?>

Opinião

Civilização versus Barbárie: A Virtual Vitória de Lula em 30/10

Civilização versus Barbárie: A Virtual Vitória de Lula em 30/10

Artigo por RED
05/10/2022 14:51 • Atualizado em 06/10/2022 10:55
Civilização versus Barbárie: A Virtual Vitória de Lula em 30/10

De ILTON FREITAS*

“Nem rir, nem chorar, compreender”, é um antigo adágio chinês que se demonstra útil para guiar análises sobre os eventos da política. No entanto nos meios progressistas e democráticos paira uma certa perplexidade sobre o resultado das eleições majoritárias presidenciais, e um certo receio em relação a seu desfecho no segundo turno, no próximo dia 30/10.

Na verdade a surpresa não é tanto em relação a votação extraordinária do ex-presidente Lula, que amealhou mais de 48% dos votos válidos, e que se encontra a pouca distância para a confirmação da vitória eleitoral. O que produziu um “gosto amargo” para o campo progressista foi a expectativa – justificada – de uma vitória eleitoral no primeiro turno. Muito embora as pesquisas revelassem uma possibilidade de 2º turno por conta da margem de erro (2 a 3%) presentes em qualquer metodologia séria e confiável. Contudo, o levante patriótico e a onda de entusiasmo criado pela campanha de Lula talvez expliquem a frustração de muitos em não poder comemorar a vitória na primeira volta. Mas ultrapassada a ressaca eleitoral é pertinente que comparemos o desempenho eleitoral de 2018, com o de 2022, conforme ilustra graficamente o mapa abaixo por municípios:

Mapa comparativo das eleições presidenciais por município 2018/2022. Em O Globo.

Obviamente que em 2018 o candidato representante do campo progressista era Haddad, que cumpriu um papel notável de defesa do projeto democrático e popular. Mas como sabemos sua expressão eleitoral era e é menor do que a do ex-presidente Lula. Em 2018, Haddad fez 31 milhões de votos no 1º turno, o presidente Lula fez 57 milhões dos válidos no último domingo. Contudo, o que é importante perceber no mapa é o aumento da votação expressiva da votação na candidatura presidencial do PT nesse ano em todo o território, sobretudo, em municípios da região sudeste e sul. Nesse sentido se compreende que a muito boa alavancagem eleitoral de Lula para o segundo turno, em consideração ao enraizamento de sua candidatura é um fato marcante e indelével. E que junto ao seu poder de atração ao eleitor de centro que será expresso nas alianças eleitorais, podemos caracterizar que o ex-presidente está virtualmente eleito.

Remarco que virtualmente não significa eleito. Contudo, o segundo turno não é uma outra eleição. De certo modo ele é uma continuidade da primeira volta e na história dos pleitos em colégios de grande magnitude eleitoral dá para contar nos dedos as reviravoltas eleitorais. Sobretudo se for considerada a alavancagem de votos do candidato para o segundo turno. No caso do ex-presidente Lula o percentual de votos válidos na primeira volta é preditor de vitória eleitoral. Diferente se um candidato favorito passa para o segundo turno com menos de 40% de votos válidos no primeiro. Nessa caso sim, poderíamos nos referir que estaríamos diante de uma nova eleição. Não é o caso do segundo turno das presidenciais brasileiras.

Por fim, é necessário reconhecer que a média das pesquisas indicavam uma votação de 36 a 38% na candidatura neofascista. Mas se percebeu que nos últimos dias de campanha o movimento por voto útil carregou eleitores à direita, e Bolsonaro se beneficiou levando o pleito para o segundo turno. Uma hipótese a considerar é se o desempenho de Ciro Gomes como linha auxiliar da extrema-direita impactou ou não um considerável voto (i)nútil. Por hora são muitas as conjecturas que procuram explicar o desempenho eleitoral importante de uma liderança tão desqualificada como Bolsonaro. O fato a reconhecer é que as hostes e projetos reacionários desencadeados pelos inimigos internos e externos do País, encontraram uma expressão política na ignominiosa figura de Bolsonaro.

No entanto, cumpre dizer que Bolsonaro teve diminuída sua votação em relação ao primeiro turno do pleito de 2018. O que denota considerável desaprovação, além do fato inédito de um presidente candidato a reeleição não sair vitorioso no primeiro turno. Creio que nos próximos dias ficará mais evidente se estaremos diante de uma disputa eleitoral renhida, ou, se o projeto reacionário do atual governo bateu no seu teto. Seja num, ou, noutro cenário o favoritismo é do filho legítimo do Brasil, isto é, o ex-presidente Lula.


*Doutor em Ciência Política, historiador, foi pesquisador associado do Centro de Estudos Internacionais de Governos (CEGOV/UFRGS). Autor dos livros Transparência e Controle na Era Digital – A agenda da democracia brasileira, editado pela Armazém Digital, Porto Alegre, 2012; e Guerra Híbrida Contra o Brazil, editado pela Liquidbook, em 2019.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

Toque novamente para sair.