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Eu plural

Eu plural

Cultura por RED
02/11/2024 09:00 • Atualizado em 01/11/2024 14:07
Eu plural

Por NAIA OLIVEIRA*

“A relação da pluralidade de pessoas com a pessoa singular a que
chamamos ‘indivíduo’, bem como da pessoa singular com a pluralidade,
não é nada clara em nossos dias”. Norbert Elias

Ainda mais quando nos sentimos várias, me sinto mulher, cidadã,
brasileira, italiana, feminista, amiga, socióloga, filha, ecologista,
irmã, ceramista, mãe e carregando alguns mistérios. Assim surgiu o
livro EU PLURAL.

Os escritos fazem parte da minha vida desde sempre, poemas, cartas,
textos guardados inicialmente na gaveta, agora em arquivos no
notebook. Faz algum tempo, em uma sessão terapêutica, meu psiquiatra
reforçou que continuasse escrevendo e publicasse, pois nos meus
relatos, sua escuta percebia um tom literário. Segui a orientação e
fui descoberta que grafava crônicas quando um grande amigo leu alguns
dos meus escritos que foram publicados no “Na Pandemia com Chico”.

Confesso que recentemente foi muito prazeroso escrever essas
narrativas de fragmentos de memórias. Vivenciar essa pluralidade de
eus muitas vezes trouxe conflitos, pois sou de uma geração para a qual
a exigência da especialidade era muito forte. As escolhas deixam
dúvidas, circunstâncias atacam o dito livre arbítrio nublando ainda
mais o plano pessoal que nem sempre é claro, transparente e
consciente.

Agradeço à Annie Ernaux, escritora francesa que ganhou o Prêmio Nobel
de Literatura em 2022, pois através da sua obra literária
fundamentalmente autobiográfica que reporta às ciências sociais, venci
o desafio para, através da escrita, unir a memória dos meus diversos
em mim com uma história privada e social, buscando fazer literatura,
sendo socióloga.

Literatura para mim é escrever a vida, não exatamente a minha vida,
pois penso que o singular também é plural. As experiências da vida
podem ser compartilhadas e romper com a solidão. A vida oferece um
material para ser observado, que pode permitir o entendimento e
revelar uma verdade que sai do particular, e pode chegar no mais
geral, sai do pessoal e pode atingir o coletivo, o universal. É comum
o leitor se identificar com situações do livro que lê. Repito que não
se trata de contar a história da minha vida, mas busco entender
situações vividas, bem como compartilhar com outras consciências e
memórias. Trata-se de um contínuo diálogo com o mundo. Para mim
escrever é uma atividade política, pode contribuir para busca da
transformação pessoal e social. Minha escrita se situa nessa dimensão
que considero amorosa e envolve literatura, sociologia, história…,
me arrisco a caracterizar como autossociobiográfica.

Não me vejo como uma escritora, fico lisonjeada quando assim sou
reconhecida, me sinto como uma mulher que escreve, publica e busca se
aprimorar. Essa constatação de que a arte é um dom, eu questiono, pois
exige grande esforço. Para tanto fiz curso de escrita criativa, de
crônicas, curso sobre meu escritor preferido João Guimarães Rosa,
minhas escritoras preferidas Virginia Woolf e Clarice Lispector e
continuo buscando aprender.

Temos hoje no Brasil muitas mulheres que escrevem, Maria Valéria
Rezende ressaltou essa constatação ao propor a organização do Mulherio
das Letras. Confesso que leio muito, não sei do que gosto mais,
escrever ou ler.

Literatura, pode ser definida como a arte da palavra, ou arte da
escrita. Temos o romance, conto, crônica, novela, poesia, autobiografia e outros que são entendidos como gêneros literários,
pois apresentam as mesmas características estruturais. A auto-ficção,
atualmente reconhecida, flexibilizou essa visão rígida, borrou o
limite entre romance e autobiografia, anuviou a singularidade de cada
um. Lembram que expus que não gosto da distinção de escritora, porque
quero a liberdade de fazer a minha literatura, entre as literaturas, e
fugir de qualquer catalogação.

Convido para nos encontrarmos na Feira do Livro dia 06/11,
quarta-feira, às 18:00 hs, quando estarei no espaço dos autógrafos
fazendo o lançamento do livro EU PLURAL, que conta com prefácio de
Enéas de Souza, design gráfico de Liana Timm, projeto e produção
editorial Território das Artes.

 

*Socióloga e ecofeminista.

Foto: Divulgação

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