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Opinião

A casa caiu

A casa caiu

Artigo por RED
18/08/2023 13:05 • Atualizado em 20/08/2023 23:24
A casa caiu

De PAULO TIMM*

O depoimento do hacker Delgatti, ontem, na CPI confirmou o velho dito de que sabe-se como começa uma Comissão de Inquérito, mas nunca se sabe onde vai parar. A CPI dos Atos Golpistas de 8 de janeiro foi uma proposta infeliz dos bolsonaristas animados com a possibilidade de reverter o óbvio: sua própria responsabilidade sobre aquele atentado aos centros do poder republicano, atribuindo-a a falha ou até intenção do novo Governo Lula.

O próprio Presidente Lula evitou a criação da CPI mas, afinal, foi tanta a pressão dos bolsonaristas que acabou liberando sua bancada a aceitá-la. Deu no que deu: A CPI vai acabar incriminando não só os seguidores do ex-presidente, como ele próprio. Já está inelegível pelo TSE, agora corre o risco de ser preso e condenado como responsável por múltiplos crimes contra a Sociedade e o Estado Democrático. As acusações começam lá na sua recusa em administrar a pandemia, passa pela sua campanha contra as urnas eletrônicas e ataques a membros da Suprema Corte, atravessam seu comando sobre os ataques de 8 de janeiro e culminam na rocambolesca venda de joias do Estado em benefício próprio.

O pronunciamento do hacker, embora sujeito a confirmações já em curso pela Polícia Federal foi, para Bolsonaro, o que foi a entrevista à Veja por Pedro Collor, irmão do então Presidente Collor e que o levou ao impeachment em 1992; ou o que foi a revelação da participação do famoso Chefe da Guarda Pessoal de Vargas – Gregório – no atentado que levou à morte o Major Vaz, nos idos de 1954, levando o Presidente ao suicídio. Bolsonaro desmentiu imediatamente as declarações de Delgatti mas não nega o encontro com este criminoso e seu encaminhamento ao Ministério da Defesa. Inútil. Dificilmente escapará ileso. Pior, a trama do golpe contra a democracia tende a ser revelada em maiores detalhes com a revelação de conversas de Bolsonaro, sua esposa, do general MAURO LORENA CID e do próprio CID, já autorizadas pela CPI e Supremo, entre altos membros do Governo Bolsonaro, inclusive membros do Alto Comando das FFAA. Pior, o Cel. Mauro Cid já cedeu diante do envolvimento do pai em todo este processo e decidiu falar. Está negociando uma confissão à POLICIA FEDERAL e será novamente convocado à CPI.

Para ele, CONFISSÃO é melhor do que DELAÇÃO PREMIADA, que poderia leva-lo imediatamente a uma Tribunal Militar. Dirá que negociou as joias a mando do ex-presidente e que lhe entregou os recursos obtidos. Igual, dificilmente escapará à expulsão do Exército. Mais um mau militar na lista que começa com o próprio Bolsonaro, que recebeu do General Geisel tal acusação e que não honram Caxias, Deodoro, Floriano Peixoto, Rondon e Henrique Teixeira Lott… O indiciamento judicial de Bolsonaro, doravante, será inevitável e não está excluída sua prisão preventiva para evitar sua interferência na Justiça.

Trata-se, com efeito, de um escândalo que dificilmente o poupará de desgaste político junto aos seus próprios seguidores. E um inédito momento para as FORÇAS ARMADAS diante da História que terá que enfrentar o envolvimento de oficiais superiores em comando com intenções golpistas em conluio com Bolsonaro. Nem a redemocratização dos anos 80 conseguiu emparedar aqueles que prenderam e arrebentaram durante o regime militar. Agora isso pode acontecer levando à expulsão do Exército não só o CEL MAURO CID mas outros envolvidos.

Terá sido o preço da vã tentativa de saudosistas das armas de tentar recuperar o irrecuperável: O Golpe de 1964. Com o ocaso Bolsonaro, 1964 e seus algozes, como o torturador Cel Brilhante Ustra, irão, enfim, definitivamente, para a lixeira da História. O Brasil, entretanto, renasce disso tudo revigorado democraticamente. Fomos mais longe do que a República de Weimar e da próprio República dos Estados Unidos em impedir a consagração do extremismo de direita. VIVA A DEMOCRACIA E SUAS INSTITUIÇÕES!


*Economista.

Foto: Reprodução.

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