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BPC – O Culpado pela inflação
BPC – O Culpado pela inflação
Por LUIZ ALBERTO DE VARGAS*
Na linguagem cifrada e falsamente neutra do tecnoeconomismo dos canais telejornalísticos, já temos o novo responsável pelo rebrote inflacionário, tão temido dos histéricos de plantão que vaticinam um futuro tenebroso a cada aumento sazonal nos preços, como se a desorganização econômica dos anos 90 (quanto tivemos inflação de 84% ao MÊS) estivesse na esquina e retornasse sempre que o preço do tomate subisse alguns reais. Dizem, absurdamente, que o culpado pela inflação agora são as pessoas com deficiências ou idosas com mais de 65 anos, que não conseguem prover a própria manutenção, nem de sua família e recebem um salário-mínimo por mês, o chamado “BPC” (benefício de prestação continuada).
A utilização de uma sigla para designar um dos benefícios assistenciais mais importantes do país (que, junto com o Auxílio Brasil Bolsa-Família são o coração de um projeto político pelo qual 24 milhões de brasileiros deixaram de passar fome) mostra bem, não somente o desprezo da grande imprensa com políticas que favoreçam a maioria, como também uma tentativa de ocultar as pessoas que, sem essas prestações, essas pessoas voltaram à linha da miséria.
Pois, a pressão midiática insiste que a inflação (que hoje assola todos os países do mundo pela recessão econômica dos Estados Unidos) tem um causa local e mais próxima: o cidadão ao seu lado na Feirinha Ecológica que também está reclamando pelo tomate mais caro.
– Como ele poderia reclamar, quando o culpado é ele??
Sim, pois como “ensinam” os “jornalistas econômicos” (que leem e comentam acriticamente as “recomendações do mercado” travestidas de pesquisas Boletins Focus), os preços dos tomates sobem porque haveria um “excesso de demanda” de consumidores exigindo avidamente tomates para fazer o molho para suas pizzas – e não por causas diversas, como, por exemplo, o excesso de chuvas).
Segundo essa “genial teoria”, esse excesso de demanda é causado, nesse momento, principalmente por um inegável êxito do Governo Lula 3 que reduziu o desemprego para 7,9%, a menor em 10 anos, causando uma escassez relativa de mão-de-obra (leia-se: os brasileiros cada vez menos precisam se submeter a um trabalho que não desejam aceitando um salário inferior).
Para esses intransigentes defensores das leis de mercado, nesse caso específico, contrariando seus princípios, se justifica abandonar temporariamente os postulados do liberalismo econômico e demandar uma intervenção do Estado no sentido de atuar para reduzir o contingente de trabalhadores que percebem o “BPC” e, assim, obrigá-los a voltar ao mercado e competir com os demais trabalhadores, criando uma escassez relativa que pressione os salários para baixo (e, claro, os lucros dos empresários para cima). Finalmente, completando o silogismo perfeito do irrealismo econômico consumido como verdade inexorável por cem por cento dos comentaristas econômicos e “especialistas” entrevistados nos telejornais, somente assim (assegurando a manutenção dos salários dos trabalhadores em níveis “suportáveis” para os empresários), será possível assegurar, pelo bem do país, tanto a lucratividade intacta do empresário como uma “moderação salarial” que não pressione os preços relativos do mercado e evitar a volta da temida inflação (que, aliás, como reconhece até o Banco Central – veja só -, esse ano não ultrapassará a meta fixada pelo Copom).
Por isso, se você for um adepto do “mainstream” do mercado, quando encontrar nosso “BPC” comprando tomates, é provável que diga pra ele que deveria estar trabalhando ao invés de se dar ao luxo de comer pizza.
*Luiz Alberto de Vargas é Desembargador do Trabalho no TRT4.
Foto: Media Cache – Pinterest
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