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Opinião

Tempo da Criação lembra o compromisso com a casa comum

Tempo da Criação lembra o compromisso com a casa comum

Artigo por RED
12/09/2023 05:30 • Atualizado em 14/09/2023 09:51
Tempo da Criação lembra o compromisso com a casa comum

De EDELBERTO BEHS*

A biodiversidade “está sendo perdida a uma taxa nunca vista desde a última extinção em massa. A esperança de manter os aumentos médios de temperatura em 1,5 graus Celsius está desaparecendo”. O mundo está mudando rapidamente “para além da possibilidade de conserto”.

O alerta é do guia de estudos do Tempo da Criação, que vai de 1º de setembro a 4 outubro, período em que a família cristã se reúne para uma celebração mundial de oração, liturgia, reflexão e ação em busca da proteção da casa comum – o planeta Terra.

Para alcançar a paz na terra também é preciso alcançar a paz com a terra, as pessoas entre si. “Isso exigirá justiça”, proclama o guia. O tema deste ano remete ao profeta Amós (5,24): “Mas deixe a justiça fluir como um rio, a justiça como um riacho que nunca falha!” A família ecumênica é convidada a se juntar ao rio da justiça e da paz, a assumir a justiça climática e ecológica.

O material preparatório ao Tempo da Criação denuncia as nações do Norte Global, que “não cumpriram suas promessas de reduzir significativamente ou mitigar as emissões de aquecimento global, ou de fornecer compensação financeira por perdas e danos no Sul Global causados por mudanças climáticas”. Também não forneceram financiamento adequado para proteger a biodiversidade.

O texto lembra que os povos indígenas representam 5% da população mundial, “mas protegem quase 80% da biodiversidade remanescente no mundo”. Para os promotores do Tempo da Criação, “ainda há tempo para proteger o que resta e desacelerar o ritmo das mudanças climáticas”, o que exigirá compromissos financeiros e de redução de emissões dos países do Norte Global.

O programa de estudos instiga as pessoas que vivem no hemisfério Norte do planeta a pedir junto aos seus representantes eleitos que cumpram as promessas de formação de fundos para as comunidades mais vulneráveis afetadas pelas mudanças climáticas e para a preservação da biodiversidade remanescente. “Precisamos urgentemente nos unir para pedir aos nossos governos que cheguem a acordos globais vinculantes que eliminem o uso de combustíveis fósseis e alcancem uma transição energética justa e equitativa.”

O texto reconhece que o compromisso de criar um Fundo de Perdas e Danos na COP27, no ano passado, é “uma vitória das nações vulneráveis e seus representantes”, o que exigiu décadas de negociação. Agora, é preciso acompanhar esse processo e garantir que o fundo tenha financiamento adequado dos países mais ricos e que atenda as necessidades das comunidades que menos têm, em forma de subvenção e não de empréstimos, que também menos fizeram para causar mudanças climáticas.

O Tempo da Criação observa datas específicas. O 1º de setembro foi proclamado Dia de Oração pela Criação, da Igreja Ortodoxa Oriental, pelo patriarca ecumênico Dimitrios I, em 1989. A data foi acolhida por outras igrejas cristãs europeias em 2001, e pelo Papa Francisco para a Igreja Católica Romana em 2015. Na família católica, o 4 de outubro é o Dia de São Francisco, que a cristandade vê como uma inspiração e um guia para aquelas pessoas que protegem a Criação.

Em Genebra, o primeiro dia do Tempo da Criação foi celebrado com uma oração ecumênica global, reunida pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI). O secretário-geral do organismo ecumênico, rev. Dr. Jerry Pillay, trouxe reflexões sobre a Criação de Deus: “Seu espírito pairou sobre a face das águas primordiais e foi soprado na humanidade depois que Você nos fez igualmente à Sua imagem”. Mas nós “desvalorizamos a fina rede ecológica que Vocês teceram com tanto amor. Arrancamos a Sua árvore da vida e vendemo-la como troncos”.

Numa declaração conjunta, o Papa Francisco, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu e o Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, destacaram que “as gerações futuras nunca nos perdoarão se perdermos a oportunidade de proteger a nossa casa comum. Herdamos um jardim; não devemos deixar um deserto para nossos filhos”.


*Professor, teólogo e jornalista.

Imagem em Pixabay.

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