Opinião
Da crueldade da guerra
Da crueldade da guerra
De NORA PRADO*
Da crueldade da guerra há muito mais a condenar
do que os destroços da paisagem e os escombros
que ela sepulta em fração de segundos reduzindo
vidas e histórias, únicas, à poeira e à desolação.
Homens e mulheres equivalem a punhados de formigas
enxames de marimbondos, subitamente, aniquilados.
Das atrocidades da guerra há tanto a lamentar
quanto o pus das feridas abertas e a cegueira
dos bebês deformados sem misericórdia.
Mães desesperadas e adolescentes sem rumo
perambulando atônitos por uma cidade desfigurada
e murcha, sem contornos, para chamar de sua.
Das barbaridades da guerra, a pior delas
é o cinismo dos generais e governantes
calculistas, insistindo pela força bruta
em nome do direito de defesa
e retaliações desproporcionais.
Sobram braços e pernas destroçados, cabeças decapitadas
e um fedor de carne queimada e apodrecida infestando o ar.
Hospitais superlotados com centenas de inocentes
esfolados vivos e milhares de corpos sem casa e pão.
Falta comida e água, falta um cantinho onde se deitar
alguma coisa semelhante ao que, um dia, fora um lar.
Sobram bombas e o som horrendo das metralhadoras
vomitando ódio e humilhação, generalizada, perante
órfãos da miséria e do desterro, gente sem direito
a um país, um estado, uma casa para viver em paz.
Das atrocidades da guerra, por baixo do choro convulsivo e gritos de agonia
escorrem dólares e acordos milionários
entupindo a boca de poderosos desprezíveis e magnatas
da indústria armamentista, lucrando os tubos, com essa chacina.
Da crueldade da guerra só me resta chorar sobre essas palavras
numa espécie e de prece para anestesiar a desgraça e a dor
Um rosário feito de lágrimas e ossos quebrados latejando
no deserto onde nada pode ser pior que a solidão de
vivo, testemunhar a carnificina praticada por irmãos
e a desesperança embalsamando os corpos a luz do sol.
*Atriz, Coaching para Cinema e Televisão, Arte Educadora, Poeta e Fotógrafa.
Imagem em Pixabay.
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