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Brasil registra terceiro caso de gripe aviária
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Caso foi confirmado na Ilha do Governador, no estado do Rio de Janeiro Foi registrado no país o terceiro caso de ave silvestre migratória contaminada com influenza aviária (H5N1), a chamada gripe aviária. O governo do Rio de Janeiro informou na noite deste sábado, 27, que o trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus) foi encontrado na Ilha do Governador, zona norte do estado. O Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA-SP) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fez a análise do material da ave que foi recolhida, por profissional especializado, na última terça-feira, 23. O  Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) das secretarias de Estado de Saúde (SES-RJ) e municipal de Saúde do Rio de Janeiro também atuam no caso, monitorando as três pessoas que estiveram presentes no recolhimento do animal. “Até o momento, nenhuma delas apresenta sintoma gripal e, por isso, não foram colhidas amostras para exames”, apontou o comunicado. Os outros dois casos de gripe aviária no país foram identificados neste mês no estado do Rio, e trata-se de duas aves silvestres da mesma espécie, encontradas em São João da Barra, no Norte Fluminense, e em Cabo Frio, na região dos Lagos. Com isso, as ações de monitoramento e prevenção para evitar a disseminação do vírus no estado, segundo autoridades estaduais, foram intensificadas. Na segunda-feira passada, 22, o Ministério da Agricultura decretou emergência zoosanitária em todo o território nacional, a fim de evitar que a doença chegue à produção de aves de subsistência e comercial, além de preservar a fauna silvestre e a saúde humana. Atenção A Secretaria de Estado de Agricultura chamou atenção para a necessidade de a população evitar contato direto com aves caídas, mortas ou não, domésticas, silvestres/exóticas e migratórias, além de mamíferos aquáticos de qualquer espécie, além de comunicar imediatamente ao Núcleo de Defesa Agropecuária da região ou à Coordenação de Vigilância Ambiental do seu município qualquer suspeita de animal contaminado. Aos avivultores, foi sugerido que intensifiquem as medidas de biosseguridade das granjas. Foto: Cláudio Dias Timm/Wikimedia

Meio Ambiente

COP30 no Brasil será marco na diplomacia do clima, mas sucesso depende de participação popular
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Especialistas veem oportunidade de cúpula mais democrática, enquanto ativistas amazônidas preparam mobilização para 2025 O Brasil sediará pela primeira vez uma cúpula mundial do clima das Nações Unidas, o evento mais relevante do segmento. De forma inédita e emblemática, a COP30 acontecerá em novembro de 2025 em Belém (PA), uma metrópole no coração da floresta amazônica, seis anos após o governo Bolsonaro se negar a receber o encontro no país. A COP é um evento anual que reúne dezenas de milhares de autoridades governamentais, cientistas, organizações e ativistas de todo o mundo. A realização em solo brasileiro coloca o país como centro da discussão sobre como salvar o planeta. Especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato afirmam que a conferência poderá ser um marco histórico para a diplomacia mundial do meio ambiente e tem o potencial de gerar resultados concretos em termos de proteção dos biomas e diminuição das emissões de carbono. Mas a oportunidade de mudanças reais pode ir por água abaixo se não forem ouvidas as populações indígenas, comunidades tradicionais e moradores pobres das áreas urbanas da Amazônia.  Ativistas amazônidas alertam que é preciso incluir os moradores locais nas discussões técnicas e políticas. Brasil chega fortalecido se fizer a lição de casa Para Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima (OC), o Brasil chega fortalecido se conseguir manter os primeiros resultados positivos na proteção da Amazônia. No bioma, o desmatamento diminuiu 68% em abril de 2023, primeira grande redução no governo Lula, após um início de mandato marcado por números negativos. "Isso é importantíssimo para a conferência porque o país sede, no caso o Brasil, é quem preside as negociações e os trabalhos. É ele quem pode pressionar os delegados, os presidentes, representantes dos outros países, para serem mais ambiciosos, para colocarem soluções mais concretas em cima da mesa", avalia Astrini. O otimismo de Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), reside no fato de que o evento em Belém rompe com a lógica de realização de COPs em países autoritários, "como no caso do Egito e Emirados Árabes", segundo ele. Para o presidente do Proam, a participação democrática nas conferências do clima é um elemento fundamental para impulsionar a efetividade dos acordos climáticos. "O Brasil, como um país de uma economia emergente, pode reivindicar mais, e o governo tem mais poderio em termos de decisão", analisa. "A realização da COP no coração do maior ecossistema florestal do mundo, que detém a maior biodiversidade, é emblemática não só para o Brasil, mas para o mundo, porque há uma imersão na perspectiva de proteção do ecossistema. É simbólico, visceral e importantíssimo que se tenha esse vínculo local de envolvimento da população e do ecossistema", aponta Carlos Bocuhy. A COP tem que ser também para as baixadas Em fevereiro deste ano, Belém (PA) sediou um encontro climático menor e mais discreto, a chamada COP das Baixadas. Como os encontros da ONU são restritos a convidados, a proposta foi aproximar a discussão ambiental das populações periféricas da Amazônia, que sofrem na pele as piores consequências das mudanças no clima. Um dos idealizadores da COP das Baixadas e morador da capital do Pará, o ativista Jean Ferreira, aponta que a realização da cúpula em Belém não é garantia de mais participação popular no tema. "Mesmo no Brasil, os problemas de participação da COP serão os mesmos. Essas conferências muitas vezes se dão no território apenas de forma geográfica, não de forma participativa, às vezes nem mesmo representativa", critica Ferreira. Diante do desafio, a coalizão COP das Baixadas, que reúne 20 organizações populares, prepara uma mobilização para marcar o evento em Belém. Os movimentos discutem se atuação se dará no interior da COP30 ou de forma paralela. "Os políticos normalmente estão mais preocupados em atender os requisitos hoteleiros dos sheiks árabes", ironiza o ativista. "Então o desafio de fazer a discussão continua o mesmo, mesmo com um governo federal simpático à questão socioambiental." Sem participação popular não há justiça climática Marcio Astrini, do Observatório do Clima, concorda que o Brasil perderá muito se não contemplar a questão social nas tratativas. Sem isso, a reivindicação por mudanças reais na política de emissão dos países ricos perde força. Já está claro, segundo ele, que sem pressão popular não haverá medidas concretas para frear o desastre climático. "A gente precisa fazer um encontro em que as populações indígenas, as populações tradicionais e os movimentos sociais estejam presentes. Que eles façam pressão, porque tem que ser uma COP marcante, tanto do ponto de vista de negociação, quanto da participação social." Jean Ferreira, da COP das Baixadas, diz que a cúpula do clima em Belém pode impulsionar as reivindicações de populações marginalizadas em territórios vulneráveis da Amazônia, rural e urbana. A crise climática, lembra o ativista da Amazônia, afeta a todos, mas de forma extremamente desigual. "No mundo inteiro estão falando sobre nossos territórios, mas tem gente morando aqui. Estão falando da foz do rio Amazonas, onde tem culturas e economias dependentes daquele lugar. Estão falando sobre carros elétricos para localidades onde as pessoas morrem por questões mais básicas. Por isso é preciso fazer justiça climática", defende Ferreira. Matéria do Brasil de Fato Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Politica

Marco temporal: entenda por que projeto ameaça 63% das reservas indígenas
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De Congresso em Foco Na próxima semana, a Câmara dos Deputados planeja votar o mérito do Projeto de Lei 490/2007 (PL 490), levando ao plenário uma antiga disputa entre lideranças indígenas e ruralistas. O relatório do deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA) estabelece o ano de 1988 como marco temporal de demarcações de terras indígenas no Brasil. Se aprovado, ele revoga as delimitações estabelecidas desde então, o que representa cerca de 63% das reservas estabelecidas ou em disputa. O eixo principal do relatório consiste em atribuir uma interpretação específica ao artigo 231 da Constituição, que delimita os critérios para a demarcação de terras indígenas. O relator considera que, pelo caput do artigo, ao dar conhecimento “às terras que tradicionalmente ocupam” os indígenas, o critério para essa ocupação seria o momento da elaboração da lei, ou seja, que o artigo estabelece um marco temporal. Arthur Maia considera esse critério como uma questão juridicamente pacificada, ressaltando uma série de decisões judiciais em que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) adotaram o marco temporal como critério de demarcação. Lideranças de movimentos indígenas, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) já argumentam que esse entendimento é falacioso, uma vez que a Corte não apenas nunca decidiu sobre o critério de forma terminativa, como também já autorizou outras demarcações por meio de outros critérios. Além de restringir o critério temporal para a demarcação de terras indígenas, o projeto também estabelece uma série de novas limitações. Fica vedada a expansão de terras indígenas já demarcadas; a delimitação deverá ser feita em acordo com governadores e prefeitos; proprietários de terras dentro da área delimitada passam a ter o direito ao contraditório. Além disso, a União deverá avisar com duas semanas de antecedência a entrada de peritos em propriedades em análise para demarcação. O projeto também flexibiliza o uso de terras em disputa para demarcação por parte de proprietários rurais. A construção de estruturas dentro do terreno ganha reconhecimento prévio de boa-fé, e o proprietário deve ser indenizado por elas em caso de desapropriação. Também cabe indenização aos proprietários cujas terras passem a ser reconhecidas como partes de reservas. Além disso, a entrada de não-indígenas na área sob análise é liberada até a conclusão do processo. Parlamentares ruralistas e o relator argumentam que essas mudanças consistem em mecanismos de garantia da segurança jurídica durante o processo de demarcação, de modo a não prejudicar investimentos feitos nesses locais. Movimentos de defesa dos povos indígenas já consideram que o texto descumpre uma série de preceitos constitucionais, como o usufruto exclusivo das terras indígenas pelos povos originários. Além disso, ressaltam que qualquer alteração nesses direitos só poderia ser feita na forma de emenda constitucional, e não de projeto de lei ordinária. Paralelamente, a questão do marco temporal é alvo de um processo no STF, cujo julgamento está previsto para conclusão no dia 7 de junho. A bancada ruralista espera, com uma aprovação prévia do PL 490, preencher o vácuo na legislação sobre a validade do marco temporal antes da audiência, de modo a fazer com que o processo perca materialidade. Confira a íntegra do relatório. Por Lucas Neiva. Foto: Tiago Miotto/Cimi Para receber os boletins e notícias direto no seu Whatsapp, adicione o número da Rede Estação Democracia por este link aqui e mande um alô.


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Governo garroteado

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Governo garroteado
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De JEFERSON MIOLA* O governo Lula está garroteado. Uma poderosa articulação do establishment age coesa na estratégia de inviabilizar e asfixiar o governo Lula. Nesta empreitada, a oposição ultradireitista e fascista anda de braços dados com certos partidos de direita que, pasme, inclusive comandam ministérios. Apesar disso, não só não apoiam, como votam contra o governo no Congresso. O establishment faz uma única concessão: Lula até pode governar. Desde, no entanto, que seja com o programa anti-povo e anti-soberania derrotado em 30 de outubro. A aprovação do regime fiscal com os votos de quase ¾ dos deputadocratas [372], apesar de celebrado pelo governo como êxito seu, na realidade é uma vitória do bloco dominante para preservar o brutal saqueio e pilhagem do Brasil, cujo padrão de espoliação tornou-se ainda mais indecente a partir da derrubada fraudulenta da Dilma em 2016. É a primeira vez na história, pelo menos desde o início da transição conservadora com José Sarney [1985/1990] até o governo fascista-militar presidido por Bolsonaro, que o Congresso desfigura uma proposta de estrutura administrativa concebida pelo governo eleito para materializar o programa vitorioso nas urnas. Os governos Collor, Itamar Franco, FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro viram suas propostas de estruturas ministeriais inteiramente aprovadas pelo Congresso, sofrendo apenas mudanças irrelevantes. Já com o governo Lula-3 a realidade está sendo ineditamente muito diferente. A Câmara procede mudanças drásticas nas Medidas Provisórias que tratam da montagem do ministério e de órgãos centrais do Estado. Esta conduta, aprovada por uma maioria circunstancial no Congresso, é absolutamente ilegítima, porque impede o presidente eleito com 60.345.999 votos governar o país e executar o programa de governo que angariou o apoio da maioria do povo brasileiro em eleição soberana. Os deputadocratas desfiguraram as propostas originais do governo Lula principalmente para as áreas de Meio Ambiente, dos Povos Indígenas e do Desenvolvimento Agrário. O objetivo, explícito, é impor o poder de ruralistas, desmatadores e financistas e favorecer o aprofundamento da exploração capitalista do gênero mais ecocida, criminoso, racista e genocida que existe. Arthur Lira, o chefe da deputadocracia e notório colaboracionista do fascismo, já avisara antes com todas as letras que o presidente Lula, “eleito com margem de votos mínima, precisa entender que temos Banco Central independente, agências reguladoras, Lei das Estatais e um Congresso com atribuições mais amplas”. De modo vertiginoso, nos últimos dias essa Deputadocracia “com atribuições mais amplas” produziu danos que serão irreparáveis, caso não sejam revertidos. Antes de desfigurar as MPs do governo que viabilizam a execução de políticas permanentes de Estado, os deputadocratas tinham anulado o decreto presidencial sobre o Marco de Saneamento. E agora também decidiram votar em regime de urgência o projeto que trata do Marco Temporal, ou seja, a decretação do extermínio dos povos indígenas. A situação política do governo é bastante precária. A coalizão de 11 partidos que elegeu Lula obteve 126 votos na Câmara dos Deputados – quórum insuficiente para aprovar qualquer norma, quanto menos para se proteger de impeachment ou para reverter os retrocessos constitucionais havidos a partir do golpe. Setores das oligarquias dominantes que embarcaram na “Arca de Lula” em 2022 para que ele não deixasse o país cair no precipício fascista e na barbárie absoluta, na realidade não têm compromisso fundante com a democracia. As oligarquias só têm compromisso exclusivo com a acumulação obscena de capital baseada na extração primitiva das riquezas naturais e no trabalho servil do trabalhador. A situação do governo Lula se complica a cada dia. Lula está mais cedendo poder e orçamento à deputadocracia que recebendo em troca. O governo Lula joga seu futuro nestes dias críticos. Para não ser refém incontornável da Deputadocracia corrupta e seu sistema de chantagem e extorsão, Lula precisa urgentemente fazer uma inflexão e investir na animação de um amplo movimento social de massas para sustentá-lo e para fazer frente à força da extrema-direita nas ruas. *Analista político. Artigo publicado originalmente no blog do autor. Foto: Evaristo Sá/SFP As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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Revisitando a opinião pública de Bourdieu: entre porcos e macacos

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Revisitando a opinião pública de Bourdieu: entre porcos e macacos
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De SANDRA BITENCOURT* Numa conferência proferida em Noroit (Arras) em janeiro de 1972 e publicada em Les temps Modernes, n. 318, em janeiro de 1973, Pierre Bourdieu provocou sua célebre problematização de que a opinião pública não existe. Desde sua gênese, a democracia estabeleceu uma relação indissolúvel com o público e com a imprensa que faz reverberar opiniões. A ideia de que há modos de capturar e dirigir a opinião coletiva está no cerne de toda estratégia política e ideológica. Bourdieu apresentou três postulados que as pesquisas que pretendem capturar a opinião pública assumem implicitamente: qualquer pesquisa de opinião pressupõe que todos podem ter uma opinião; ou, que a produção de opinião está ao alcance de todos; assume-se que todas as opiniões têm o mesmo peso; e por fim que quando se faz a mesma pergunta a todos parece haver um consenso sobre as questões. Bourdieu afirma que esses três postulados implicam numa série de distorções que são observadas mesmo quando todas as condições de rigor são atendidas na metodologia de coleta e na análise de dados. Para o autor, embora pareça democrático, nem todos podem ter uma opinião sobre tudo. Para ele, é possível demonstrar que o fato de acumular opiniões que não levam em conta a mesma força real leva à produção de artefatos desprovidos de significado. E ainda, não há de fato acordo sobre as perguntas que vale a pena fazer. O que a reflexão de Bourdieu nos mostra é que os problemas propostos pelas pesquisas de opinião estão subordinados a interesses políticos e isso pesa enormemente tanto no significado das respostas quanto na importância atribuída à publicação dos resultados. De 73 para cá, a topografia da comunicação e da circulação de informação e opinião mudaram drasticamente. A opinião pública não precisa mais ser convocada pelos institutos de pesquisa e nem está circunscrita à seleção, hierarquização e divulgação da mídia. Mas a opinião continua sendo instrumento de ação política. Se mantém a crítica de Bourdieu no sentido de que a captura e tratamento da opinião impõem a ilusão de que a opinião pública existe como uma soma puramente aditiva de opiniões individuais, ao impor a ideia de que existe algo que seria como a média do opiniões ou opinião média. “A "opinião pública" que aparece nas primeiras páginas dos jornais na forma de percentagens (60% dos franceses são a favor de...), esta opinião pública é um artefato simples e puro cuja função é disfarçar que o estado de opinião em um dado momento é um sistema de forças, de tensões, e que não há nada mais inadequado para representam o estado de opinião do que uma porcentagem”. Hoje, boa parte das pesquisas que buscam coletar posicionamentos de opinião foram substituídas pelo monitoramento nas Redes Sociais e pelo ranqueamento de hashtags e sistemas de buscas. O tensionamento, o embate, a disputa em torno de determinados temas é a expressão dos sistemas de forças em disputas. Alguns lugares, atividades e personagens são determinantes para colocar em perspectivas problemas sociais e políticas públicas. Como ensina Bourdieu, sabemos que todo exercício de força é acompanhado de um discurso cujo objetivo é legitimar a força de quem a exerce; pode-se mesmo dizer que a característica de todas as relações de força é a fato de que só exerce toda a sua força na medida em que se disfarça como tal. “Em suma, simplificando, o homem político é aquele que diz: "Deus está do nosso lado". Ele é o equivalente atual de "Deus está do nosso lado" é a opinião pública está do nosso lado", afirma Bourdieu. Esse embate, portanto, é extremamente vital sobretudo para os grupos extremistas que precisam, a despeito da verdade e dos fatos, constituir consciências, percepções e afetos para suas causas ou para ocultar seus verdadeiros interesses. Há ainda um outro aspecto valioso no texto de Bourdieu. O princípio a partir do qual as pessoas podem produzir uma opinião: o que ele chama de "ethos de classe", ou seja, um sistema de valores implícitos que as pessoas internalizaram desde a infância e a partir das quais geram respostas para os problemas extremamente diferentes. Diz Bourdieu: as opiniões que as pessoas podem trocar na saída de uma partida de futebol devem boa parte de sua coerência, sua lógica, ao ethos de classe. Uma multidão de respostas ao que são consideradas respostas políticas são realmente produzidas a partir do ethos de classe e podem assumir, ao mesmo tempo, um sentido completamente diferente quando interpretado na arena política. Assim, observamos que muitos protestam contra a politização de todos os temas, quando é próprio do debate público que determinados acontecimentos e disputas sejam analisados na arena política. O tema do racismo é um exemplo bastante contundente dessas dinâmicas que se atualizaram pelos dispositivos tecnológicos, mas que guardam lógicas já mapeadas. Segundo coluna de José Roberto Toledo, as buscas pelo assunto "racismo" foram 2,2 vezes maiores no Brasil do que na Espanha desde a demonstração racista da torcida rival contra Vini Jr. em jogo do Real Madrid em Valência, no domingo passado. Nas oito horas seguintes as buscas por termos relativos a "racismo" no Google cresceram 17 vezes no país. Proporcionalmente, o interesse foi maior no Rio de Janeiro, estado natal de Vini Jr. e do Flamengo. Mas as buscas por "racismo" cresceram acentuadamente em todo o país. O escândalo também repercutiu na Espanha, mas de modo diferente, menos indignado e ainda mais controverso. A pesquisa por termos relativos a "racismo" cresceu 13 vezes na Espanha. No Brasil, foi o segundo maior pico de interesse pelo tema racismo no país em 12 meses: o pico anterior também foi motivado por um ataque a Vini Jr, em setembro de 2022, por torcedores do Atlético de Madri. Normalmente, o pico de busca por racismo no Brasil, ocorre em novembro, no Dia Nacional da Consciência Negra. Mas um acontecimento num esporte como o futebol é capaz de acionar a opinião pública, que em movimento e em tensão, disputa posições. Os racistas brasileiros parecem mais cautelosos que os espanhóis. Mas nem todos. O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato, solicitou abertura de inquérito por injúria racial no STF contra as falas do senador do PL, Magno Malta, que convocou associações de animais para defender os macacos e ainda disse que se fosse um jogador negro entraria em campo com uma leitoa branca para mostrar que "não tem nada contra branco". É algo tão grotesco que custa compreender o público destinatário para ideia tão escrota. Certamente é dirigida aos racistas, mas até essa parcela se mostrou mais comedida. Em tempos de conexão intensiva e produção de opinião a rodo, vale lembrar as origens da ideia de público. O público, na era moderna, consistia em uma sociedade de faladores e polemistas, grupos que transitavam argumentos. Mas também sempre se tratou de espaço de poder político localizado entre o Estado e o setor privado, onde o poder poderia se vestir com as roupas de racionalidade porque constituía a área onde se podia transcender o interesse privado. As fronteiras entre o público e o privado se transformaram na pós modernidade, com a onipresença da cultura narcisista de massa, predomínio do instantâneo, da perda de fronteiras, gerando a ideia de que o mundo está cada vez menor através do avanço da tecnologia. Assistimos padrões de diferentes graus de complexidade: o efêmero, o fragmentário, o descontínuo e o caótico predominam. Não é uma disputa fácil, principalmente porque é imperioso entender o fenômeno. De todo modo, nem porcos, nem macacos seriam abjetos quanto a malta de racistas que nos assola. *Doutora em comunicação e informação, jornalista, pesquisadora e professora universitária. Imagem em Pixabay. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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O Plano Plurianual e a retomada da democracia participativa no Brasil

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O Plano Plurianual e a retomada da democracia participativa no Brasil
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De TARSON NÚÑEZ* No mundo inteiro se discute hoje a chamada “crise da democracia”. Em todos os continentes se multiplicam os casos de governos autoritários, a polarização e a radicalização política, o ceticismo dos cidadãos e a descrença nas instituições. Gestores públicos, pesquisadores, jornalistas e cidadãos demonstram uma preocupação crescente com a erosão das instituições democráticas. No Brasil este processo foi muito intenso na última década, fazendo com que o grande desafio atual seja o da reconstrução do convívio democrático. O novo governo tem este projeto como uma prioridade. Para Lula, a crise da democracia deve ser enfrentada com mais democracia, com a ampliação da participação dos cidadãos em todas as decisões governamentais. No dia 11 de maio, em Salvador, o governo federal lançou o processo participativo de discussão do Plano Plurianual (PPA). O chamado PPA Participativo é mais um passo no sentido de ampliar a participação dos cidadãos nas decisões do governo. Este plano, que estabelece as metas para os próximos quatro anos, vai ser resultado de um amplo processo de participação, que envolve discussões com organizações da sociedade civil e movimentos sociais, a realização de plenárias abertas em cada um dos 26 estados e uma plataforma na internet. Nesta plataforma todos os cidadãos poderão votar nos programas a serem priorizados e até mesmo sugerir novas propostas e programas. Esta é mais uma iniciativa voltada para o estabelecimento de uma dinâmica mais intensa de participação dos cidadãos nas decisões do governo e é também o primeiro passo de um Orçamento Participativo em nível nacional. O PPA participativo faz parte de um contexto maior de recuperação dos espaços de participação democrática no Brasil. Desde a sua posse, em janeiro, o governo já vem revitalizando os Conselhos Setoriais de políticas públicas, que vinham sendo esvaziados e descaracterizados desde o golpe de 2016. Agora estes conselhos estão novamente ativos e retomando a dinâmica de realização de conferências de políticas públicas em nível municipal, estadual e nacional. Além disso Lula recriou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, com a participação de 86 representantes de organizações sociais, instituições e movimentos sociais de todo o país. Este conselho é um espaço de debate com a sociedade civil acerca de um projeto de futuro para o país. Todas estas iniciativas têm como pano de fundo a criação de mecanismos de participação direta dos cidadãos nas decisões, ou seja, a ampliação e aprofundamento da democracia. Além disso o governo vem criando estruturas voltadas para garantir que a construção das políticas públicas em nível federal conte sempre com espaços de participação direta da cidadania. No âmbito da Secretaria Geral de Governo foi criada a Secretaria Nacional de Participação Social, um espaço de que tem como objetivo articular as ações e estruturas participativas em todo os órgãos da administração direta e indireta da União e propor a sistematização da participação social no âmbito governamental. Esta Secretaria coordena o Fórum Interconselhos, que aglutina as representações da sociedade civil em todos os conselhos setoriais e que se constitui em mais um espaço de interlocução do executivo com a sociedade civil organizada. É neste contexto de ampliação dos mecanismos de participação que se insere o processo do PPA Participativo. Segundo a legislação brasileira o PPA é a primeira das leis orçamentárias, um plano que deve estabelecer os programas de políticas públicas e os investimentos do governo para os próximos quatro anos. O PPA é a base a partir da qual se constroem as leis orçamentárias anuais. Nele devem constar todos os programas que deverão ser desenvolvidos pelo governo nos quatro anos subsequentes, com suas metas e indicadores de monitoramento. Além disso todos os grandes investimentos do governo, aqueles que têm uma duração superior a um orçamento anual, devem estar explicitados no PPA. O Plano Plurianual dialoga também com a redução das desigualdades regionais no país, pensando iniciativas voltadas para as regiões menos desenvolvidas, além de incorporar dimensões transversais, incorporando temas como políticas para mulheres, para a promoção da igualdade racial, criança e adolescente, pessoa com deficiência, água, primeira infância, entre outras. A construção do processo participativo do PPA foi construída com a participação das representações da sociedade civil que se articulam no Fórum Interconselhos. Este Fórum que foi criado em 2011 para estabelecer um espaço de debate transversal das políticas setoriais, teve seu funcionamento interrompido em 2017 e foi retomado agora, participando do processo do PPA. O Fórum Interconselhos foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014. O prêmio United Nations Public Service Awards (UNPSA) apontou a importância da iniciativa na contribuição para o Plano Plurianual no Brasil. No PPA Participativo de 2023 o Fórum será um dos espaços fundamentais da elaboração do Plano. Além desta discussão com os representantes nacionais da sociedade civil organizada, a construção do PPA Participativo passa também pela realização de Plenárias Estaduais, que serão realizadas em todos os estados da federação. Na sua primeira semana de atividades, que envolveu os estados da Bahia, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, mais de 9 mil pessoas estiveram presentes nestas reuniões. Nas plenárias são apresentadas e debatidas propostas de interesse de cada um dos estados, que deverão ser consolidadas na dimensão territorial do PPA. O público-alvo preferencial das plenárias são representantes da sociedade civil organizada, que tem nestas reuniões um espaço onde podem incidir sobre o planejamento das políticas e programas federais. Atividades deste tipo já tinham sido realizadas nas discussões dos PPAs de 2012-2015 e 2016-2019 e estão sendo retomadas no PPA Participativo. A grande novidade deste ano é o estabelecimento de mecanismos que garantem a participação direta dos cidadãos neste processo de planejamento. O governo vai utilizar a internet e as novas tecnologias de informação para garantir que todo o cidadão interessado possa contribuir para a decisão de quais devem ser os programas a serem priorizados pelo governo federal. Através da Plataforma Decidim foi montado um sistema onde qualquer cidadão pode ter acesso ao processo de planejamento e manifestar suas preferências. Decidim é uma plataforma aberta e gratuita lançada em 2017, mantida e desenvolvida por uma comunidade de usuários com apoio da municipalidade de Barcelona. Através dela qualquer organização, grupo ou instituição, pode desenvolver um processo decisório democrático on-line. Na Plataforma Brasil Participativo o governo disponibiliza um conjunto de programas de políticas públicas nos mais diversos setores de atividade. Cada cidadão pode acessar a página, se inscrever utilizando seu cadastro no e-gov e selecionar três programas prioritários entre as alternativas oferecidas. Os votos ficam visíveis mostrando em tempo real os números do apoio a cada um dos programas. Além disso há também um espaço onde qualquer cidadão pode incorporar novas propostas que também podem ser votadas pelos cidadãos. Nas duas primeiras semanas a plataforma já receberam votos e propostas de mais de 39 mil cidadãos. Cabe agora à sociedade civil organizada e aos movimentos sociais ocupar os espaços que se abrem nos processos de decisão do governo. Os investimentos e as políticas públicas para os próximos quatro anos estarão sendo decididas agora, na elaboração do Plano Plurianual. Cada setor ou movimento deve se mobilizar no sentido de fortalecer as propostas que se sintonizam com as suas pautas. O impacto do voto popular é o que vai estabelecer a hierarquia das prioridades do governo. É a mobilização dos cidadãos, portanto, que vai garantir que determinadas pautas venham a nortear as políticas públicas. O PPA Participativo é um experimento sem paralelo no mundo. A implementação de um processo de participação ampla e direta dos cidadãos no planejamento público em um país de dimensões continentais nunca foi experimentada nesta escala. Não é um processo perfeito, pelo contrário, é uma metodologia que vem sendo desenvolvida em tempo real, com todos os limites que isto implica. Mas sem dúvida é uma inovação que contribui para ampliar os espaços de discussão democrática das políticas públicas. Neste sentido é uma proposta que contribui para aprimorar e aprofundar a democracia no Brasil. *Doutor em Ciência Política pela UFRGS e Pesquisador do Observatório das Metrópolis. Imagem: divulgação do PPA. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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Tina Turner, rainha do rock n’ roll, morre aos 83 anos

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Tina Turner, rainha do rock n’ roll, morre aos 83 anos
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Cantora americana considerada a rainha do rock n' roll, voz de hits como 'What's Love Got to Do with It', Tina Turner morreu aos 83 anos. A notícia foi confirmada pelo assessor dela na tarde desta quarta-feira, 24. A causa da morte não foi divulgada, o comunicado apenas cita que ela morreu "após uma longa doença" em sua casa na Suíça. Tina e o ex-marido, Ike Turner,  fizeram sucesso no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. A cantora se lançou em carreira solo nos anos 1980., emplacando sucessos como "The Best" e "We Don't Need Another Hero". De infância difícil, Anna Mae Bullock nasceu em uma família pobre dos Estados Unidos. Aos 15 anos, foi abandonada pelos pais e cantou em boates para se sustentar. Conheceu  Ike Turner com a banda The Kings of Rhythm em uma de suas apresentações. Anna Mae pediu para ser backing vocal da banda e em pouco tempo se tornou uma das vozes principais. Ike e ela decidiram formar uma dupla e, após se casarem, ela adotou o nome artístico Tina Turner. Após um casamento tumultuado, Tina decidiu se separar e recomeçar do zero. Sem dinheiro, morou com uma amiga e abriu shows para outros grupos famosos, como os Bee Gees. Apostou no rock, influenciada pelos Rolling Stones e por David Bowie, para voltar aos palcos. Além disso, adotou também um novo estilo, com suas marcantes roupas ousadas e cabelos loiros espetados. Tina ganhou oito prêmios do Grammy e vendeu mais de 100 milhões de discos em todo o mundo. Imagem: Steffen Schmidt/EFE

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O futebol como elemento de cooperação Brasil-Palestina

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O futebol como elemento de cooperação Brasil-Palestina
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De BRUNO BEAKLINI* Um dos trunfos da diplomacia brasileira para ressaltar a política externa do país é fortalecer as relações exteriores através do chamado “soft power”. Sempre foi uma característica da presença do  Brasil e até mesmo a ditadura militar (1964-1985) reforçou essa projeção (também ultrapassando os limites na difusão de um turismo predatório e misógino). Após a retomada da democracia formal, nossos diplomatas se esforçavam por demonstrar ao planeta que esta sociedade era saudável, com aspectos interessantes e consensuais – apesar das dificuldades econômicas e da desigualdade social. Fora o tenebroso período de Ernesto Araújo – o ex-chanceler que se orgulhava de ser um pária mundial – houve uma constante na exposição brasileira de uma agenda positiva. Dentro dos conceitos operacionais do “soft power”, temos a cooperação internacional em distintas áreas do conhecimento e atividades, sendo estas produtivas, culturais e também desportivas. No período da Guerra Fria – a Bipolaridade entre Estados Unidos e União Soviética – havia uma disputa também na geração de investimentos externos, projetos industrializantes e de modernização, assim como missões para desenvolvimento de áreas-chave, como educação tecnocientífica, saúde com vários graus de complexidade e o ciclo esportivo completo (da base ao alto rendimento). Dentre as experiências de convênios e missões científicas muito bem sucedidas, ressaltamos a educação, saúde e desporto desenvolvidos em Cuba através das freqüentes delegações soviéticas. A relevância deste aspecto da política externa ganhou um instrumento no Brasil desde a década de 1980, especificamente no ano de 1987, quando foi fundada a Agência Brasileira de Cooperação, durante o controverso governo de José Sarney (1985-1990).  Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o volume de projetos de cooperação e experiências bem sucedidas é bastante elevado. “A ABC, acumula a realização de mais de 7 mil projetos a 108 países da América Latina, Ásia, África, Europa e Oceania com participação de mais de 124 instituições brasileiras reconhecidas por sua excelência. Os principais projetos da cooperação do Brasil desenvolvem-se em áreas como administração pública, agricultura familiar, temas urbanos, ciência e tecnologia, cultura, defesa, desenvolvimento social, educação e alimentação escolar, indústria e comércio, justiça, meio ambiente, energia, pecuária, pesca, planejamento, saúde, segurança pública, trabalho e emprego.” Já a ideia-chave da cooperação internacional brasileira passa por uma demanda do país amigo, não sendo uma dinâmica de intervenção ou pretensamente, de alguma “missão civilizatória”, típica da prepotência ocidental – o mesmo arcabouço ideológico que fundamentou o colonialismo de europeus de fé judaica impulsionados por impérios ocidentais na ocupação  ilegal da Palestina. Deste modo, o conceito de cooperação do Brasil vai ao encontro do princípio da autodeterminação dos povos: “A cooperação ao exterior desenvolve-se exclusivamente em resposta a demandas oficialmente recebidas, por meio dos postos diplomáticas brasileiros, ou das representações estrangeiras em Brasília. O Brasil não voluntaria cooperação. Quando recebida a demanda, a ABC consulta instituições públicas e privadas brasileiras com expertise na área demandada para verificar a disponibilidade e interesse em compartilhar seu conhecimento técnico. Em seguida, iniciam-se as etapas para a elaboração do projeto, que envolve: diagnóstico técnico, elaboração conjunta com o país parceiro e instituições brasileiras participantes. O projeto é ainda submetido a parecer das consultorias jurídicas do MRE e das instituições parceiras e dele constam prazos, objetivos definidos, custos, etapas e produtos de cada uma das etapas. Ao longo da execução, as iniciativas passam por processos de acompanhamento e avaliação.” A Palestina demanda ao Brasil cooperação no desenvolvimento do futebol em todos os aspectos     A relação entre Brasil e a Palestina é antiga e remonta ao ano de 1975, quando a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) foi autorizada pelo governo do general Ernesto Geisel (1974-1978, sendo um governo ditatorial) a abrir uma representação na capital Brasília. No ano de 1993 – na esteira dos mal sucedidos Acordos de Oslo, mas na época ainda vistos como alguma possibilidade concreta – as autoridades brasileiras autorizaram a delegação especial palestina, cujo status  de embaixada foi equiparado em 1998, no último ano do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (19995-2001). A partir de 2004 é criada a representação especial em Ramala, passando a se chamar de Embaixada da Palestina em 2010. É esse esforço de representação diplomática que faz com que o Brasil, país de milhões de árabe-descendentes – e de 4 mil brasileiros que vivem na Cisjordânia (o número de nacionais residentes em Gaza sob cerco do inimigo não constam no portal do Itamaraty) – seja visto como novamente como um parceiro  confiável e com posições cada vez mais pró-palestinas. Diante do exposto acima, uma grande oportunidade se avizinha através da cooperação bilateral tendo como conteúdo o desporto mais popular do planeta. Vejamos. O ex-candidato a presidente da Fifa, o príncipe Ali bin Al Hussein, da Jordânia, viajou para a Cisjordânia ocupada no domingo 14 de maio de 2023 para inaugurar um estádio de futebol dedicado à lenda do futebol Pelé, distante 5 quilômetros da cidade de Belém. A visita formal, seguida de um amistoso sub-23 entre equipes palestinas e jordanianas foi realizada na ocasião. A meta anterior era outra e ainda mais ousada. A liderança desportiva palestina esperava a presença do presidente da FIFA – entidade máxima do futebol mundial – Gianni Infantino na inauguração. Uma das agendas permanentes do maior executivo do esporte mais popular do planeta é inaugurar estádios de futebol com o apelido consagrado de Édson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé. Segundo a reportagem da Agência de Notícias Brasil Árabe  a iniciativa partiu do ministro da Juventude e Esportes do país árabe, Jibril Rajoub. Por decisão palestina, o antigo Al-Khader Stadium – localizado na cidade de mesmo nome – passa a se chamar Pelé International Stadium Al-Khader. A autoridade ministerial também é presidente do Comitê Olímpico Palestino e tem como meta um convênio com o Brasil no âmbito do futebol e outros esportes. Importante ressaltar a relação com a representação do Brasil em Ramala, nos Territórios Ocupados em 1967, através do embaixador Alessandro Candeas.  Houve uma aproximação durante a Copa do Mundo do Qatar e esta se torna mais estreita com o falecimento de Pelé. A idéia da mudança de nome do estádio já acima referido vai ao encontro desta proximidade, visando ampliar a cooperação de Brasília com a população sob dominação estrangeira. A diplomacia de carreira e profissional intenta há quase dois anos a consecução de um memorando de entendimento entre o Brasil e a Palestina Ocupada para o desenvolvimento do futebol, ao menos nos Territórios Ocupados na Naksa.  Evidente que todos os passos foram bloqueados pelo governo do aliado sionista Jair Bolsonaro, mais interessado em negociar sistemas de vigilância, controle e espionagem através das relações com a praça financeira de Tel Aviv, nos Territórios Ocupados de 1948. O momento é propício e a tendência é que o Brasil tenha uma projeção cada vez mais influente no Sistema Internacional. O futebol brasileiro é um ativo de “soft power” de dimensões globais e podemos – devemos  – auxiliar a população palestina no desenvolvimento deste esporte, mesmo sob os rigores da ocupação  e da luta pelo fim do Apartheid Sionista. *Militante socialista libertário de origem árabe-brasileira, cientista político, jornalista e professor de relações internacionais. Artigo publicado originalmente no site MEMO (Monitor do Oriente Médio). Imagem: Charge em homenagem ao jogador de futebol palestino Mahmoud Sarsak , que ficou preso e tornou-se um símbolo da luta pela libertação da Palestina por ter jejuado por 92 dias em protesto contra sua prisão e para pressionar o governo israelense (Latuff) As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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Qual a conclusão que tiramos do conto “O Espelho e a Máscara” diante do episódio racista na Espanha?

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Qual a conclusão que tiramos do conto “O Espelho e a Máscara” diante do episódio racista na Espanha?
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De ALEXANDRE CRUZ* Depois de um tempo sem escrever em razão de uma correria massacrante do trabalho que, inclusive, me fez lembrar do  brilhante escritor e filósofo Byung-Chul Han, que fala com muita lucidez  sobre a falta de tempo para analisar e pensar dentro do sistema capitalista, retomo a escrever para tratar de um tema tão triste como o que ocorreu na Espanha. No conto O Espelho e a Máscara, Jorge Luis Borges  aborda a linguagem associada à inteligência.  Isso me remeteu ao que sucedeu no domingo passado no estádio de Mestalla, em Valência, na Espanha, cuja torcida que defende as cores do clube que leva o mesmo nome da cidade insultou em coro o jogador do Real Madri, Vinicius Júnior, que foi qualificado de mono, que em bom português significa macaco. Não foi a primeira vez que o atleta sofreu racismo nos estádios da Espanha, mas é a primeira que carrega algo inédito: a reação do jogador desnudou o país ibérico. Provocou reações, que, digamos, dividiram aquele país. A repercussão  começou no final do jogo, quando o treinador italiano Carlos Ancelotti, lembrado para ser técnico da Seleção Brasileira, adotou postura digna e substantivada de atitude, com um rosto muito mais sério que o habitual na entrevista coletiva. Um jornalista abriu a coletiva com uma pergunta sobre uma avaliação do jogo do qual o Real Madri perdeu de um a zero para o Valência. Ancelotti respondeu com um questionamento, que circulou e viralizou na internet: Queres falar sobre futebol  ou abordamos outro tema? O repórter sem entender  o porquê deste questionamento e muito provavelmente apanhado de surpresa, insistiu na avaliação do jogo. Carlos Ancelotti, afirmou que não queria hoje falar sobre o jogo em razão do fato  grave e denunciou o racismo que aconteceu com seu jogador. A repercussão foi além do gesto de inconformismo do jogador Vini. Não ficando somente na atitude, foi na fala do jogador sobre o racismo que sobrou para o presidente da Liga Espanhola,  Javier Tebas, seguidor do Vox, um partido de ultra direita, defensor do franquismo.  As máscaras caíram até em alguns nomes de esquerda como Gabriel  Rufián, da Esquerda República Catalã, que afirmou que o jogador cria motivos porque realiza provocações dentro do campo. Não está em questão a personalidade ou a postura do atleta, e sim de um crime  chamado racismo que busca destruir a dignidade humana de Vinicius. Este vírus letal que limita, confina e busca destruir a existência do negro em determinados espaços. A força da resposta do Vinícius Júnior aos racistas foi muito mais contundente que as manifestações das ruas. Provocou até um incidente diplomático entre Brasil e Espanha. A postura de Vini impôs que a classe política espanhola declarasse sobre o episódio. Determinou que o governo de Pedro Sanchez saísse  da zona de conforto para se posicionar, embora na avaliação deste articulista, foi uma resposta tímida diante da monstruosidade dos fatos.  A Ministra de Igualdade, Irene Montero, do Podemos, foi um pouco mais forte na sua resposta que o presidente espanhol.  Lula, na entrevista coletiva no Japão, foi um presidente solidário ao atleta e solicitou que seus ministros cobrem da Espanha medidas duras contra os racistas. Eu conversei com o Fran, Secretário de Relações Internacionais da Izquierda Unida, e o Juan Pi, que foi vereador em Galapagar, e ambos condenaram o racismo. No final da conversa, coloquei a posição lamentável do deputado federal e líder da Esquerda Catalã, e o secretário da IU afirmou que eu tinha razão da crítica ao Gabriel Rufián... Mas Borges, sim, que tinha razão no conto O Espelho e a Máscara, cuja conclusão da minha leitura e interpretação adaptada para este artigo é de que a linguagem dos racistas refletem a mecanicidade mental  brutal animalesca de quatro patas que não condiz com a inteligência. *Jornalista. Imagem em Pixabay. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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