Opinião
NOSSO BAIRRO – Cronista Theodemiro Tostes fala de seu tempo
NOSSO BAIRRO – Cronista Theodemiro Tostes fala de seu tempo
De ADELI SELL*
Fala-se que Rubem Braga foi o maior cronista do país. Eu diria que em seu tempo, aqui no Sul, tivemos Theodemiro Tostes.
Não sou daqueles que considero mais este ou aquele, porque regra geral as abordagens de cada qual são distintas. Seu amigo Paulo de Gouvêa foi outro cronista de mão cheia. Como não se lembrar dos 65 anos de Archymedes Fortini no Correio do Povo? Voltemos ao TT.
Nosso Bairro é um livro no qual Theodemiro Tostes, pouco antes de falecer, fala do Centro onde morou, viveu e ali teve seus pontos de encontro com os amigos, em especial no Café Colombo da Rua da Praia, onde formava O GRUPO, com uma plêiade de grandes intelectuais.
Começa a falar de sua vida, ainda menino no Anchieta, morando na mesma Duque de Caxias, adentra os anos 20 e 30 dando uma ideia de como Porto Alegre foi uma cidade encantadora, altamente intelectualizada.
Relata o surgimento das colunas de cultura dos jornais locais, em especial do Diário de Notícias , seu jornal, e a aventura de fazer a Revista cultural Madrugada, em duras 7 edições. Fala-nos do surgimento da Revista do Globo pela ousadia do Mansueto Bernardi.
Temos uma ideia dos grupos de intelectuais que se formaram na capital, menciona de passagem o primeiro grupo que foi O Partenon Literário, passa daí para os poetas das Praças Dom Feliciano e da Harmonia (hoje, Brigadeiro Sampaio). Destes sinaliza que havia ainda um parnasianismo tardio e surgia o simbolismo mais romântico. Adentra algumas referências do Moderno, e como ele atinge nosso Estado. Dá destaque ao papel de Eduardo Guimarães, como poeta, como diretor da Biblioteca Pública, complementando o papel com o diretor, o também poeta Victor Silva.
Passa a falar da sua geração, dando destaque aos papos de O GRUPO no Café Colombo, encontros ali perto no Antonello, como noitadas de chopp no Chalé da Praça XV.
Pelos seus relatos sabemos tudo de todos os intelectuais de então, como Érico, Cyro Martins e Dionélio Machado. Lembra de um quase esquecido: Reinaldo Moura. Mas é farto em informações sobre Augusto Meyer, que depois vai para a Academia Brasileira de Letras. A gente se dá conta também do papel dos irmãos Cosme, o Sotero, que além de músico, depois vai a Paris, mas desempenhou aqui papel como artista, desenhista e chargista de mão cheia. O Luiz, violinista, que depois vai aos EUA. Ficamos sabendo do Pelichek e sua carreira nas artes gráficas, o papel de Fernando Corona nas Artes e Arquitetura, passagem aqui do Don Francisco Villaespesa, escritor espanhol, do Raul Bopp, autor do modernista Cobra Norato. Tomamos conhecimento do papel de um escritor como Vargas Neto, o sobrinho do presidente, grande contador de causos. Há muitos outros.
Temos uma boa visão dos respingos da Guerra Civil de 1893- 5, mais da divisão entre chimangos e maragatos em 1923. Dá também ideia como eram as disputas políticas.
Theodemiro Tostes, o TT, como assinava as crônicas, sem tomar partido nos conta da gestão medíocre de José Montaury, aponta a ousadia dos sucessores, como não deixa de sinalizar o governo autocrático de Borges de Medeiros.
Ademais, por suas andanças pelo Nosso Bairro, sabe-se como era a Porto Alegre de então.
Um livro essencial para conhecer nossa cidade, como é o livro O GRUPO, de Paulo de Gouvêa.
Ele foi um cronista que criou estilo, depois dele puderam surgir Nilo Ruschel, com seu Rua da Praia, Renato Maciel, Coiro, entre outros tantos.
*Escritor, professor e bacharel em Direito.
Imagem histórica do Chalé da Praça XV, em Viva o Centro.
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