Opinião
Um poeta regionalista, gaúcho: Vargas Netto!
Um poeta regionalista, gaúcho: Vargas Netto!
De ADELI SELL*
Em primeiro lugar, a grafia que aparece na 3ª. edição de Tropilha Crioula que acabo de ler traz na capa ”Vargas Netto”, com dois “t”, e na página inicial está escrito M. Vargas Netto, edição de 1929, da Globo.
Seu nome completo: Manuel do Nascimento Vargas Netto, filho de Viriato e sobrinho de Getúlio Neto. Foi poeta, jornalista, advogado e radialista. Nascido em São Borja como a clã Vargas, estudou no Julinho em Porto Alegre e se formou em Direito na UFRGS.
Ele coloca na página inicial: Versos gauchescos. Sim, seus versos, no Tropilha Crioula, são gauchescos, pois cantam a vida, o universo, o pampa, o homem simples da campanha, das lonjuras, seus afazeres e seus amores.
Mais: dedica o livro a Alcides Maya, um dos precursores na Literatura a falar do homem interiorano, ocupando a cadeira 4 da ABL, o primeiro gaúcho, por sinal.
Em muitos de seus poemas, depois do título, ele reverencia um artista local, como Roque Callage, Aureliano de Figueiredo Pinto, Rubem de Barcellos.
Tenho lido e ouvido falar muito de música gaúcha, poesia gaúcha, mas na maior parte dos casos nós estamos falando de arte praticada no solo do Rio Grande do Sul, ou seja, rio-grandense.
Há na sinalização de Vargas Netto quando puxa para si o “Versos gauchescos” o imaginário do homem gaúcho, e a mulher como a china, chinoca, a paixão ou o amor, quase sempre passageiro ou roubado, colocando a mulher na garupa para se ir pampa afora.
Estamos falando das primeiras décadas de 1900. Ondina Fachel Leal, em seu clássico Os gaúchos, passados 60 anos diz quem é de fato “gaúcho”, o homem das lides campeiras, na pampa, seja no Brasil, Uruguai ou Argentina.
Em seu poema “Outra Charla”, dedicado ao poeta Mansueto Bernardi, faz questão de afirmar e reafirmar que o gaúcho não acabou:
(…)
E dizem sempre que o gaúcho acabou!
Veio 23…
E o que o gaúcho fez!?
Quanto caboclo bicharedo
Chegava rindo, como num brinquedo
e entreverava na peleia
Como quem entra num bochincho
(…)
Está na massa do sangue desse povo,
Porque o gaúcho é como o cinamomo,
duma ponta de raiz brota de novo
e um outro cinamomo ficará de pé.
(…)
Um gaúcho se mata e não se vence
(…)
De fato, Vargas Netto é um poeta regionalista, pois canta um universo localista, especial, onde a tropilha, onde uma pequena tropa de equinos “crioula”, ou seja, autóctone conduz o fio da meada do seu cantar.
E é verso gauchesco não só por falar do gaúcho como vimos, mas por falar desta alma pampiana, onde cavalo e homem são sempre um só, cavaleiro.
Quando se ouve certas músicas, quando nos deparamos com certos festivais, certos CTGs estamos bem longe desta cor autêntica, temos sim a transfiguração de um passado para um outro momento.
Todas as formas de arte devem ser vistas, analisadas, porém é mais do que na hora de no Rio Grande do Sul voltarmos a ler, estudar, lembrar para não se esquecer de onde vem as raízes que brotaram, num certo espaço, para tornar uma pessoa “gaúcho”.
*Escritor, professor e bacharel em Direito.
Imagem em Pixabay.
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