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Trump: o criador de inimigos
Trump: o criador de inimigos

Por RUY DE ALENCAR MATOS*
Donald Trump projeta sobre o mundo, fragmentos de sua sombria personalidade, criando inimigos imaginários e acendendo novas fogueiras neste já tão aquecido clima global, que queima Los Angeles, congela o Texas e ameaça todo o nosso planeta com catástrofes que se sucedem.
Em seu primeiro dia de posse ele vociferou, de modo histriônico, contra sete inimigos que criou e sobre os quais ameaçou usar a força de seu império militar e econômico.
O primeiro inimigo é o próprio planeta terra, contra o qual desferiu novamente o seu golpe predador, retirando os EUA do Acordo de Paris, que visa a combater o aquecimento global e retirando seu país também da OMS, responsável por mitigar os endêmicos problemas de saúde pública.
Paradoxalmente, o seu país é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa. Mas ele nega esta realidade, cientificamente demonstrada e, mais do que isto, ele pretende incentivar a perfuração do solo visando aumentar a produção de petróleo e gás, em contradição ao que os demais países estão fazendo, comprometidos com a agenda verde de geração de energia renovável.
O segundo inimigo de Trump é a Justiça Americana, sobre a qual desferiu o golpe do perdão presidencial aos 1.500 agitadores antidemocratas, condenados pela Justiça por depredarem o Capitólio, sede do legislativo dos EUA, para tentar impedir a posse de seu vitorioso opositor, o presidente Biden. De algozes, Trump tenta transformá-los em vítimas.
Nesta esteira de desqualificação do judiciário estadunidense, Trump manda revogar uma série de leis e normas federais, referentes à imigração, à política de apoio à diversidade, à cidadania natural, entre outras.
O terceiro inimigo criado por Trump é o México, histórico parceiro comercial, porém sempre incômodo vizinho, devido às constantes entradas de imigrantes ilegais, por suas porosas fronteiras. Em consequência de sua ordem executiva, milhares de pessoas que buscam melhores condições de vida em território estadunidense, viram seus sonhos cortados abruptamente, trazendo uma crise humanitária de enormes proporções.
O quarto inimigo imaginário de Trump é o Canadá, aliado e parceiro de sempre dos EUA, com quem mantém um sistema de trocas comerciais muito extenso e complexo, ao longo de séculos. Trump ameaça, não apenas impor pesadas tarifas aduaneiras contra o Canadá mas, até mesmo, anexá-lo aos EUA, transformando-o no 51º. estado americano. Isto representa um colossal desrespeito às leis internacionais e uma grande ameaça à paz regional.
Como aspirante a Napoleão Bonaparte, ele chega mexendo em quem está quieto, vivendo e trabalhando pacificamente, como são os canadenses, para criar um novo foco de conflito internacional, desnecessário e incompreensível.
O quinto inimigo artificial de Trump é o pobre e minúsculo Panamá, contra o qual dispara ameaças de tomar à força o lendário Canal do Panamá, por onde escoa boa parte do comércio marítimo. Trump tenta justificar esta decisão expansionista de seu império com a versão de que a China está dominando o Canal, em detrimento dos interesses estadunidenses. Na verdade, há dois portos administrados por empresas chinesas, assim como há também outros portos administrados por outras empresas de diferentes nacionalidades.
O sexto inimigo criado por Trump é a Dinamarca, à qual está vinculada a Groenlândia, seu foco de interesse. Trump quer comprar, ou tomar à força, a posse desta grande ilha situada no oceano Ártico, motivado por interesse militar e econômico. Os EUA já possuem uma base militar na Groenlândia, há muitos anos, que serve de anteparo à possíveis ameaças navais, russas ou chinesas. Entretanto, seu maior interesse imperial é anexar a Groenlândia aos EUA devido aos seus enormes potenciais minerais, especialmente o petróleo.
Finalmente, por enquanto, o sétimo inimigo criado por Trump é a China, com a qual os EUA mantém uma guerra comercial cada vez mais acirrada. Trump promete impor pesadas taxas de importação aos produtos chineses, que continuam sendo comprados avidamente pelos consumidores norte-americanos.
Há um desequilíbrio na balança comercial China-EUA desfavorável aos EUA, em centenas de bilhões de dólares. Apenas no mês de junho de 2024, os EUA amargaram um déficit de 32 bilhões de dólares, e esta marca tende a crescer.
A questão crucial é que a China promete retaliar os EUA se este aumentar seu protecionismo de forma agressiva. E ela fala com muita autoridade, pois é um dos maiores credores da dívida pública dos EUA, estimada em 36 trilhões de dólares. Deste valor colossal, a China mantém 25% em seus cofres.
Aliás, devido a esta situação, muitos analistas econômicos consideram inviável que Trump consiga implementar suas decisões de aumento de taxas de importação e de redução de impostos, devido ao peso da dívida pública americana, que obriga o governo a despender 1,3 trilhão de dólares anuais em pagamento de juros. Este valor já ultrapassa as despesas com a defesa, sempre tão priorizadas.
No decorrer deste ano, poderemos acompanhar até que ponto os desejos megalomaníacos de Trump irão se concretizar em ações efetivas.
De um lado, as forças políticas democráticas estão se articulando para criar uma barreira legal às suas ordens executivas, impedindo que o país entre em crescentes conflitos internos. De outro lado, a comunidade internacional também começa a se mobilizar para travar os arroubos imperialistas que ameaçam a paz mundial e a sustentabilidade de nosso planeta Terra.
*Ruy de Alencar Matos é psicólogo, escritor e mestre em Ciência Política e Relações Internacionais. É professor aposentado e autor de diversos livros, dentre os quais: Gestão e Democracia nas Organizações; Liderança Cidadã; Liderança Estratégica e Gestão Participativa.
Foto da capa:Reuters/Carlos Barria
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