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Opinião

O terrorista

O terrorista

Artigo por RED
16/12/2022 16:17 • Atualizado em 17/12/2022 19:52
O terrorista

De SERGIO ARAUJO*

Roteiro de uma série policial baseada em fatos reais, adaptada para drama e depois para terror.

 

 

Cena 1

Caminhões bloqueando rodovias, alguns deles tomados pelo fogo, impedem um pai desesperado a levar o filho pequeno para fazer uma cirurgia, que impediria a cegueira do garoto. Nas cidades, defronte a quartéis, centenas de fanáticos adoradores de um Nero contemporâneo, como se em transe, sofriam com intempéries climáticas, rezavam, choravam, marchavam, clamavam aos céus, e ofendiam e agrediam transeuntes não identificados com suas causas. “Forças armadas, salvem o Brasil” era o brado que retumbava no muro das lamentações em que se transformou o cercamento dos quartéis.

Cena 2

Em seu palácio presidencial, o idealizador e protagonista da série, enclausurado desde que foi derrotado nas eleições, com instantâneas aparições em solenidades militares e na cerca d’água que separa a calçada do pátio da residência oficial, comanda a baderna subversiva com uma mudez de mensagens subliminares e lágrimas de autopiedade que nada mais são do que combustível para a balburdia planejada.

Cena 3

No plenário do Tribunal Superior Eleitoral, diante dos representantes dos poderes legalmente constituídos, o presidente e o vice-presidente eleitos democraticamente pelo voto popular cumprem o cerimonial de diplomação, pondo fim ao projeto de fraude eleitoral idealizado pelo candidato derrotado.

Cena 4

Quatro anos antes do ato de diplomação, numa campanha baseada na ofensa, ameaça e na mentira, manifestantes favoráveis ao candidato da direita extremista, vestidos de verde e amarelo, vão para as ruas portando faixas com dizeres favoráveis ao retorno dos militares ao poder, numa reedição do que foi a ditadura implantada em 1964.

Cena 5

Da sede da Polícia Federal de Curitiba, o ex-presidente que, durante 580 dias, esteve encarcerado injustamente, sai pela porta da frente do estabelecimento policial na condição de inocente injustiçado. Na sede do TSE, é diplomado, pela terceira vez, como presidente do Brasil, vencedor de uma disputa legal e sem fraude.

Cena 6

Às 19h57min, William Bonner, âncora do Jornal Nacional, telejornal mais assistido da TV brasileira, anuncia que Luiz Inácio Lula da Silva é o novo presidente eleito do Brasil. A vitória retumba em todos os principais veículos de comunicação do planeta. Ao mesmo tempo, no comitê eleitoral do derrotado, Jair Bolsonaro coloca as duas mãos na cabeça e se desespera.

Cena 7

Em julgamento por uma junta militar, o então capitão paraquedista Bolsonaro é condenado à prisão e ao afastamento das suas funções militares. O motivo foi insubordinação e elaboração de um plano que ameaçava explodir quartéis e uma adutora de abastecimento d’água na cidade do Rio de Janeiro.

Cena 8

Vândalos vestidos de camisas da seleção brasileira, enrolados com a bandeira nacional, e outros de máscaras e com roupas pretas, típicas de milicianos, tentam invadir a sede da PF na capital federal, queimam uma delegacia de polícia, incendeiam ônibus e carros, espalham botijões de gás pelas ruas, tudo na frente de pelotões de choque da polícia local e sem que ninguém seja preso. Num final típico do filme Coringa (2019).

Epílogo (ainda ficcional)

Lula discursa no parlatório do Palácio do Planalto, no dia da sua posse, para uma multidão de democratas, vários deles portando faixas dizendo “a esperança venceu o medo”, “ditadura nunca mais” e outras tantas. Na sequência, aparece Bolsonaro, filhos e cúmplices dos crimes praticados sendo julgados e condenados por seus delitos. Tela congelada, mostrando o presídio da Papuda. Sobe caracteres tendo como som de fundo a canção italiana Bella
Ciao.


*Jornalista, especializado em marketing político.

Foto da área externa da Penitenciária Federal da Papuda – Wilson Dias/Agência Brasil.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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