Curtas
Inadimplência em Porto Alegre recua, mas segue alta, com 39,4% das famílias com contas em atraso
Inadimplência em Porto Alegre recua, mas segue alta, com 39,4% das famílias com contas em atraso
Inflação e queda da renda média são alguns dos fatores que pressionam o pagamento de dívidas, segundo especialistas.
A inadimplênciamostra sinais de retração, mas segue em patamar elevado em Porto Alegre. O percentual de famílias com contas em atraso ficou em 39,4% em agosto na Capital. O montante mostra queda em relação a julho (40,6%), a primeira após um intervalo de 14 altas consecutivas.
Mesmo com o recuo no oitavo mês do ano, esse contingente está acima e distante do nível registrado em agosto de 2021 (22,4%). Os dados são de pesquisa da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS) com base em dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Mesmo consultando famílias que moram só em Porto Alegre, o levantamento é analisado como um retrato de todo o Estado.
Permanência da inadimplência em degrau elevado faz parte de um cenário composto por maior uso do crédito e pressão de inflação e juros altos. Esse fenômeno pode ancorar o avanço da atividade econômica, porque limita o consumo, segundo alguns especialistas.
Economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo afirma que o recuo observado em agosto ocorre diante de combinação de fatores, como coordenação orçamentária e melhora no mercado de trabalho. Ela destaca que o percentual ainda alto de famílias em situação de inadimplência, quando as contas estão em atraso ou sem pagamento, apresenta uma realidade do consumo:
— A pesquisa mostra que as famílias têm utilizado o crédito como mecanismo de financiamento do consumo corrente. Com o aumento da inflação e dos juros esse ano, a inadimplência foi uma consequência direta. O percentual de famílias que têm pelo menos uma conta em atraso é quase o dobro do ano passado, mas felizmente esse percentual caiu pela primeira vez depois de 14 meses de alta.
A inadimplência afeta cerca de 48% das famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos e 6,4% dos lares com renda acima de 10 mínimos, conforme a pesquisa. Ao mesmo tempo, o levantamento da Fecomércio-RS destaca que a persistência da inadimplência segue se mantendo baixa. Famílias que não terão condições de pagar nenhuma das suas dívidas em atraso representam 2,5% do total de entrevistados. Patrícia avalia que esse indicador mostra esforço das pessoas para honrar parte das dívidas, garantindo o financiamento desse consumo corrente:
— Esse uso continuado do crédito fez com que muitas famílias ficassem em uma situação de alguma inadimplência de maneira permanente. Mas elas sempre pagam parte dessas contas em atraso, porque não querem se manter num estado onde não tenham mais acesso ao crédito.
Dificuldade
Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, Maurício Weiss afirma que a inadimplência em nível elevado dificulta o acesso ao crédito. Nos casos onde pessoas nessa situação conseguem alguma linha de crédito, essa ferramenta fica mais cara diante das garantias impostas pelas instituições financeiras, segundo o professor. Weiss também destaca que esse cenário afeta o consumo e a atividade econômica:
— A dinâmica é que, com menor capacidade de consumo, pessoas acabam comprando menos e, consequentemente, você tem desaquecimento da economia, o que gera piora para quem vai fazer investimento. Porque o mercado consumidor acaba ficando mais fraco.
Sobre o recuo do percentual de inadimplência em agosto, Weiss também cita a melhora no mercado de trabalho. Ele lembra que a taxa de desemprego segue apresentando recuo nos últimos trimestres, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse movimento ajuda a diminuir o atraso de dívidas, mesmo em um cenário sem aumento de renda média real e com avanço dos informais, conforme o docente.
O estudo mostra que o percentual de famílias endividadas em Porto Alegre subiu de 94,3%, em julho deste ano, para 95,2% em agosto. Em agosto do ano passado, esse montante estava em 79,3%. Esse indicador também leva em conta as dívidas que estão sendo honradas.
O que esperar pela frente
A economista-chefe da Fecomércio, Patrícia Palermo, afirma que é cedo para estimar se a queda do percentual de inadimplência observado em agosto será uma tendência. Ela cita ambiente de incertezas para o próximo ano:
— Se para o ano que vem esperamos menores pressões de preços, o que gera alívio sobre o orçamento das famílias, por outro lado há dúvidas sobre a manutenção do atual patamar do Auxílio Brasil bem como do próprio mercado de trabalho num ambiente de juro elevado.
O professor Maurício Weiss, da UFRGS, destaca que alguns mecanismos usados para ativar a economia no país, como o aumento do valor repassado via Auxilio Brasil, podem diminuir o percentual de famílias inadimplentes. No entanto, ele destaca que essas ferramentas teriam efeito maior em um cenário econômico menos pressionado por juros altos.
Dicas para organizar as contas
Wendy Haddad Carraro, professora do Curso de Ciências Contábeis da UFRGS e coordenadora de programa de extensão em educação financeira na universidade, recomenda:
- Na impossibilidade de pagar a dívida, tente negociar com os credores novos prazos e com parcelas que caibam no seu orçamento
- Antes de negociar a dívida, coloque todas suas contas no papel. É importante saber quanto você pode pagar mensalmente
- Priorize as contas com valores mais altos em um cenário onde não é possível quitar tudo. Dívidas mais caras tendem a ter juros maiores
- Analise se é interessante contrair novo empréstimo com juros menores para quitar dívida atual com parcelas maiores e taxas mais altas
- Evite o atraso no pagamento e o pagamento mínimo da fatura do cartão de crédito, pois isso gera juros mais elevados.
- Se possível, não use o cheque especial, que tem juros muito elevados. Em casos especiais, tente aproveitar dias sem custo financeiro.
Em GZH
Imagem em Pixabay.
Notícia publicada originalmente aqui .
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