, será difícil conquistar o eleitor de hoje. Por tudo o que de ruim aconteceu no governo predatório do falso mito, ele está mais consciente e atento.
Se o bolsonarismo serviu para catapultar a chegada de Melo ao Passo Municipal, desta vez tudo indica que será visto pelo eleitor porto-alegrense como um obstáculo, E pouco irá adiantar o uso da estratégia marqueteira da desfaçatez, pois seus adversários, a imprensa isenta e responsável e os democratas sagazes, irão lembrar ao eleitor porto-alegrense das mazelas políticas e administrativas provocadas por quem transformou um sonho pessoal em um pesadelo coletivo.
*Jornalista, especializado em marketing político.
Imagem em Pixabay.
Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.
Toque novamente para sair.