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Opinião

Precisamos conversar sobre lavagem cerebral

Precisamos conversar sobre lavagem cerebral

Artigo por RED
25/10/2022 15:43 • Atualizado em 27/10/2022 10:20
Precisamos conversar sobre lavagem cerebral

De MARCIA TIBURI*

Um dos grandes desafios do momento é superar a lavagem cerebral promovida por igrejas e meios de comunicação de massa, bem como certos políticos.

Difícil avisar as pessoas sobre o que está acontecendo e fazê-las parar para pensar, pois o sintoma mais claro da lavagem cerebral é o cancelamento do pensamento reflexivo.

É a função do pensamento que é destruída no que se chama de lavagem cerebral.

A linguagem de quem passou por lavagem cerebral se torna mecânica e repetitiva. A pessoa para de pensar, mas acredita que ainda pensa e que comanda suas palavras, sentimentos e atos, quando, infelizmente, se tornou um boneco repetindo ideias, ódios, e falas de outros que fazem o papel de ventríloquos, ou seja, de pastores de rebanhos, de guias de manadas. A “ventriloquacidade” das redes está a serviço do poder e quanto mais mentes forem esvaziadas, mas sucesso terá o empreendimento publicitário do momento, envolvendo igrejas de mercado e política.

É complicadíssimo explicar em linguagem simples como funciona a chamada lavagem cerebral. E mais difícil ainda explicar que o descrédito da expressão faz parte da coisa.

Difícil dizer “você está sendo enganado” e ser levado a sério quando as pessoas estão desesperadas por respostas prontas, por estarem profundamente apavoradas e mergulhadas no estupor. Difícil explicar que os “messias” chegam nesse momento para se apropriar do poder, mas precisam da colaboração de cada um como massa de manobra.

Falar em lavagem cerebral para muita gente dos mais diversos graus de escolaridade parece piada. Como explicar que a lavagem cerebral se tornou tão corriqueira que ninguém é capaz de perguntar como e por que perdeu sua capacidade de se perguntar, de discernir?

A lavagem cerebral é um termo técnico, usado em pesquisas envolvendo tortura física e mental. Mas como explicar que a produção discursiva de Bolsonaro e assemelhados, desde que ele elogiou o torturador Ustra publicamente em 17/ 04/ 2016, tem o objetivo de lançar as pessoas num pânico profundo, tão forte que não pode ser mencionado e que o controle de emoções como o medo faz parte da lavagem cerebral sem a qual não há manipulação de massa?

Como explicar que determinadas condições sociais favorecem esse esvaziamento do pensamento? Que a falta de educação, que a destruição da cultura, que a dominação pela fé, que a presença ininterrupta da televisão e uma entrega total à vida digital levam as pessoas a cancelarem sua subjetividade, ou seja, a caírem na máquina de lavagem cerebral das igrejas econômico políticas atuais, sejam templos, sejam meios de comunicação?

Precisamos conversar sobre lavagem cerebral. Todas e todos precisam entender como seu cérebro foi cancelado por choques mentais programados diariamente para enfraquecer seu discernimento e acelerar sua agressividade.  Entender isso ajudaria muito e poderia até salvar realmente a alma de alguém.


*Professora de Filosofia, escritora, artista visual.

Texto publicado originalmente no Brasil 247.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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