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O lugar da política é em todo lugar

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O lugar da política é em todo lugar
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De ELIS RADMANN* Parte do meu cotidiano como cientista social e política está relacionado com o estudo do funcionamento da política e, em especial, sobre o comportamento político eleitoral. Não é de hoje que a maior parte da população não gosta de política, não se interessa e não tem o hábito de conversar sobre política. A maioria não se envolve com partido político e não participa de nenhum tipo de entidade representativa (como associações, sindicatos, conselhos, etc.). As redes sociais potencializaram a participação e o engajamento político virtual de parte da sociedade e o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião tem monitorado o interesse por temas políticos. Atualmente, ¼ dos gaúchos costuma acompanhar postagens sobre política e ¼ procura o tema quando há um debate que interessa, principalmente quando há polêmicas. A outra metade dos gaúchos afirma que não utiliza as redes sociais para se informar sobre política ou nunca se informou sobre o tema. Na prática, a população tem sido, sistematicamente, ensinada a não gostar de política através das sucessivas experiências negativas com a política partidária. Como a sociologia e a ciência política não estão presentes no currículo das escolas desde as séries iniciais, o conhecimento sobre política ocorre através da experimentação: a população vive a experiência com a política partidária do país e, através dela, tira suas conclusões. E o que a política partidária tem ensinado à população: - Que promessas feitas não precisam necessariamente ser cumpridas; - Que uma coligação pode fazer inimigos políticos se tornarem amigos; - Que o toma lá, dá cá faz parte das negociações políticas; - Que a corrupção envolve políticos de todos os partidos; - Que as leis são feitas pelos políticos para beneficiar os políticos; - Que a política faz a vida piorar. Para tentar se defender, a população que não confia nos partidos tenta acreditar na pessoa de um político, no qual deposita as esperanças até que haja uma nova decepção. A cultura política instituída no País nos ensina que o "bom" é se manter longe da política, como se política fosse algo ruim. E o que aprendemos com os exemplos ruins contraria o princípio da democracia representativa que pressupõe participação da população, em que todo poder emana do povo. A política é o que nos une em sociedade, o que pode inspirar o sentimento de comunidade, de solidariedade. A política é a arte do diálogo, da negociação, do estabelecimento de regras, da pactuação. A política fez nascer o contrato social entre as pessoas, a política é a base do direito e das leis que nos regem. A política está presente nas relações entre os casais, quando decidem se terão uma relação mais conservadora ou aberta. A política está em nossas casas, quando decidimos como iremos criar os nossos filhos, se será uma relação menos ou mais democrática. A política está dentro das escolas, na lição do professor que determina se seus alunos irão ou não participar da aula. A política está presente nas relações de trabalho, quando os gestores da empresa decidem as regras internas de convívio ou se irão dar benefícios além do que a lei exige. A política está presente em nossas relações, nos micro espaços de poder do nosso dia a dia, em todo o lugar que temos a capacidade de decidir ou fazer algo pelo outro. A política está presente nas nossas escolhas e na maneira como vemos o mundo. A política está presente no mundo que idealizamos. *Cientista social e política. Fundadora do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião. Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Extermínio palestino será uma das mais trágicas heranças da dominação imperial dos EUA

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Extermínio palestino será uma das mais trágicas heranças da dominação imperial dos EUA
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De JEFERSON MIOLA* A Administração Biden vetou no Conselho de Segurança [18/4] a admissão da Palestina como membro pleno da ONU. A medida desrespeita a Resolução 181 de 29/11/1947 da própria ONU, aquela que arbitrariamente criou dois Estados às custas da partilha da Palestina. Na prática, esta decisão significa que, do ponto de vista legal e formal, a Palestina continuará não existindo como um país soberano, e continuará sendo não-membro observador das Nações Unidas. Esta condição absurda retira dos palestinos o poder de participar de instâncias relevantes da ONU, como o Conselho de Segurança, e de exercer prerrogativas legais, como votar e propor resoluções. E é, obviamente, algo totalmente kafkiano. Além da Palestina, só o Vaticano tem o status de não-membro observador da ONU. Com a diferença, contudo, de que ao contrário da cidade-sede da Igreja Católica, os palestinos possuem uma população permanente e reconhecida étnica, histórica e culturalmente enquanto povo. Os palestinos também possuem seu território milenar, que foi permanentemente espoliado e roubado pelos sionistas no marco da estratégia colonialista, em especial a partir dos anos 1920 do século passado. Os palestinos também elegem seus governos, que são desrespeitados por Israel. Além disso, são reconhecidos como Nação legítima e soberana por mais de 140 países. O vice-embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, abusou da hipocrisia. Ao explicar o inexplicável, ele argumentou que os EUA não se opõem à criação de um Estado palestino, mas “apenas” defendem que o reconhecimento da Palestina deverá vir “de negociações diretas entre as partes”, ou seja, da concordância que nunca acontecerá do regime nazi-sionista de Israel, que neste exato momento está empenhado em executar a “solução final” de limpeza étnica com a inteira devastação dos territórios palestinos. Dois dias depois do veto na ONU, em pleno sábado [20/4] o Congresso estadunidense aprovou a liberação de mais 26 bilhões de dólares para Israel acelerar o genocídio do povo palestino confinado no Gueto de Rafah. A bestialidade israelense que já assassinou pelo menos 41 mil pessoas e deixou feridas mais de 76 mil, a imensa maioria delas crianças, mulheres e idosas, não poupa hospitais, escolas, igrejas, mesquitas, escritórios da ONU, ambulâncias, comboios de ajuda humanitária e residências das famílias. Nem mesmo a memória arquitetônica é preservada, pois tudo deve ser inteiramente destruído. A ideia é fazer terra arrasada; apagar os mínimos resquícios da memória palestina; exterminar todos e quaisquer traços e reminiscências da “raça inferior”. Neste empreendimento genocida, terrorista e criminoso, Israel conta com a solidariedade, o apoio e a cumplicidade integral do establishment estadunidense. Os EUA não permitem a adoção de nenhuma solução política, negociada ou pacífica para superar esta terrível realidade, assim como vetam todas tentativas de cessar-fogo e de socorro humanitário aos palestinos. O império estadunidense é responsável pelas maiores tragédias da humanidade, a começar pelo uso extemporâneo criminoso da bomba nuclear, detonada para afirmar seu poder mundial já quando não se fazia necessário; e, depois, nas sucessivas guerras, massacres e ataques a vários povos considerados inimigos ao redor do mundo. O extermínio do povo palestino será uma das mais trágicas heranças do poder imperial que os EUA exercem no mundo. Dramaticamente, esta tragédia tem todas as condições de acontecer antes da chegada do fim deste poder imperial, que está em curso. *Analista político. Artigo publicado originalmente no blog do autor. Ilustração: Carlos Latuff. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Meio Ambiente em Porto Alegre nas eleições 2024

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Meio Ambiente em Porto Alegre nas eleições 2024
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De ADELI SELL* Uma das pautas prioritárias das eleições na capital rio-grandense será o tema ambiental. Os debates sobre o clima e a sustentabilidade vão permear as conversas. Vão sair cards e vídeos com o lixo espalhado por todos os cantos. Mas isso por si só não resolve. E para o atual titular do Paço Municipal este não será um tema fácil. O RIO E A CIDADE Atualmente, sabe-se que tecnicamente o Guaíba é um lago, mas todos teimamos em falar do nosso rio. Eu falo da beira do rio, como sempre denominamos este trecho às margens do lago/rio. E a pergunta é: quem invadiu quem? Falou-se muito que o rio invadiu a cidade. Mas, na verdade, foi a cidade que invadiu o leito do seu espelho de água, com os inúmeros e vastos aterros. Adentramos o rio e queremos que ele nos respeite contra a sua própria natureza. “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”, já nos ensinara Bertold Brecht. Porto Alegre aprendeu na marra, com as enchentes, com 1941 e com as recentes. A PRIMEIRA SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, hoje, SMAMUS, era conhecida como SMAM. Foi criada pelo prefeito Guilherme Socias Villela em 1976, sendo primeira secretaria do meio ambiente do país. Foi um exemplo de instituição pública, servindo de parâmetro para a criação de outras pelo Brasil afora. Esculhambada pela gestão do prefeito Nelson Marchezan, piorada na atual gestão de Sebastião Melo, não passa de uma central de despachos de licenças, muitas vezes duvidosas, contrastando com sua história. EM TEMPO DE "ESG” Pode até haver muito marketing fajuto esta badalada sigla "ESG" (Environmental, Social and Governance - Sustentabilidade ambiental, Social e de Governança corporativa), porém aqui na capital dos rio-grandenses estes conceitos são ficção. CIDADE ARBORIZADA Porto Alegre sempre teve a fama de capital mais arborizada do Brasil. Pode ter sido, pode até ainda ser. Porém, as devastações de árvores, conhecida aqui como “arboricídio” é algo gritante. As podas, no geral, são criminosas, em conluio com a companhia de energia elétrica. É um dos temas abordados na CPI DA EQUATORIAL, empresa que substitui a CEEE, num processo insano de privatização. Já em Medelin, na Colômbia, existe outra mentalidade, como são os corredores de arborização urbana, que reduzem a temperatura das cidades. Mesmo no Rio, acaba de ser constituído um programa para diminuir o calor das favelas com arborização adequada. PLANO DIRETOR DE ARBORIZAÇÃO URBANA Com base na Resolução do Conselho Municipal do Meio Ambiente, constituiu-se um “plano” construído pela papisa da arborização do país, a sempre lembrada, Maria do Carmo Sanchotene. Agora, como vereador propus sua transformação em Lei. QUESTÃO DE MEMÓRIA Se não ficarmos todo o tempo lembrando que fomos a primeira capital a ter uma secretaria específica, que a Agapan foi a primeira entidade ambiental fundada por aqui, os destruidores do ambiente vão se sentido donos da cidade, com sua selva de pedras, com temperaturas insuportáveis, mas com suas burras cheio de reais... Na luta pela Memória, o ambiente tem que estar presente. *Professor, escritor, bacharel em Direito, vereador em Porto Alegre. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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A imprensa na mira de agressores

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A imprensa na mira de agressores
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De EDELBERTO BEHS* Bastou o macho-alfa cair do poder que os casos de agressão a jornalistas e às empresas de comunicação diminuíram no ano passado, quando foram registrados 330 ataques a trabalhadores da imprensa, uma redução de 40,7% em relação a 2022. As agressões físicas, no entanto, aumentaram, de 32,2% em 2022 para 38,2% em 2023. Como se explica esse acréscimo? “Os atos antidemocráticos ocorridos em 8 de janeiro de 2023 tiveram reflexos diretos nesses resultados, pois muitos jornalistas foram atacados durante a cobertura do episódio, sofrendo violência física, ameaças, intimidações e destruição de seus equipamentos”, informa o “Monitoramento de Ataques Gerais e Violência de Gênero”, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Esse foi o quinto monitoramento realizado. Desde 2019, registrou-se uma tendência crescente de violações, que chegou ao seu ápice no ano eleitoral de 2022, com 557 episódios de agressão à imprensa. O ano de 2023 mostrou uma curva de contra tendência, “apresentando, pela primeira vez, nos últimos quatro anos, uma queda nos alertas coletados”. O relatório dá nome aos bois. “Nos primeiros meses de 2023, os congressistas que proporcionalmente mais atacaram a imprensa foram os senadores Flávio Bolsonaro (87,5% de suas postagens mencionando a imprensa eram ataques) e Magno Malta (72,7%) acompanhados pela deputada federal Carla Zambelli (50%)”. No decorrer do ano, o cenário modificou-se um pouco: Malta apareceu em primeiro lugar (com 56,2%) seguido de Flávio Bolsonaro, com 53,5%. Daí surgiu, também, o deputado federal Filipe Barros (PL-PR), ultrapassando a deputada Carla Zambelli, com 44,1%. Pelo terceiro ano consecutivo, agentes estatais despontam como os principais agressores de jornalistas no Brasil, presentes em 55,7% dos alertas registrados em 2023. Até mesmo o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, também jornalista, é citado no relatório. Ele tentou desqualificar a apresentadora Raquel Landim, em março do ano passado, ao participar em programa da CNN Brasil. Pimenta perguntou à Raquel se ela era jornalistas, depois dela fazer uma pergunta que o desagradou. “Sou jornalista, sim. Meu papel é fazer perguntas; o da autoridade pública deveria ser a de trazer esclarecimento”, respondeu a apresentadora. Não fica para trás o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que recorreu ao Poder Judiciário para tentar silenciar a imprensa. Em julho, informa o Monitoramento, ele acionou tribunais de Brasília para derrubar, em caráter de urgência, reportagem sobre violência sexual denunciada por sua ex-mulher. A matéria foi divulgada pela Agência Pública. Também pediu a retirada do programa do ICL Notícias do dia 6 de junho, e tentou barrar conteúdo publicado pelo Congresso em Foco sobre o mesmo assunto. A maioria dos agressores em 2023 foram homens (49,7%). Não ficou fora da listagem o pastor neopentecostal, uma espécie de assessor espiritual do casal Bolsonaro, que chamou a imprensa brasileira de “medíocre, parcial e inescrupulosa” depois das notícias sobre o episódio das joias saudista. Agressores “não identificados” somaram 22,7% dos ataques. Quanto ao critério “regionalização”, assim como em 2022, também no ano passado as regiões Sudeste e Centro-Oeste concentraram a maioria dos ataques registrados. Mas a ordem se inverteu: em 2023, o Centro-Oeste encabeçou a lista com mais agressões à imprensa, com 43,9% dos episódios registrados. Brasília, o Distrito Federal, com 39,7% dos casos, aparece em primeiro lugar, seguida pelos Estados de São Paulo (16,6%), Rio de Janeiro (7,3%) e Rio Grande do Sul (3,9%). Todos os dados, informa a Abraji, foram coletados a partir de uma metodologia transparente e replicável, compartilhada por 17 países da América Latina e do Caribe, que integram a rede Voces del Sur. As diferentes categorias de alvos do monitoramento incluem fotojornalistas, editores, executivos e diretores de veículos, jornalistas freelancers, produtores de conteúdo jornalístico e outros trabalhadores da imprensa, como motoristas e demais prestadores de serviço. *Professor, teólogo e jornalista. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia. 

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Quando chega a hora de cuidar de mim

Opinião

Quando chega a hora de cuidar de mim
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De SÍLVIA MARCUZZO* Aprender a dizer não. Selecionar. Ter discernimento do que posso. Do que devo. Do tamanho das minhas unhas. Do tamanho dos meus dedos. Da largura das minhas mãos. Da extensão dos meus braços. Da minha envergadura. Ah, que desafio complicado. É hora de cuidar de mim. Comecei este semestre o mestrado em Comunicação na PUCRS. Demanda muita energia. Estou com trabalhos que necessitam dedicação. E eu acostumada a estar disponível para os outros, acabo me ferrando. Adoro estar pronta a ajudar, a servir. Amo disseminar notícias, passar novidades para amigos. Fazer conexões, estar disposta sempre a atender às solicitações. Só que agora, meu momento de vida exige dar um basta aos lados que me fazem flanar entre os labirintos do acaso. Especialmente quando as telas me abduzem e me desligam do cronos. Principalmente porque tenho tido gastos fixos altos e que preciso batalhar todo mês para pagar as contas. Ah, que situação incômoda. Me convidam para entrar em mais um grupo de zap e eu não consegui negar. Me acionam para criar mais uma ação para de educação ambiental e eu com dor digo que não tenho como tocar. Para muitos, tudo isso pode não ter sentido. Mas focar no que é importante e fundamental para o meu desenvolvimento é algo que me causa um desconforto mesclado com algo difícil de nominar. Preciso encarar de frente esse aperto no peito e afirmar, apontar o dedo para mim mesma: agora é tudo contigo. Ninguém pode fazer o que só a ti compete. O coletivo não depende de mim. Não pode depender de mim. Cada vez que alguém me aciona para perguntar o que fazer quando uma árvore está sendo cortada, minha insignificância grita: viu?  não tens o que fazer!!! Só que essa ânsia de achar que salvo alguma coisa é algo perturbador. Esfrega na minha cara que o mundo em volta está carente de gente se importe uns com os outros. É urgente, precisamos nos conectar, ajudar uns aos outros. Só que no momento, preciso colocar primeiro a máscara de oxigênio em mim. Já perdi as contas de quantas vezes me senti mal porque não estou sendo responsável comigo mesma. A falta de regularidade para fazer exercícios é apenas uma face dessa ausência de compromisso comigo mesma. Sim, o mundo vai continuar sem mim. Se não eu, quem vai cuidar de mim? Eu é que não terei como estar no páreo se o fígado não funcionar direito. Preciso estabelecer uma rotina, um percurso consciente sem olhar para o lado. Talvez precise de um tapa olho como alguns cavalos têm, para não desviar a cabeça. Ou quem sabe alguém com um chicote me ameaçando se eu sair da rota… Ah, se não tivesse tantas alternativas, talvez fosse mais fácil seguir a trilha. Mas com tantos estímulos, grupos, iscas me chamando a atenção, é bem mais difícil. Será que a solução será dar um tempo em todos os lugares virtuais que não me remuneram?  Sei que vou precisar mudar radicalmente meu modus operandi para conseguir cumprir com as metas e as entregas. Esse texto é um desabafo de uma imigrante digital que tem incontáveis atrativos para desviar a atenção. Trabalha, estuda, agiliza coisas tudo na própria casa. E que por muito tempo achou que outros poderiam resolver seus problemas, suas angústias. Tenho mais de 50 e nunca fui de jogar a toalha. Mas, também, inúmeras vezes nem tentei com medo de não conseguir. Isso gera uma sensação de que o compromisso comigo mesma é inadiável. Agora vou ter que dar um ponto final. Tenho que terminar um texto, fazer duas resenhas e uma apresentação. Agradeço às queridas leitoras e demandantes se puderem me dar uma força nessa fase. Não me deixem cair em tentação. Amém. *Jornalista e artivista. Atua na área ambiental desde 1993. Publicado originalmente em Sler. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Cultura

Programação cultural – de 20 a 26 de abril

Especial

Programação cultural – de 20 a 26 de abril
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Por LÉA MARIA AARÃO REIS** *O programa é não esquecer o que Amitabh Behar, diretor Executivo da Oxfam Internacional, Comitê de Oxford para Alívio da Fome, disse, esta semana: “Israel está fazendo escolhas deliberadas para matar civis de fome. Imagine como é não apenas tentar sobreviver com 245 calorias todos os dias, mas também ter que observar seus filhos ou parentes idosos fazerem o mesmo. Isto, enquanto estavam deslocados, com pouco ou nenhum acesso a água potável ou a um banheiro, sabendo que a maior parte do apoio médico desapareceu e sob a ameaça constante de drones e bombas”. Publicado na Revista Fórum. *Aproximadamente 300 mil palestinos sobrevivem no norte de Gaza com apenas 245 calorias por dia. Um pão francês de 50g tem 140 calorias. *O programa é seguir o destino dos recém-nascidos e das crianças que estão morrendo de desnutrição, em Gaza, segundo contundente informe da BBC World Service, do último mês de março, autoria das jornalistas Amira Mhadhbi e Stephanie Hegarty. *Abril vermelho: na sua luta pela reforma agrária, nessa semana que relembra o massacre de Eldorado dos Carajás, há três décadas, o MST divulga as 30 ações realizadas das quais 24 são ocupações, em 14 estados. O Movimento dos Sem Terra denuncia a existência, ainda hoje, depois de 40 anos de sua fundação, de 105 mil famílias acampadas às margens de rodovias em todo o país aguardando um pedaço de terra. *Relembrando a fala do Presidente Lula em Bogotá, na Colômbia, esta semana: “Somos um continente colonizado. Nossa cabeça historicamente era voltada, de um lado, para a Europa, onde estavam os colonizadores, e, do outro lado, para uma economia mais pujante, sobretudo a dos EUA. (…) Depois de 520 anos de existência, todos nós continuamos pobres”, se referindo ao desemprego, à desnutrição e a mortalidade infantil presentes no continente sul-americano. *Programa importante: o longa-metragem brasileiro A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, vai estrear na Quinzaine des Cinéastes (Quinzena de Cineastas), a mostra paralela ao Festival de Cannes, que promove a descoberta de novos diretores independentes. O filme é um diálogo com o livro homônimo do xamã Yanomami Davi Kopenawa, e de Bruce Albert, antropólogo francês. Uma obra considerada por especialistas um clássico contemporâneo que trata do sonho e da luta do povo Yanomami e da força poética e geopolítica do xamã, filósofo e líder Davi Kopenawa. *Eu devia estar na escola é o título do livro produzido pela ONG Redes da Maré em parceria com a editora Caixote. O volume reúne depoimentos de crianças e adolescentes da Maré que viveram situações de violência em seu território. “Toda criança pode sentir medo e vai sentir medo. Faz parte da vida da criança sentir medo. Mas é diferente sentir medo do monstro debaixo da cama ou de abrir o guarda-roupa à noite e sair de lá uma bruxa, e sentir medo de perder a vida, né? Esse medo de perder a vida, as crianças não deveriam sentir”, diz uma das autoras do livro, Ananda Luz, que acompanhada de Isabel Malzoni, organizou os depoimentos e desenhos das crianças e adolescentes. *Segundo dados da ONG Fogo Cruzado, 642 crianças e adolescentes entre zero e 17 anos foram baleadas no Grande Rio desde julho de 2016. Significa que, em média, a cada quatro dias uma criança ou adolescente foram baleados. Desse total, 289 morreram. *De olho no Festival de Cannes, de 14 a 25 de maio. Este ano, dois filmes brasileiros já têm participação confirmada: o primeiro, Motel Destino, do festejado e premiado diretor cearense Karim Aïnoux. Será exibido no grupo principal da festa da Croisette, seleção de filmes competidores, disputando a Palma de Ouro. Esta é a terceira vez que Aïnouz participa de Cannes. Venceu em 2019 com o brilhante filme A Vida Invisível, na mostra Un Certain Regard e competiu com Firebrand, no ano passado. *O segundo filme brasileiro em Cannes 2024 é Baby, do diretor mineiro Marcelo Caetano. Está no grupo de outros sete candidatos ao premio da Semana da Crítica, seleção de prestígio que este ano contou com nada menos que mil candidatos. É o segundo longa-metragem do cineasta autor de Corpo Elétrico. *Esta semana, na Casa do Povo, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, lançamento póstumo do livro A morte de Vladimir Herzog – a desconstrução da versão do suicídio, de Alberto Kleinas, cientista político que participou do movimento estudantil e dos primeiros anos do Partido dos Trabalhadores. O evento foi organizado com o apoio do Instituto Vladimir Herzog e do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Foi também uma homenagem ao autor, falecido em 2022 (Editora Alameda). *O lançamento do livro Por trás das chamas: Mortos e desaparecidos políticos – 60 anos do golpe de 1964, de autoria dos jornalistas e escritores Nilmário Miranda, Carlos Tibúrcio e Pedro Tierra (Hamilton Pereira), será no próximo dia 25, das 17 às 19h45, na sede da editora Expressão Popular e do Armazém do Campo. São relatos sobre Memória, Verdade e Justiça e sobre a luta contra a ditadura civil-militar e as práticas nazistas de agentes da repressão que torturaram e assassinaram militantes na Casa da Morte em Petrópolis, esquartejando seus corpos para incinerá-los na tristemente célebre Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes. É leitura indispensável. O endereço: Alameda Nothmann, 806 – Campos Elísios. Estações de metrô próximas: Santa Cecília e Marechal Deodoro. Estacionamento na Barão de Limeira. *Outra edição imperdível: Tempos de Chumbo, livro de 22 textos com as memórias de parentes próximos de Jango, o presidente João Goulart – a viúva Maria Thereza e os filhos Denise e João Vicente –, da deputada Luiza Erundina e do ex-senador Pedro Simon. Volume organizado por Carol Brito, filha do saudoso foto- jornalista Orlando Brito, com 41 imagens de sua autoria ilustrando o trabalho idealizado pelo MyNews e publicado pela Editora Alameda. *Acaba de estrear no CinebrasilTV Sérgio Ricardo: Uma Outra História do Cinema Novo, documentário com a trajetória do eclético cineasta, compositor, cantor e pintor na cinematografia. O filme é de Rafael Rosa Hagemeyer e acompanha Sergio desde a Bossa Nova, o aprendizado de cinema com Ruy Guerra, seu amadurecimento como músico, os desafios colocados por Glauber Rocha para a trilha de Deus e o Diabo na Terra do Sol, e seus confrontos com a censura da ditadura. Ziraldo, Antonio Pitanga, Othon Bastos, Ítala Nandi, Alceu Valença e Geraldo Azevedo participam do filme sobre o artista que alguns conhecem como ‘aquele que quebrou o violão no palco’. Filme disponível, na íntegra, no YouTube (clique aqui para assistir). Reprises no Canal Brasil: 19/04 às 23h00; 21/04 às 00h00; 23/04, terça, às 05h00; 25/04, quinta, às 16h30; 27/04, sábado, às 13h30 e 29/04, segunda, às 07h00. *O programa da próxima semana para jornalistas profissionais é participar da votação, no próximo dia 26, para 1/3 do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). É importante votar. *Estreou essa semana nas telonas, Sem Coração, da alagoana Nara Normande e do pernambucano Tião, este já premiado em Cannes no grupo de curtas-metragens. O filme é produzido pela Cinemascópio, empresa de brasileiros e franceses ligados ao cinema, e foi premiado como Melhor Filme e Melhor Fotografia no último Festival do Rio e vem do Festival de Veneza, do ano passado. A história se passa em um verão, no litoral de Alagoas, entre adolescentes. *Classe trabalhadora na capital do agronegócio: terra, trabalho e espaço urbano em Sorriso-MT, do sociólogo Luiz Felipe F. C. de Farias, é mais uma leitura relevante sobre as contradições do cenário das chamadas ‘cidades do agronegócio’. Apoiado em fontes documentais, estatísticas e entrevistas, o autor desvenda o processo de constituição de um espaço em que se revelam “forte segregação social, o encontro conflituoso de etnias e novas formas de exploração, juntando pedaços de um Brasil diverso e desigual”, como ressalta a Editora Alameda, na sua apresentação. *Grande programa, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, a exibição de oito filmes em homenagem a Marlon Brando e Marcelo Mastroianni que completariam cem anos este ano. Brando agora, em abril. Mastroianni em setembro próximo. Pena que a mostra foi rápida demais. Termina no próximo domingo, dia 21. Merece reprise estendida a unidades da Cinemateca em outros estados. *O jornalista e correspondente brasileiro Pepe Escobar, sediado no Oriente, está no Brasil para encontros com o público durante os quais falará sobre o declínio da ordem imperialista e a ascensão do mundo multipolar. Em São Paulo, na livraria Tapera Taperá, sábado, dia 20, entrevistado pelo professor Lejeune Mirhane. Dia 22, Clube de Engenharia no Rio de Janeiro. Em seguida, dia 25, será a vez de Salvador, e dias 26 e 27, Belo Horizonte. Escobar é autor, entre outros, do livro Império do caos. **Jornalista carioca. Foi editora e redatora em programas da TV Globo e assessora de Comunicação da mesma emissora e da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foi também colaboradora de Carta Maior e atualmente escreve para o Fórum 21 sobre Cinema, Livros, faz eventuais entrevistas. É autora de vários livros, entre eles Novos velhos: Viver e envelhecer bem (2011), Manual Prático de Assessoria de Imprensa (Coautora Claudia Carvalho, 2008), Maturidade – Manual De Sobrevivência Da Mulher De Meia-Idade (2001), entre outros. As informações acima são fornecidas por editoras, produtoras e exibidoras. A imagem é uma montagem do site Fórum21. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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