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TCU vê “indícios contundentes” de nepotismo na Fundação Habitacional do Exército
TCU vê “indícios contundentes” de nepotismo na Fundação Habitacional do Exército
Uma análise do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta para “indícios contundentes” de nepotismo, acúmulo de funções e ausência de licitação na Fundação Habitacional do Exército (FHE). A investigação cruzou dados de contratados pelo órgão com os de integrantes das três Forças Armadas, do Comando do Exército e do Ministério da Defesa.
O TCU encontrou 221 casos de relação de parentesco entre as instituições. Nove casos são de parentesco entre a cúpula da FHE e funcionários da associação privada Poupex, gerida pela fundação e responsável por créditos imobiliários para civis e militares.
A associação foi criada na década de 1980, junto com a FHE, para atender exclusivamente a fundação. A FHE tem como finalidade o financiamento de crédito imobiliário para militares.
Entre os casos, 50% das relações de parentesco são entre funcionários da Poupex e militares da alta patente – de coronel para cima. Além disso, quase 100 pessoas contratadas pela associação constavam nas folhas de pagamento das Forças Armadas ou da Defesa em 2020.
O parentesco mais comum é de pai, correspondendo a 28% dos casos, seguido pelo de tio, 22%. Os nove casos de parentesco entre a FHE e a Poupex são de filhos, de sobrinhos, irmão e sobrinho irmão.
As informações são de um acórdão entre o TCU de maio deste ano sobre o análise das contas de 2017 pela fundação. Os dados foram divulgados pela Folha de S. Paulo.
Acúmulo de cargos
A análise do TCU também apontou que os mesmos nomes ocupam a direção da associação e da fundação. O acúmulo de cargos se reflete no acúmulo de salários e benefícios: o salário da FHE é de cerca de R$ 17 mil e o da Poupex, mais de R$ 9 mil, em 2019. Em auxílios, foram quase R$ 1.500.
O corpo de servidores da FHE é composto pela direção e conselho administrativo. O resto da operação é feita pela Poupex. Em 2017, a fundação pagou à associação quase R$ 210 milhões para emprego de pessoal e quase R$ 35 milhões em gastos com informática.
A FHE é uma instituição pública de direito privado, ou seja, possui CNPJ próprio, mas presta contas aos órgão públicos. Além disso, possui relacionamento com a União e “privilégios não disponíveis a entidades privadas que exercem atividades de mesma natureza, conforme apontou o tribunal. O relatório mostra que foram R$ 37 milhões recebidos pela FHE em permutas com o Comando do Exército.
Para o relator da análise, Marcos Bemquerer Costa, é preciso fazer uma separação entre a FHE e a Poupex e uma adequação dos deveres legais, de seleção de pessoal, de aquisição mediante processo licitatório etc.
“A Poupex é o corpo que personifica a existência da FHE, e que não existe de fato a distinção da personalidade jurídica das duas entidades, inviabilizando a supervisão que a segunda deveria exercer sobre a primeira”, explicou o relator.
Especialistas em direito administrativo ouvidos pela reportagem da Folha de S. Paulo destacam a necessidade de se seguir as determinações dadas pelo TCU sobre a compatibilização do estatuto da Poupex para cumprir as normas legais. Sobre o nepotismo, o mestre em direito administrativo Raphael de Matos Cardoso afirma que não há previsão no direito privado, apenas no público. Para o especialista, o que pode acontecer é o conflito de interesses.
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