Por CARLOS R. WINCKLER*

Ressacas pós eleição podem suscitar diferentes estados d’alma. Raiva, decepção com eleitores, busca de culpados que justifiquem o fracasso. E até análises comedidas, pensadas mesmo no calor da hora quando controlamos o amargor e as lágrimas. Mas há algo na derrota em Porto Alegre que pareceu diferente nesses dois dias pós a eleição. O silêncio da direita como tentativa de ocultar o crime. Não a discrição em comemorar, algo usual. Mas o silêncio da recusa em trocar qualquer palavra, qualquer comentário em espaços públicos. Bastava frequentar supermercados, restaurantes ou cafés. O império da mudez. No primeiro dia se sentia no ar o peso da mudez. Imaginei que fosse um exagero de minha parte em minhas frequentes caminhadas de quase flaneur pelas ruas de Porto Alegre. Nessa terça resolvi perguntar em cafés que frequento como tinham sido eventuais comentários de clientes. Nenhum, apenas small talks, conversas triviais daqueles que se sabia simpatizarem com a direita. O mesmo em restaurantes de razoável afluência, por mais que procurasse detectar conversas de mesas vizinhas. Até a usual algaravia tão brasileira parecia contida. Quem perdeu qualquer pudor foram os prefeitos eleitos pela direita. Por aqui mal terminada a apuração o mandatário reeleito expos sua determinação em privatizar o DMAE. Imagino seus eleitores, eventuais cantores de chuveiro, ensaboados e mudos sem água. Mas nos salões executivos de empresas e políticos venais comemorarão encharcados de champanhotas. A desgraça se veste de vulgaridade.

*Sociólogo. Graduado em Letras e Direito, com especialização em Mídia e Sociedade.

Imagem: Reprodução/ RBS TV

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