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Voto útil
Voto útil
De NUBIA SILVEIRA*
Nunca fui eleitora de Jair Bolsonaro. Não sou e, certamente, nunca serei. Aos meus amigos e amigas que se mostram
arrependidos de ter dado o seu voto ao 17 (PSL), em 2018, repito sempre a mesma coisa: o ex-capitão e ex-deputado federal de 1991 a 2018 só não mente sobre ele mesmo. Nunca escondeu que é a favor da ditadura, de um confronto entre brasileiros, em que morram, no mínimo 30 mil combatentes (será que se satisfez com a morte dos quase 700 mil compatriotas por Covid-19?), de uma economia desestatizante e de um Estado menor, entre tantas outras propostas destrutivas.
Também jamais negou ser um machista, que ama piadas com duplo sentido, envolvendo, principalmente, mulheres, que ataca sempre que pode, homossexuais, negros, defensores do meio ambiente e por aí vai. Portanto, não entendo os que dizem terem sido enganados nas últimas eleições. Esperavam por um salvador da pátria. Vibraram nas ruas e nas redes sociais com a vitória do homem que – diziam – governaria o país sozinho, sem o Centrão, escândalos e corrupção. Apossaram-se dos símbolos nacionais, como os únicos donos da verdade. Até agora, passados quase
quatro anos, nada do que esperavam aconteceu.
Não entendo os que ainda aplaudem o imobrochável (autodenomição), espalham suas mentiras, riem do seu machismo ultrapassado e se preparam para reconfirmá-lo na presidência. Vejo alguns amigos engolirem satisfeitos sua incapacidade de governar. Não sabe sequer escolher um bom ministro. Lembremo-nos sempre das trocas ocorridas nos ministérios da Educação e da Saúde e daquele outro que propôs “passar a boiada”, enquanto os
brasileiros sofriam e morriam de Covid-19.
Inacreditavelmente, estes eleitores e eleitoras ainda se deixam levar pelo ódio atávico ao PT. Justificam sua escolha dizendo – apesar de todas as provas – que o inominável não é corrupto. “Não voto em ladrão”, dizem todos, como se estivessem recitando um mantra. Preferem teclar o 22 (PL) na urna tão desacreditada pelo seu líder. Aceitam viver mais quatro anos sob um governante insensível, destruidor, desrespeitoso, autoritário, homofóbico, machista, preguiçoso (prefere andar de moto pelo país e desfrutar as maravilhas de uma praia paga com nosso dinheiro a ficar trabalhando oito horas no Planalto), parvo, ofensivo, transgressor, agressivo. Para descrevê-lo há muitos outros adjetivos. Cansei tentando achar uma só qualidade neste homem que vê inimigos em quem não pensa como ele.
Neste 7 de setembro do bicentenário da Independência, ele descumpriu as leis, sexualizou o discurso e se apoderou de uma data que pertence a todos nós brasileiros. Instigou seus seguidores contra o Judiciário. Em Brasília, ao lado de um dos empresários amigos e investigados, disse que agora todos sabem o que é o Judiciário. No Rio de Janeiro não seguiu a cartilha dos que comandam a sua campanha eleitoral e foi direto: “Sabemos como funciona o Supremo Tribunal Federal. Hoje vocês sabem como é difícil como presidente da República estar defendendo algo que é mais importante que a nossa vida, que é a nossa liberdade”. O que o presidente fala não se confirma em suas ações. Seus atos comprovam toda a sua incivilidade.
Sinto tristeza pelos meus amigos que votarão neste homem que defende a liberdade, colocando-a em perigo. Que ataca a nossa democracia de 37 anos apenas, usa Deus como seu cabo eleitoral e define as eleições como uma cruzada entre o bem (ele) e o mal (os outros). Faço força para entender como pessoas instruídas e informadas dão seu voto a um crápula, como nunca tivemos entre os candidatos à Presidência. Mas não entendo.
Por tudo isso que escrevi até aqui defendo o voto útil nestas eleições. Para que votar em candidatos que dificilmente atingirão os dois dígitos? Para que estender ao segundo turno o sofrimento de ouvir o inominável vomitar mentiras e mais mentiras? O sofrimento de vê-lo atacar os adversários de forma ilegal? Todos sabemos que sua campanha não se importa de pagar multas e retirar publicidade ilegal, depois de ela já ter cumprido com o seu objetivo: desgastar a imagem de seus inimigos.
Acredito que os defensores da democracia – não importa o partido – devem votar, já no primeiro turno, no candidato com mais condições de desalojar este homem perverso do Planalto.
*Jornalista, trabalhou em jornal, TV e assessoria de imprensa, em Porto Alegre, Brasília e Florianópolis. Foi repórter, editora e secretária de redação. É coordenadora do programa Espaço Plural da RED – Rede Estação Democracia.
Foto TSE
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