Opinião
Como uma boa logística ajuda a aliviar a dor nas tragédias
Como uma boa logística ajuda a aliviar a dor nas tragédias
De LUIZ RENI MARQUES*
Esse meu artigo de estreia na RED deveria ser dedicado a contar um pouco da trajetória da Logística. Um breve relato desde a antiguidade, na organização que permitiu a construção das pirâmides do Egito e no sucesso das legiões romanas, por exemplo, até sua adoção hoje nas mais diversas organizações públicas e privadas, com o objetivo de aumentar o desempenho e a qualidade e reduzir os prazos e os custos das atividades.
A tragédia provocada pelas inundações do Rio Taquari e seus afluentes no Sul do Brasil, deixando, até o fechamento desse texto, 47 mortes e prejuízos ainda incalculáveis, que somarão milhões de reais, mudou minha pauta. Visitei a região em 2019, pesquisei e ouvi empresários e trabalhadores para o meu livro sobre a hidrovia gaúcha “O Mar de Dentro no Continente de São Pedro”. Fui alertado para problemas como o sucateamento de equipamentos e instalações e os escassos investimentos realizados para manter e melhorar a infraestrutura e a cadeia de suprimentos e garantir a segurança no transporte.
Mas o que tem a ver uma catástrofe causada pela natureza com a chamada “ciência dos detalhes”? Sim, é dessa forma que a logística vem sendo chamada desde que passou a ser incorporada pela academia a partir da decisão do tenente Rogers que, em 1888, introduziu o tema como matéria na Escola de Guerra Naval dos Estados Unidos. Atualmente, os princípios logísticos são utilizados por governos, empresas e as mais diversas entidades, fundamentados em planejamento, visibilidade, gestão e monitoramento. Então, tem tudo a ver, concluiria alguém com razoável conhecimento sobre o assunto.
O Japão foi atingido pelo terremoto Fukushima em 2011, um tsunami que fez emergir ondas de mais de 10 metros de altura no litoral do Oceano Pacífico, matando 19 mil pessoas e deixando um rastro de destruição. Especialistas acreditavam que seriam precisos vários anos para a recuperação. A reconstrução, no entanto, consumiu apenas 60 dias, incluindo prédios, rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. A rapidez foi possível graças a um profundo estudo das necessidades da comunidade e de um planejamento adequado para a realização das obras.
Não satisfeitos com o rápido reerguimento, os japoneses analisaram o que estava errado antes e a responsabilidade de cada um na tragédia, especialmente as autoridades. A partir dessa investigação, ergueram um rigoroso sistema de defesas ao longo da costa. No ano passado, novo terremoto, com magnitude semelhante, assolou a mesma região. Desta vez, os mortos foram dois e os prejuízos infinitamente menores. O projeto executado com base em princípios de logística contemporânea estava aprovado. Mesmo a usina nuclear de Fukushima, uma das 55 em operação no Japão, e que teve destruídos alguns dos seus reatores, assustando a população no desastre anterior, resistiu incólume em 2022.
Mais do que procurar culpados, a hora é de respeitar os mortos pela tragédia gaúcha e discutir seriamente os problemas causados pela inundação dos nossos rios, que em menor ou maior escala, são recorrentes, e buscar soluções que passam por um planejamento logístico adequado da ocupação, produção e circulação das pessoas e das mercadorias nas áreas ribeirinhas, bastante degradadas. E isso deve ser implementado com a adoção de medidas de prevenção efetiva de possíveis tragédias, o que não será alcançado se o comportamento de alguns governantes se resumir a vestir coletes novos e vistosos e conceder entrevistas cheias de dados que poucos conseguem entender.
*Estudou Direito e História. Formado em Jornalismo. Foi repórter em Zero Hora, Jornal do Brasil, o Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Senhor e Isto É, e correspondente free lancer da Reuters, entre outros veículos de comunicação. Redator e editor na Rádio Gaúcha, diretor de redação da Revista Mundo, professor de Redação Jornalística na PUCRS e assessor de imprensa na Câmara dos Deputados durante a Assembleia Nacional Constituinte. Atualmente edita blog independente.
Imagem em Pixabay.
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