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Condenação da Suíça por Tribunal Europeu atesta que clima saudável é direito fundamental

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Condenação da Suíça por Tribunal Europeu atesta que clima saudável é direito fundamental
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De FLÁVIO AGUIAR*, de Berlim Na semana passada o Tribunal Europeu para Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo, na França, condenou o governo suíço por não tomar medidas suficientes contra as mudanças climáticas em curso no planeta. O processo foi iniciado pela Associação de Senhoras Suíças Idosas sobre o Clima (tradução mais que livre para KlimaSeniorinnen Schweiz) e mais quatro mulheres independentes. A Associação representa cerca de 2.000 idosas com 64 anos ou mais. A decisão dos 17 juízes e juízas do tribunal é bastante complexa. Seu acórdão tem mais de 300 páginas. A sentença recusou a representação das quatro mulheres independentes, alegando que elas não tinham caracterizado suficientemente seu status de vítimas. Entretanto reconheceu esta condição e a representatividade coletiva da Associação. Na sentença, que não é passível de apelação, o tribunal condenou o governo suíço por não tomar medidas suficientes para cumprir seu próprio objetivo de reduzir em 50% as emissões de gás carbônico na atmosfera até 2030, em relação às emissões na última década do século passado. Entre as alegações consta a de que o governo suíço sequer criou um orçamento específico para a questão. Quais serão as consequências da decisão? Eis outra matéria complexa. A Agência Federal de Justiça da Suíça, que representa o governo, afirmou que estudará as medidas necessárias para cumprir a decisão. É complicado, pois em 2021 um plebiscito no país rejeitou as medidas que vinham sendo tomadas, por julgá-las demasiado severas. Por outro lado, caso o governo não tome as medidas necessárias, poderia ser condenado ao pagamento de multas e outras sanções. Espera-se que haja impacto sobre a construção civil, o sistema de transporte, a circulação de veículos e o fornecimento e consumo de energia. Uma porta-voz das “Vovós Suíças”, apelido carinhoso da Associação, afirmou que espera também medidas reguladoras de empresas do sistema financeiro que apoiam atividades danosas ao meio ambiente. Impacto internacional? Como o clima não tem fronteiras, espera-se também que a decisão do Tribunal de Estrasburgo, a primeira no mundo inteiro no gênero, tenha um impacto internacional. Em 2021 uma resolução da ONU reconheceu que um clima saudável é um direito humano universal e inalienável. A Suprema Corte da Índia já tomou uma resolução semelhante, afirmando que faz parte dos direitos da cidadania o de “permanecer livre dos efeitos negativos das mudanças climáticas”. Aliás esta foi a alegação da Associação das Senhoras Suíças, afirmando que as ondas de calor decorrentes dessas mudanças colocam em risco suas vidas devido à sua idade e ao seu gênero. Espera-se também um impacto em outras áreas relativas ao meio ambiente. Por exemplo, há um caso em curso contra uma decisão do governo da Noruega autorizando novas concessões para exploração do petróleo no mar a partir de 2035. Efeitos no Brasil Segundo a agência de notícias Reuters, especialistas europeus afirmaram também que a decisão pode ter efeitos imediatos em outros países, citando, especificamente, a Austrália, o Peru, a Coreia do Sul e… o Brasil. Fica aberto, portanto, o convite para que advogados, juristas, juízes, professores e estudantes de Direito, ONGs do meio ambiente e de direitos humanos, além de demais interessadas e interessados, se debrucem de imediato sobre as implicações da decisão em nosso país. *Jornalista, analista político e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo). Publicado anteriormente no portal rfi. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Reflexões sobre o Oriente Médio em crise

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Reflexões sobre o Oriente Médio em crise
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De ALEXANDRE CRUZ* Nos últimos dias, os eventos no Oriente Médio têm provocado reflexões profundas sobre o conceito de legítima defesa e suas implicações em um contexto de crescentes tensões regionais. A embaixada do Irã em Damasco foi alvo de um ataque perpetrado por Israel e, dias depois, os iranianos retaliaram, lançando um contra-ataque contra o país israelense. Esses acontecimentos não só acrescentam mais um capítulo à saga de conflitos e rivalidades na região, como também suscitam questões cruciais sobre a legalidade e a moralidade da legítima defesa em um cenário tão volátil. No âmago dessa questão está o princípio consagrado no direito internacional de que os Estados têm o direito soberano de se defender contra agressões armadas.  O Irã, ao justificar seu ataque como uma medida defensiva, destaca a necessidade premente de proteger seus interesses nacionais e a segurança de seus cidadãos. Além disso, devemos reconhecer que a busca pela legítima defesa muitas vezes é obscurecida por agendas políticas e estratégicas, levando a interpretações divergentes e justificativas questionáveis Como observadores imparciais, é nosso dever desafiar narrativas simplistas e buscar uma compreensão mais profunda dos complexos desafios enfrentados pelo Oriente Médio. Somente através do diálogo aberto, do respeito mútuo e do compromisso com o estado de direito podemos aspirar a um futuro de paz e prosperidade para esta região tão atribulada. Portanto, enquanto refletimos sobre os eventos recentes, insto a meus colegas jornalistas e líderes políticos que exerçam a moderação, a empatia e a sabedoria na abordagem das crises que assolam o Oriente Médio. Somente assim podemos almejar um caminho rumo a um futuro mais seguro e harmonioso para todos os povos desta região conturbada. *Jornalista político. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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O risco das Deepfakes nas eleições de 2024

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O risco das Deepfakes nas eleições de 2024
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De ELIS RADMANN* Ao longo de três décadas como pesquisadora do comportamento eleitoral, acompanho a angústia e a preocupação dos eleitores em relação às baixarias das campanhas políticas. Um candidato acusando o outro de mentiroso, calúnia, difamação, histórias irreais, panfletos apócrifos com montagens de fotos e até folhetos jogados nas ruas da cidade no horário do debate, dizendo que o vencedor era o candidato que fez aquela acusação bombástica. Nessa época, a maioria do eleitorado acreditava que conseguia se defender, buscando informações em veículos oficiais como televisão, rádio e jornal. Em 2013 começou o avanço das redes sociais, porém, este cenário ficou mais agressivo em 2018, com o crescimento das Fake News, que se tornaram a sensação fazendo com que muitos eleitores não conseguissem mais separar o que era real do irreal, até mesmo compartilhando e defendendo as Fake News com a crença de que estavam certas. As campanhas ficaram ainda mais confusas e difíceis para os eleitores separarem o “joio do trigo”, fazendo com o que começassem a escolher um veículo ou jornalista de referência para tentar separar fake de fato, o que ampliou a influência das bolhas digitais, cada um acreditando no que achava mais conveniente.   A política sempre foi um “vale-tudo”, muita coisa acontecendo com o regramento eleitoral mudando a cada novo pleito e a Justiça Eleitoral se virando para barrar ou coibir as denúncias ou os casos mais escrachados. Mas até a eleição de 2022 ainda valia uma máxima: “na imagem, não há dúvida”! Nas pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião os eleitores sempre afirmaram: “só mudo de ideia se ver um vídeo do candidato falando isso que vocês estão contando”. Com as Deepfakes ativadas, os candidatos estão “lascados”, pois terão que ter uma equipe muito ágil para identificar os vídeos falsos e ter uma resposta à altura.  Ao escrever este artigo perguntei para a IA (inteligência artificial) “o que devo fazer para criar uma Deepfake”. Ela me respondeu que “não podia continuar com esta conversa”, mas me indicou 10 arquivos, com vídeos e tutoriais para autocriação de Deepfakes. Mas, afinal de contas, o que são as Deepfakes? Trata-se da criação de vídeos falsos utilizando uma aparência realista com o objetivo de enganar um público específico ou destruir a imagem de alguém. Tecnicamente, é um mecanismo digital que usa a inteligência artificial para manipular vídeos e imagens, podendo trocar o rosto de pessoas em vídeos, sincronizar movimentos labiais, voz e demais detalhes corporais.  Recentemente, o Dr. Drauzio Varela foi vítima de Deepfake. Usaram um aplicativo para mexer em um vídeo original do médico, manipularam a sua imagem e sua voz e colocaram ele fazendo propaganda de um produto milagroso de rejuvenescimento da pele. O mesmo aconteceu com Ivete Sangalo, Xuxa e Ana Maria Braga. E já está acontecendo com pré-candidatos a Prefeito em várias cidades. Os especialistas dão dicas, que não são muito fáceis de se checar. Segundo eles, temos que observar o padrão de vezes que a pessoa pisca, a cor que está a sua pele ou se seus lábios acompanham o texto. Nesta eleição será muito mais importante ficar atento aos conteúdos compartilhados pelo WhatsApp ou na internet e verificar a veracidade das informações antes de acreditar ou compartilhar, principalmente, quando se tratar de vídeos. *Cientista social e política. Fundadora do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião. Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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