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Opinião

Sobre o Voto Útil, o debate necessário

Sobre o Voto Útil, o debate necessário

Artigo por RED
14/09/2022 11:58 • Atualizado em 15/09/2022 11:08
Sobre o Voto Útil, o debate necessário

De BENEDITO TADEU CÉSAR*

Depois que eu enviei o link do texto ‘Voto útil’, de autoria de Nubia Silveira, publicado aqui no dia 12 de setembro, num grupo de WhatsApp que congrega militantes políticos e dirigentes partidários de diferentes partidos, um dirigente partidário do campo democrático popular no Rio Grande do Sul lastimou-se do texto e argumentou que seria uma pena a disseminação do raciocínio do voto útil ou de “construção antidemocrática em relação ao Ciro”.

Para ele, defender o voto útil hoje é utilizar a estratégia da supremacia no campo político e intelectual, postura que ele lamenta, pois “o debate e as diferenças no mesmo campo têm que ser adotados na prática e não por meio de sufocamento”. Por fim, afirmou que nenhum bem é maior do que a democracia e que invocar riscos antidemocráticos é, na verdade, um ato antidemocrático.

Na sequência, ele acrescentou: “Segundo turno é outra conversa”.

Não me contive e respondi a ele o que se segue:

Com todo o respeito que eu te tenho, discordo do teu raciocínio, assim como discordo de quase todos os dirigentes partidários do RS. Eu dispendi todas as forças que consegui reunir, junto com cerca de mil intelectuais públicos e de integrantes de outros segmentos sociais, para incentivar a formação de uma grande frente democrática e popular no RS, pois entendíamos que as eleições deste ano são fundamentais para a definição dos rumos do Brasil e do RS pelas próximas décadas.

Não obstante, pela intransigência da maioria dos dirigentes partidários, pela falta de compreensão sobre os riscos que a democracia enfrenta e também pelos ressentimentos nutridos de uns pelos outros, saímos divididos e, mais uma vez, a direita e a centro-direita disputam a liderança pelo o governo do RS e impulsionam os votos em Bolsonaro aqui e, em caso de vitória de um candidato democrático e popular para a Presidência da República, não darão a ele o respaldo político que ele necessitará para governar, frente ao bolsonarismo que continuará forte e às pressões dos setores empresariais e militares.

No plano federal, a situação é semelhante. Faltou postura democrática e posicionamento de estadista para nossos dirigentes partidários e políticos que, mais uma vez, ficaram olhando para seus umbigos. Agora não é momento para marcar posição e delimitar território de caça eleitoral. É hora de união de forças para salvar a nossa precária democracia, reconstruir o país e dar seguimento à construção de algum tipo de estado de bem-estar social.

Em vez disso, o que vemos é exatamente o contrário. Desde sempre, não é novidade para ninguém, esta disputa presidencial tem dois concorrentes viáveis, mas pela estreiteza política e de compreensão do risco que corremos, ficamos digladiando no nosso próprio campo e, consequentemente, levando água e votos para o grande adversário comum. Os ataques são tão ferrenhos e descabidos, que personagens históricos de partidos do campo democrático popular e trabalhista têm vindo a público defender o voto útil.

Fazer acusações como estão sendo feitas a Lula por candidatos do campo democrático popular é fazer o jogo do inimigo e, o que é pior, esse jogo é feito conscientemente. Desculpe-me, mas o momento exige grandeza, não melindres e delimitação de espaços.

O argumento de que estaremos juntos no segundo turno é falho, pois o candidato presidencial que acusa com virulência o candidato do campo democrático popular que lidera as pesquisas já afirmou e reafirmou que não votará nesse candidato no segundo turno e, consequentemente, não fará campanha nem orientará o voto para ele. O que nos coloca diante de algumas possibilidades. O que ela fara, sairá do país, se absterá ou apoiará o candidato da extrema-direita?

Além disso, agora entendendo que o segundo turno é outra eleição, o risco que o país correrá num eventual segundo turno será muito grande. Já pensaste que todas as forças de extrema direita e de direita e até parcelas antipetistas se unirão contra o candidato progressista e cerrarão fileiras pelo candidato de extrema direita, usando de todas as armas que eles têm, como a dos veículos da grande mídia, o empresariado retrógrado, os setores de classes médias temerosos do avanço social dos mais pobres, as forças policiais, as milícias e amplos setores das forças armadas?

Diante desses argumentos, ele respondeu:

“Definitivamente, a relativização tornou o país doente!”

Frente a essa reação, entendi que seria melhor não continuar o debate naquele espaço.

Agrego, no entanto, aqui, a seguinte reflexão, com a intenção de abrir o debate a todos/as interessados.

Ser democrata não é agir sem medir as consequências dos seus atos. Quem age assim e defende essas posturas são os autoritários que se travestem de democratas. Utilizam o escudo da democracia para agirem na defesa dos seus interesses particulares ou de grupos, mesmo que isso implique na agressão aos interesses e ao bem-estar da coletividade.

Como não me julgo dono da verdade, faço um apelo para todos e todas que se disponham a debater esse tema, a favor ou contra o voto útil na situação emergencial que atravessamos, para que enviem artigos para a RED. O debate com respeito à divergência é fundamental nos dias de hoje. Tenho certeza de que a RED não se negará a abrigar o debate sadio entre posições divergentes.

*Cientista político e professor aposentado pela UFRGS.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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