Curtas
Golpe contra Lula tinha data limite e duas linhas de organização, apontam investigações da PF
Golpe contra Lula tinha data limite e duas linhas de organização, apontam investigações da PF
A coluna de Malu Gaspar, em O Globo, revelou elementos colhidos até então pela Polícia Federal sobre o golpismo de Jair Bolsonaro. Segundo a publicação, as investigações apontam para a existência de duas dimensões paralelas de organização, além de uma data limite para a tomada do poder, caso o presidente da República perdesse as eleições.
A data em questão seria 18 de dezembro de 2022, véspera da data inicialmente prevista para a diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar da diplomação do presidente eleito ter sido feita em 12 de dezembro, os golpistas continuaram tramando de acordo com o cronograma inicial.
A coluna afirma que fontes a par das investigações revelaram também que há indícios de duas linhas de atuação. Uma seria a operacional, responsável pela organização de manifestações, bloqueios em estradas e tumultos como o do dia 12 de dezembro, quando carros e ônibus foram queimados na área central de Brasília após a prisão de um líder indígena por atos antidemocráticos. O outro seria o núcleo político, que trabalhava em uma espécie de “arcabouço legal” para justificar as medidas de exceção a serem tomadas assim que uma dessas iniciativas de tumulto “popular” fosse bem sucedida.
A “minuta do golpe” encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres ou o texto que, segundo o ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, foi discutido com comandantes das Forças Armadas, seriam parte desses esforços.
Apesar das linhas serem desenvolvidas de forma paralela sem que houvesse interação, haviam personagens-chave que se encarregaram justamente de garantir que as ações bem sucedidas de insurgência ou tumulto fossem seguidas pela intervenção ou pelo golpe. Um desses personagens seria o próprio Mauro Cid. Outro, o ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general da reserva Walter Braga Netto.
Ainda segundo a matéria, “tanto em um núcleo quanto em outro havia uma presença notável dos chamados kids pretos, militares egressos das Forças Especiais, a tropa de elite do Exército, da qual participaram tanto Braga Netto quanto o então comandante Marco Antonio Freire Gomes. Outros kids pretos que tiveram participação no governo Bolsonaro foram o general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o general Ridauto Fernandes, que foi diretor de logística do Ministério da Saúde”.
As investigações da PF seguem, mas já encontraram evidências contundentes sobre as afirmações da coluna nos inquéritos do 12 de dezembro, do 8 de janeiro, da ação da Polícia Rodoviária Federal e o das milícias digitais. Como, por exemplo, o áudio revelado pela CNN em maio passado e que não teve a data exata informada pela PF, Ailton Barros trata do “cronograma” do golpe:
“Conceito da operação: Então, hoje já é meia noite e cinquenta e nove de quinta-feira, dia 15 de dezembro. É o seguinte: então, entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando o Freire Gomes para que ele faça o que ele tem que fazer. Até amanhã à tarde (que seria o sábado dia 17), aderindo bem, ele faça um pronunciamento. (…) E se ele não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar o moral da tropa.” E depois de repetir o roteiro, Barros conclui: “Aí vai ser tudo dentro das quatro linhas”.
Em outro trecho, Barros afirma que eles já estavam “estamos no limite da ZL”, ou zona de lançamento, que no jargão militar designa a área ideal para a deflagração de uma ação.
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