Opinião
Os produtos que consumimos por preços mais em conta por causa da navegação de cabotagem
Os produtos que consumimos por preços mais em conta por causa da navegação de cabotagem
De LUIZ RENI MARQUES*
Um copo de açaí batido com granola bem gelado pedido nos quiosques dos parques de Porto Alegre ou um prato de arroz branco soltinho guarnecendo o tambaqui grelhado servido nos restaurantes à beira do Rio Negro, em Manaus, custam praticamente o mesmo preço, cada um deles, nas duas cidades. E isso, ainda que os dois produtos viajem 10 mil quilômetros, da sua origem ao local de consumo, a distância percorrida pelos navios no transporte de cargas entre os portos das capitais do Amazonas e do Rio Grande do Sul.
Esses valores próximos são possíveis porque o açaí e o arroz são transportados via navegação de cabotagem, que une o Norte e o Sul do país, com rotas cumpridas por barcos capazes de carregar o equivalente ao que levam centenas de caminhões, e singram as águas do Rio Amazonas, de toda a costa brasileira, da Lagoa dos Patos e do Lago Guaíba. A cabotagem é o modal de transporte praticado ao longo do litoral de cada país, no Brasil, é complementado pelas generosas bacias fluviais e lacustres, e oferece benefícios competitivos em relação a outros meios, como o rodoviário.
As vantagens são muitas, começando pela maior capacidade de carga, uma vez que cada embarcação, de porte médio, carrega cerca de 1 000 teus em contêineres, equivalentes ao transportado por centenas de carretas, dessas que a gente vê rodando pelas estradas do país. Os barcos consomem aproximadamente oito vezes menos combustível que o caminhão, é seguro e pontual e ainda, ajuda a preservar o meio-ambiente, apresentando níveis reduzidos de poluição e de agressão à natureza porque são vias naturais.
A cabotagem contribui com 30% do que é transportado no Brasil, um percentual modesto levando em conta que as vias aquáticas potencialmente navegáveis do país somam mais de 40 mil quilômetros, uma das maiores do mundo. O ponto positivo é que esse volume vem crescendo de modo acelerado e pode alcançar o de outros países em poucos anos. As principais bacias hidrográficas nacionais são as do Amazonas e seus afluentes, a dos rios Paraná e Tietê e a formada pelos lagos Mirim e Patos e o Rio Jacuí e seus tributários, como o Taquari.
Viajei por toda a chamada Hidrovia Gaúcha, de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar a Cachoeira do Sul, Rio Pardo e Bom Retiro do Sul, para escrever o livro “O Mar de Dentro no Continente de São Pedro”, sobre a sua importância na povoação e desenvolvimento da antiga capitania de São Pedro do Rio Grande, e pelo Amazonas e alguns de seus afluentes e igarapés, fazendo reportagens para jornais e revistas. A comparação do potencial aquaviário do Brasil com o de outras regiões como as bacias do Rio Reno, na Europa e do Rio Mississipi, nos Estados Unidos, mostra ampla vantagem para o nosso. O aproveitamento, no entanto, é o inverso. Precisamos avançar muito para atingir o patamar ostentado por aquelas regiões.
O porto de Duisburg, às margens do Reno, na Alemanha, é um dos mais movimentados terminais fluviais do mundo e recebe mais de 20 mil barcaças todo o ano, que abastecem os diversos países banhados pela principal bacia hidrográfica da Europa, a maioria partindo ou com destino aos complexos portuários do seu delta, Roterdam, na Holanda e Antuérpia, na Bélgica. O Mississipi e seu afluente, o Missouri, desde meados do século 19 é um dos mais importantes meios de escoamento de produtos do Meio-Oeste norte-americano e são percorridos diariamente por centenas de embarcações, passando por cidades como Saint Louis, Kansas City, Memphis e Nova Orleans, no Golfo do México, entre outras que viram nascer e se desenvolver.
A perspectiva do modal das águas no Brasil é promissora. Os projetos se sucedem em todo o país nos últimos anos. A cabotagem na costa brasileira escala mais de duas dezenas de portos, de Rio Grande a Barcarena, no Pará, passando, navegando por Imbituba, Itajaí, São Francisco do Sul, Paranaguá, Santos, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Suape, Natal, Pecém, Itaqui e Vila do Conde, no Pará, entre outras. Entrando nas águas interiores, chegam a Porto Alegre e Manaus. Atualmente, nove companhias operam o modal, sendo as principais a Aliança Navegação e Logística, a Mercosul Line, a Log-In e a Norsul.
As principais hidrovias do país, Tietê/Paraná, Mirim/Patos/Jacuí e Amazonas, recebem navios pequenos e médios para todos os tipos de cargas, chatas e barcaças. Na hidrovia gaúcha, as principais armadoras são a Aliança (que não tem ligação com a outra empresa com o mesmo nome), a Guarita e a Taquara. Ela tem uma linha regular com duas saídas semanais em navios que carregam em torno de 250 contêineres, cada, conectando os terminais de Santa Clara, em Triunfo e Rio Grande. É administrada pelo Grupo Wilson Sons, um dos maiores operadores logísticos do país. A hidrovia Tietê/Paraná cobre os estados de São Paulo e Paraná e suas maiores operadoras são as empresas Caramuru e Paulista. Na Amazônia, os barcos da Hidrovias do Brasil, Asgaard e Unitapajós oferecem rotas que cobrem toda a região. Dezenas de outras companhias, menores, têm linhas localizadas porque os rios da bacia são muito extensos e as distâncias enormes.
A cada ano novos produtos passam a ser escoados via cabotagem e navegação interior se somando aos embarques de carnes, celulose, móveis, leite em pó, madeira, motocicletas, eletrônicos, móveis, bauxita, derivados de petróleo e outros itens transportados em barcos porta-contêineres ou em outros tipos de embarcação. A frota em operação na cabotagem no Brasil alcança em torno de 70 navios. Pelas águas interiores, dezenas de navios pequenos e médios e centenas de chatas e barcaças. O caminhão se integra nessas viagens, carregando as mercadorias especialmente nos seus trechos finais, onde sua utilização é mais adequada. Os dois modais, com o acréscimo do ferroviário e o aéreo formam um sistema intermodal, cada um atendendo um nicho específico nessa operação. E o açaí, colhido na selva amazônica e consumido no Sul e o arroz, cultivado nos banhados gaúchos e servido no Norte, fazem parte dessa extensa lista de mercadorias transportadas por meio desse modal mais econômico e sustentável
que, custam praticamente o mesmo preço, cada um deles, nas duas cidades. E isso, ainda que os dois produtos viajem 10 mil quilômetros, da sua origem ao local de consumo, a distância percorrida pelos navios no transporte de cargas entre os portos das capitais do Amazonas e do Rio Grande do Sul.
Esses valores próximos são possíveis porque o açaí e o arroz são transportados via navegação de cabotagem, que une o Norte e o Sul do país, com rotas cumpridas por barcos capazes de carregar o equivalente ao que levam centenas de caminhões, e singram as águas do Rio Amazonas, de toda a costa brasileira, da Lagoa dos Patos e do Lago Guaíba. A cabotagem é o modal de transporte praticado ao longo do litoral de cada país, no Brasil, é complementado pelas generosas bacias fluviais e lacustres, e oferece benefícios competitivos em relação a outros meios, como o rodoviário.
As vantagens são muitas, começando pela maior capacidade de carga, uma vez que cada embarcação, de porte médio, carrega cerca de 1 000 teus em contêineres, equivalentes ao transportado por centenas de carretas, dessas que a gente vê rodando pelas estradas do país. Os barcos consomem aproximadamente oito vezes menos combustível que o caminhão, é seguro e pontual e ainda, ajuda a preservar o meio-ambiente, apresentando níveis reduzidos de poluição e de agressão à natureza porque são vias naturais.
A cabotagem contribui com 30% do que é transportado no Brasil, um percentual modesto levando em conta que as vias aquáticas potencialmente navegáveis do país somam mais de 40 mil quilômetros, uma das maiores do mundo. O ponto positivo é que esse volume vem crescendo de modo acelerado e pode alcançar o de outros países em poucos anos. As principais bacias hidrográficas nacionais são as do Amazonas e seus afluentes, a dos rios Paraná e Tietê e a formada pelos lagos Mirim e Patos e o Rio Jacuí e seus tributários, como o Taquari.
Viajei por toda a chamada Hidrovia Gaúcha, de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar a Cachoeira do Sul, Rio Pardo e Bom Retiro do Sul, para escrever o livro “O Mar de Dentro no Continente de São Pedro”, sobre a sua importância na povoação e desenvolvimento da antiga capitania de São Pedro do Rio Grande, e pelo Amazonas e alguns de seus afluentes e igarapés, fazendo reportagens para jornais e revistas. A comparação do potencial aquaviário do Brasil com o de outras regiões como as bacias do Rio Reno, na Europa e do Rio Mississipi, nos Estados Unidos, mostra ampla vantagem para o nosso. O aproveitamento, no entanto, é o inverso. Precisamos avançar muito para atingir o patamar ostentado por aquelas regiões.
O porto de Duisburg, às margens do Reno, na Alemanha, é um dos mais movimentados terminais fluviais do mundo e recebe mais de 20 mil barcaças todo o ano, que abastecem os diversos países banhados pela principal bacia hidrográfica da Europa, a maioria partindo ou com destino aos complexos portuários do seu delta, Roterdam, na Holanda e Antuérpia, na Bélgica. O Mississipi e seu afluente, o Missouri, desde meados do século 19 é um dos mais importantes meios de escoamento de produtos do Meio-Oeste norte-americano e são percorridos diariamente por centenas de embarcações, passando por cidades como Saint Louis, Kansas City, Memphis e Nova Orleans, no Golfo do México, entre outras que viram nascer e se desenvolver.
A perspectiva do modal das águas no Brasil é promissora. Os projetos se sucedem em todo o país nos últimos anos. A cabotagem na costa brasileira escala mais de duas dezenas de portos, de Rio Grande a Barcarena, no Pará, passando, navegando por Imbituba, Itajaí, São Francisco do Sul, Paranaguá, Santos, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Suape, Natal, Pecém, Itaqui e Vila do Conde, no Pará, entre outras. Entrando nas águas interiores, chegam a Porto Alegre e Manaus. Atualmente, nove companhias operam o modal, sendo as principais a Aliança Navegação e Logística, a Mercosul Line, a Log-In e a Norsul.
As principais hidrovias do país, Tietê/Paraná, Mirim/Patos/Jacuí e Amazonas, recebem navios pequenos e médios para todos os tipos de cargas, chatas e barcaças. Na hidrovia gaúcha, as principais armadoras são a Aliança (que não tem ligação com a outra empresa com o mesmo nome), a Guarita e a Taquara. Ela tem uma linha regular com duas saídas semanais em navios que carregam em torno de 250 contêineres, cada, conectando os terminais de Santa Clara, em Triunfo e Rio Grande. É administrada pelo Grupo Wilson Sons, um dos maiores operadores logísticos do país. A hidrovia Tietê/Paraná cobre os estados de São Paulo e Paraná e suas maiores operadoras são as empresas Caramuru e Paulista. Na Amazônia, os barcos da Hidrovias do Brasil, Asgaard e Unitapajós oferecem rotas que cobrem toda a região. Dezenas de outras companhias, menores, têm linhas localizadas porque os rios da bacia são muito extensos e as distâncias enormes.A cada ano novos produtos passam a ser escoados via cabotagem e navegação interior se somando aos embarques de carnes, celulose, móveis, leite em pó, madeira, motocicletas, eletrônicos, móveis, bauxita, derivados de petróleo e outros itens transportados em barcos porta-contêineres ou em outros tipos de embarcação. A frota em operação na cabotagem no Brasil alcança em torno de 70 navios. Pelas águas interiores, dezenas de navios pequenos e médios e centenas de chatas e barcaças. O caminhão se integra nessas viagens, carregando as mercadorias especialmente nos seus trechos finais, onde sua utilização é mais adequada. Os dois modais, com o acréscimo do ferroviário e o aéreo formam um sistema intermodal, cada um atendendo um nicho específico nessa operação. E o açaí, colhido na selva amazônica e consumido no Sul e o arroz, cultivado nos banhados gaúchos e servido no Norte, fazem parte dessa extensa lista de mercadorias transportadas por meio desse modal mais econômico e sustentável.
Quer saber mais sobre o assunto? O autor explora o tema na segunda edição do programa “Logística na sua Vida”, o novo podcast da RED. Confira:
*Estudou Direito e História. Formado em Jornalismo. Foi repórter em Zero Hora, Jornal do Brasil, o Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Senhor e Isto É, e correspondente free lancer da Reuters, entre outros veículos de comunicação. Redator e editor na Rádio Gaúcha, diretor de redação da Revista Mundo, professor de Redação Jornalística na PUCRS e assessor de imprensa na Câmara dos Deputados durante a Assembleia Nacional Constituinte. Atualmente edita blog independente.
Imagem em Pixabay.
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