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Opinião

Um jornalismo que pulsa pela democracia

Um jornalismo que pulsa pela democracia

Artigo por RED
08/12/2022 04:50 • Atualizado em 10/12/2022 12:05
Um jornalismo que pulsa pela democracia

De SANDRA BITENCOURT*

Durante a cerimônia de inauguração de uma loja de produtos de baixa qualidade em Santa Maria, o empresário Luciano Hang, mais conhecido como Véio da Havan, fez diversos ataques à Universidade Federal, a UFSM, outrora orgulho inequívoco do Estado. O patético personagem disse, entre outras coisas, que a universidade pública formava comunistas, zumbis e idiotas. Houve silêncio das autoridades de Santa Maria (RS) e um tratamento jornalístico como se houvesse dois lados a assegurar expressão: a ciência e o empreendedorismo. Eram tempos de avanço necrófilo. O fato indignou o reitor da UFSM, Paulo Burmann na época. Mas era apenas um prenúncio, naquele novembro de 2019, de como o país seria sequestrado, desmanchado, envergonhado e corroído em todas as suas dimensões e estruturas. O que se seguiu foi literalmente morte, destruição e intensificação do fascismo. A tal ponto que o repulsivo deputado federal Bibo Nunes sugeriu a conveniência de queimar vivos os estudantes de uma cidade tão traumatizada pelo mais letal incêndio da história do país. A ideia odiosa chegou a ser classificada por alguns jornalistas como “destempero”. Mas há um jornalismo que pulsa pela democracia, que resiste, que forma jovens e combate o avanço autoritário.

Uma estudante do quarto ano de jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) venceu o 1º lugar na categoria Reportagem Individual por matéria sobre cobertura vacinal de gestantes no Rio Grande do Sul. A matéria Cobertura vacinal de gestantes no RS está abaixo da meta – e não é de hoje, de autoria de Samara Wobeto, feita sob mentoria de Luís Felipe dos Santos (Aos Fatos) e publicada no Matinal, foi a grande vencedora do Prêmio InfoVacina Trainee do programa de mentoria jornalística InfoVacina Trainee 2022, para jovens repórteres, da Agência Bori, com apoio do Sabin Vaccine Institute e do Instituto Serrapilheira.

Na categoria Reportagem Coletiva, o prêmio foi para jovens jornalistas de O Globo, TV Globo e BandNews FM que, juntos, publicaram matéria no Jornal da USP sobre como o Brasil desenvolve as suas próprias vacinas.

Ao todo, foram inscritas 24 matérias pelos 15 jovens jornalistas participantes do programa (com até três anos de experiência) de todas as regiões do Brasil.

Essa notícia tem aspectos a celebrar por vários motivos. Todas as matérias foram produzidas com mentoria de jornalistas experientes. Mas a autoria é de jovens e os veículos que publicaram a matéria têm diferentes modelos de negócios e inserção na sociedade. O Matinal jornalismo, que publicou a matéria vencedora, é exemplar. Surgem novos coletivos, formas inovadoras de financiamento que permitem o exercício da prática jornalística guiada pela sua função social, resistente, investigativa. Essa saudável transformação obriga também a mídia corporativa e os meios de referência a competirem com toda sua estrutura para “voltar” ao papel imprescindível do jornalismo que é informar, verificar a verdade dos fatos, ajudar a interpretar o mundo, garantir diversidade de vozes e em síntese fortalecer a democracia.

O segundo aspecto importante é o reconhecimento da necessidade da divulgação científica. O InfoVacina Trainee foi criado em 2021 por conta da demanda de cobertura qualificada sobre vacinas na pandemia. A iniciativa, informam os organizadores, foi formatada a partir da observação da falta de formação científica das Faculdades de Jornalismo e a necessidade de dar apoio aos jovens jornalistas interessados ​​em especializar-se em Saúde e Ciência. Vários outros campos precisam também de qualificação e amplitude de olhares.

Uma nova geração de jornalistas pode surgir com esta retomada democrática e republicana. É incontornável prestar atenção a isso. Precisamos estimular a qualidade das informações, das leituras de mundo, das posições colocadas. Porque a ignorância e a demência são atrevidas e já mostraram do que são capazes.

Viva a UFSM que resistiu. Entre quinquilharias e conhecimento, fizemos nossa escolha.


*Doutora em comunicação e informação, jornalista, pesquisadora e professora universitária.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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