De ADALMIR MARQUETTI*

O resultado do primeiro turno das eleições frustrou as expectativas de algumas pessoas de centro esquerda. A votação da extrema direita foi superior ao que indicava a grande maioria das pesquisas eleitorais. Dois conjuntos de fatores ajudam a entender o resultado da votação de candidatos da extrema direita no domingo.

Primeiro, o governo federal fez um esforço para diminuir a taxa de inflação com a redução do ICMS dos combustíveis. Os preços das commodities no mercado internacional se estabilizaram ou caíram nos últimos meses. Por exemplo, o preço do barril de petróleo caiu de cerca de U$ 120 em junho para próximo de U$ 80. A combinação entre os gastos dos governos estaduais, o aumento das transferências e a recuperação do setor serviços tem reduzido lentamente a taxa de desemprego. O resultado foi a queda do chamado índice de miséria no período recente. Contudo, há uma forte percepção de empobrecimento e perda de renda entre a população mais pobre no Brasil.

O índice de miséria é a soma entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego, tendo sido sugerido por Arthur Okun para os Estados Unidos no início da década de 1970. O índice funciona como um indicador de sucesso da política econômica e afeta a escolha eleitoral por parte da população.

Segundo, há um aumento da votação da extrema direita em diversos países no mundo. A recente vitória da extrema direita na Itália com a eleição de Giorgia Meloni, do partido conservador Irmãos da Itália, é um exemplo. Há outros, o “trumpismo” continua vivo nos Estados Unidos. O crescimento da extrema direita é um fenômeno mundial associado a crise econômica e a concentração de renda observada durante o neoliberalismo. Por outro lado, a votação de partidos de esquerda também aumentou em muitos países. Os políticos e os partidos que defendem o neoliberalismo perdem espaço na disputa eleitoral. No Brasil, o PSDB reduz a sua votação a cada eleição; nos Estados Unidos, aumentou a influência do Bernie Sanders no Partido Democrata.

É verdade que a vitória do Lula no primeiro turno foi mais apertada do que indicavam as pesquisas. Contudo, como a cientista política Jamile Tajra veiculou, o momento agora é de:

1. Reconciliação entre as forças progressistas e a terceira via;
2. Convidar as pessoas que se abstiveram a se associar a nossa base;
3. Fazer melhor conhecida a agenda de propostas;
4. Não alimentar a desinformação;
5. Manter a base mobilizada;
6. Responder aos ataques bolsonaritas;
7. Conquistar as ruas.

O fundamental é que temos um projeto democrático e inclusivo para o Brasil que foi vitorioso no primeiro turno por mais de seis milhões de votos. Agora, é preciso confirmar a vitória no segundo turno.

*Doutor, pesquisador e professor em Economia.

Imagem em Pixabay.

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