De LISZT VIEIRA*

1 – A Argentina tem suas especificidades, entre a quais destacam-se uma inflação de 120% este ano, e uma inflação de 142,7% em 12 meses.40% da população vive na pobreza, e 9,3% abaixo da linha da pobreza. Somente isso já ajudaria muito a explicar o desejo de mudança.

2 – O discurso tresloucado do candidato vencedor tem pontos comuns com o discurso alucinado de Bolsonaro. A tônica é dizer que é “contra o sistema”, o que a maioria dos eleitores não sabe bem o que significa, mas percebe que se trata de mudar. Assim nada de perder tempo em discutir programas ou projetos de governo. Basta ser contra o sistema, criticar a corrupção, prometer cortar despesas do Estado com serviços públicos, apresentados como inúteis e nocivos ao país.

3 – A promessa de cortar despesas públicas em nome do “déficit zero”, teto de gastos ou equilíbrio fiscal tem o objetivo de enfraquecer o Estado para mais facilmente canalizar os recursos públicos para o Mercado.

4 – A esquerda, no poder, implantou projetos sociais importantes, mas se vê obrigada a fazer acordos em nome da governabilidade por não ter maioria no Congresso. Com isso, políticos de direita são nomeados para altos cargos no aparelho de Estado e o Governo faz concessões ao mercado com a promessa de déficit zero.

5 – A eleição de Milei acendeu o sinal amarelo no Brasil. As concessões políticas e econômicas ao Centrão e ao Mercado enfraquecem o Governo face ao semiparlamentarismo em ascensão. Corremos o risco de termos um Governo fraco, cheio de políticos de direita e fazendo concessões ao Mercado. A continuar assim, seremos todos presa fácil do discurso populista de direita “contra o sistema”. Já vimos esse filme, mas a eleição de Milei veio jogar água no moinho do bolsonarismo.

*Formado em Direito e Ciências Sociais, professor universitário, foi político brasileiro, ligado ao movimento ambientalista.

Imagem em Pixabay.

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