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Opinião

O Fascismo anunciado e a esquerda despreparada

O Fascismo anunciado e a esquerda despreparada

Artigo por RED
14/01/2023 14:56 • Atualizado em 16/01/2023 08:36
O Fascismo anunciado e a esquerda despreparada

DE ELIEZER PACHECO*

Se iludem aqueles que pensam que o fascismo no Brasil é coisa de alguns malucos liderados por um lunático. O fascismo se encontra em expansão no mundo todo, inclusive no poder em alguns países, embalado pela crise do capitalismo, que ainda próspera em alguns países alimentado pela expoliaçáo imperialista.

Mas esta política que produz brutal miséria nos países explorados faz com que milhões abandonem estes países e busquem aqueles onde a riqueza está acumulada. Isto possibilita o discurso da direita fascista em defesa dos empregos “ameaçados” pela imigração e o fantasma do aumento da criminalidade. Encontram eco, principalmente, entre as camadas mais baixas e o lumpensinato cada vez mais numeroso.

A fragilização da alternativa socialista coloca o fascismo como “salvação” para estes segmentos excluídos e de escassa cultura política. Este caldo de cultura se espraia pelo mundo todo e também entre militares da América Latina, cuja formação ainda segue a cartilha da Guerra Fria. São gerações de militares que nunca participaram de uma guerra e, na falta de um um inimigo externo, a esquerda e a própria população é a inimiga. O comunismo é o fantasma esgrimido pelas classes dominantes para assustar os incautos. E para eles toda esquerda é comunista.

No caso brasileiro, a direita “enriquece” a cultura fascista com sua ancestralidade escravista e facínora como amplamente demonstrado na ditadura militar. Isto se agravou no pós-ditadura em que assassinos e torturadores foram anistiados de seus crimes brutais, institucionalizando a impunidade.

As tentativas recentes de Bolsonaro de implantação do
fascismo tem sido anunciadas amplamente por ele. E seu projeto não é de um fascismo “civilizado”, mas de uma ditadura do atraso e assassina. “Tem que matar uns 30 mil”, “O erro (da ditadura) foi ter torturado e não matado”. Sabemos que ela fez as duas coisas.

Os recentes acontecimentos de 8 de janeiro foram amplamente anunciados, os ônibus circularam tranquilamente e ficou evidenciado a conivência das FFAA e daa polícias militares, transformadas em facções políticas de direita. No QG do Exército em Brasília, três tentativas de desmontar o acampamento terrorista foram impedidas pelo exército, que os manteve até a chegada das caravanas, pois ali seria o QG dos fascistas e terroristas.

As cenas dos militares da Guarda Presidencial assistindo a destruição do Planalto e até facilitando a ação dos criminosos é patética. Felizmente, são tão despreparados que bastou uns gritos do capitão da PM para enquadrá-los. O que aconteceu em Brasília enxovalha a história do Exército Brasileiro, já comprometida pela ditadura militar e o respaldo ao governo genocida de Bolsonaro em troca de milhares de cargos e privilégios.

De outro lado, a esquerda brasileira praticamente limita sua atuação aos grupos de whats e não foi capaz de tomar nenhuma iniciativa que, pelo menos, dificultasse a ação fascista. Dominada por um reformismo ingênuo e pelo identitarismo liberal, ela não é páreo para o fascismo bárbaro e organizado.

É necessário resgatar a tradição de luta que ela já teve antes de ser hegemonizada pela retórica “esquerdista” da pequena burguesia urbana, avessa ao trabalho de massas. É preciso resgatar o caráter de classe da esquerda. Falar menos em inclusão e mais em igualdade. Alguns chegam a defender “um país menos desigual” aceitando a desigualdade desde que não seja tão brutal. Defender não apenas a distribuição de renda mas de riquezas, através de políticas como taxação das grandes fortunas, das grandes heranças e do sistema financeiro.

Democratizar o Estado brasileiro e suas instituições, em especial o judiciário. Discutir de que FFAA precisamos na sociedade brasileira. É inaceitável que continuem sendo formados como se estivéssemos no auge da guerra fria e se comportem como guarda pretoriana da direita. Extinguir as polícias militares que se transformaram, como disse Saflate, em facções armadas identificadas com o fascismo e criar polícias unificadas e comprometidas com a cidadania.

Cabe ao PT, por sua enorme representatividade, uma responsabilidade muito grande nesta conjuntura. O governo, liderado por Lula, reagiu bem ao golpe fascista, mas o partido precisa reunir o diretório nacional permanentemente em Brasília, mobilizando suas bases, determinando que todos seus diretórios estaduais e diretórios municipais mantenham suas bases em alerta e realizem atos em defesa da democracia .

É fundamental reaglutinar e mobilizar os Comitês Populares de Luta e as entidades sindicais e populares. A ofensiva fascista continuará porque não conseguimos ainda esmagar sua cabeça. Os participantes dos atos terroristas presos são o gado lunpen usado como “bucha de canhão”. A direção fascista, orientada desde fora do país está intacta. Só o povo organizado e mobilizado pode detê-los.

Por último, Lula, Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Ricardo Capelli foram os grandes personagens desta vitória, ainda parcial, sobre o fascismo. Seus nomes merecem ficar registrados na História.(Brasília, 14 de janeiro de 2023).

 


*Eliezer Pacheco é ex-secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC e ex-secretário municipal de Educação em Porto Alegre e Canoas

 

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

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