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Como É A Piauí, A Milionária Revista Que Não Tem Dono

Como É A Piauí, A Milionária Revista Que Não Tem Dono

Geral por RED
11/11/2024 08:30 • Atualizado em 10/11/2024 21:00
Como É A Piauí, A Milionária Revista Que Não Tem Dono

Por JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DA CUNHA*

Uma revista que não tem dono ou acionista majoritário, nem depende essencialmente de um anunciante, e que por isso se apresenta como sendo “dona do próprio nariz”. Assim é a piauí, publicação fundada em 2006 e que desde 2021 ganhou o que seria uma “garantia da perenidade”, ao passar a ser financiada quase que totalmente com recursos de um fundo patrimonial de R$ 350 milhões doado ao Instituto Artigo 220, organização sem fins lucrativos.

Em uma conversa com o grupo virtual Nova Coonline, formado por jornalistas veteranos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Brasília, o diretor de Redação André Petry detalhou a operação da revista e esta forma peculiar de financiamento. Provocado a falar sobre o sucesso da publicação, explicou que a piauí atendia a uma demanda diferente da atual, pois havia um ambiente político e profissional muito diferente do atual. Ao ser criada, em 2006, “a revista tinha “um papel mais bem humorado, com a publicação de contos, ensaios e anedotas, além de jornalismo, claro. Com os anos, a situação foi se alternando, e nos últimos anos a revista muda porque o ambiente profissional também  se altera”, falou o jornalista.

Lembrou que as redações vão se precarizando, a crise do modelo de negócio da imprensa reduz o tamanho das redações, que passam a ser integradas por pessoas muito mais jovens e menos experientes, a publicidade cai, as assinaturas desabam. “Com isso, a revista Piauí ocupa um espaço que não está em disputa, pois não tem ninguém fazendo reportagens longas, ninguém fazendo jornalismo narrativo…” Neste período em que está na direção, Petry considera que a publicação é hoje mais uma revista de jornalismo mais imprescindível, “não porque seja melhor que qualquer outra, mas por fazer um trabalho cada vez mais diferente e cada vez mais raro no cenário da imprensa brasileira”.

Petry considera como “uma situação peculiar no Brasil e no mundo” o modelo de financiamento que possibilita que se produza uma revista como esta. O fundo patrimonial, que em 2021 era de R$ 350 milhões, é considerado suficiente para cobrir o custo anual da piauí – cerca de R$ 16 milhões por ano na época – e rentável o suficiente para sustentar a revista permanentemente dentro do tamanho que tinha. Se quiser fazer qualquer investimento adicional, a publicação precisa gerar suas próprias receitas novas. Por isso, segundo Petry, “tem a perenidade assegurada”. Está entrando no terceiro ano deste tipo de financiamento, e em todos estes anos acabou com as contas equilibradas. O fundo banca algo em torno de R$ 12 milhões anuais, enquanto assinaturas, venda avulsa e anúncios garantem uma boa receita anual, de cerca de R$ 6 milhões.

Petry foi enfático ao afirmar que não está no horizonte acabar com a versão impressa: “Não vamos nem discutir esta questão. Temos o entendimento de que a versão impressa é diferente da versão impressa de jornais e revistas: ela é colecionada, pois tem outro significado para nosso leitor e não vai virar papel de embrulho. A versão impressa é uma espécie de estrela guia, que dá o tom do que nós queremos, que tipo de jornalismo praticamos, qual é o tipo de jornalismo narrativo. Se isso sumir, desorienta a pequena constelação da piauí”.

O profissional reconheceu que há uma certa idiossincrasia por parte da redação ao não querer fazer pesquisa para saber quem é seu leitor. Mas através dos assinantes no digital, identificou que os leitores estão na faixa etária entre 20 e 40 anos, “o que é um dado espetacular, pois todo veículo quer ter seu leitorado nesta faixa”. E não é um público abastado, com renda elevada, mas “é alto em seu interesse intelectual”, segundo Petry.

O jornalista fez questão de enfatizar que a piauí não tem um dono; é bancada pelo instituto, e tem um conselho editorial composto por sete membros, presidido pelo inspirador do modelo, João Moreira Salles. A este Conselho o diretor de Redação se reporta em reuniões trimestrais. Na produção da revista, a redação, formada por 25 profissionais distribuídos entre Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, tem total autonomia para decidir sobre a pauta e seus rumos. Os integrantes do conselho só tomam conhecimento do que se faz ao receber a revista impressa no início de cada mês. A rekvista que, com ujma modesta tiragem de 50 mil exemplares por mês, segue sendo considerada uma das mais importantes publicações do país.

No encontro com a Nova Coonline, André Petry falou mais sobre a crise atual da imprensa e do jornalismo impresso em especial, do posicionamento da revista nas redes sociais, e também da política, agora impactada pela eleição de Donald Trump no Estados Unidos. A íntegra da conversa pode ser conferida no YouTube, em

 

*José Antônio Vieira da Cunha

Foto de capa: Reprodução

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