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Opinião

Aquele tal de rock and roll

Aquele tal de rock and roll

Artigo por RED
11/05/2023 05:30 • Atualizado em 15/05/2023 07:33
Aquele tal de rock and roll

De LEONARDO MELGAREJO*

A informação sobre a morte da Rita Lee reanima a importância da irreverência, da alegria e da capacidade de síntese que sua genialidade aglutinava e ainda hoje espalha entre nós.

Sua ausência faz reverberar lá no fundo de quem somos aquelas frases especiais que nos atingiam como chamados à vida. Não importa se seriam mensagens cifradas, orientações escondidas em versos e canções repletas de sentidos ou tão somente o óbvio, que ela rindo desnudava. Mexiam conosco, nos acordavam, nos animavam a viver a vida por inteiro.

Como não relembrar quem ela era/é, e o que isso significa desde a perspectiva do que já fomos, do que agora somos?

O que houve quando, de repente e ao nosso redor, percebemos amigos se transmutando, remodelados como pasta de apatia conivente, passando a ser aquilo que lhes seria o exato oposto? E nós? Nós não? Nós também?

Recolocando os discos a girar, resta claro que Rita Lee não sucumbiu ao poder das bajulações, à sedução das tolerâncias mornas, às vantagens de dizer sim. Nada disso, em suas palavras, “ela não foi boa gente, mas era gente boa”, até o fim.

E nós? Como ficamos, nesta postura acomodada, escutando sertanejos e roqueiros fascistas, de aluguel, fazendo não enxergar os que se acotovelam para fortalecer os demônios que ela enfrentou?

Pois parece ser contra isso que nos alerta, nos atiça, aquela Rita Lee que nesta semana (e exatamente porque nos deixou) se faz presente em todas as mídias.

Como uma árvore frondosa que cai na mata fechada, a saída de cena de Rita Lee traz luz sobre regiões ensombrecidas. Oferece nova oportunidade de despertar, para tudo que ali descansa. Cria desafios e alimenta sonhos. Impondo efervescência e ebulição a todos que se acomodavam em qualquer tipo de escurinho do cinema.

Ela nos relembra: É hora de agir. Basta dessa vida sossegada, viver é vir à tona e se assumir como gente.

Aquele ônus de ser a ovelha negra de uma família fascista é, na verdade, o prêmio da maturidade, a ser desfrutado por quem sabe o valor de alimentar a rebeldia que anima tudo que dança sob o sol ou ao som daquele tal de rock and roll.

Pois bem, é neste sentido que reproduzo aqui um chamado à ação coletiva. Está em jogo lei que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos no Ceará. As forças do atraso, que tentaram abafar a Rita que existe em nós e que já derrubaram a lei gaúcha que nos protegia de venenos não autorizados nos países onde são fabricados, agora pretendem retirar dos cearenses um direito que conquistaram à custa de sofrimentos e mortes. Um direito que deveria ser extensivo a todos os brasileiros, e que os europeus já desfrutam há mais de 20 anos.

Para ajudar nisso, circula nas redes, e reproduzo aqui um apelo: precisamos manifestar aos ministros do STF, que entre 19 e 26 de maio julgarão pedido de inconstitucionalidade da Lei Zé Maria, endosso ao parecer da Ministra Carmem Lucia e ao voto do Ministro Fachim, ratificando que “não há óbice constitucional a que os Estados editem normas mais protetivas à saúde e ao meio ambiente quanto à utilização de agrotóxicos”.]

Dependendo de nossa ação ou apatia se definirão rumos para o pacote do veneno que, como serrarias e garimpeiros em busca de árvores e metais preciosos, ameaçam a vida de todos.

O texto da carta, que penso agradaria dona Rita Lee, poderia ser o que segue:

*Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Ministro(a) do Egrégio Supremo Tribunal Federal*

MINISTRO GILMAR MENDES: audienciasgilmarmendes@stf.jus.br
MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI: gabinete.mrl@stf.jus.br
MINISTRA CÁRMEN LÚCIA: gabcarmen@stf.jus.br
MINISTRO DIAS TOFFOLI: gabmtoffoli@stf.jus.br
MINISTRO LUIZ FUX: gabineteluizfux@stf.jus.br
MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO: gabmlrb@stf.jus.br
MINISTRO EDSON FACHIN: gabineteedsonfachin@stf.jus.br
MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES:  gabmoraes@stf.jus.br
MINISTRO NUNES MARQUES: gmnm@stf.jus.br
MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA: secretaria.gmalm@stf.jus.br

Nós, do (nome da entidade, associação, organização ou mesmo do grupo de vizinhos, condomínio, família…) vimos, respeitosamente, expor nossa preocupação acerca da Ação de Declaração de Inconstitucionalidade n°6137, proposta pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA, que pretende declarar a inconstitucionalidade da Lei n° 16.820/2019, do Estado do Ceará, que veda a pulverização aérea de agrotóxicos. Encarecemos que com sua interveniência a Lei n° 16.820/2019, do Estado do Ceará, popularmente conhecida como Lei Zé Maria do Tomé, seja DECLARADA CONSTITUCIONAL*, respeitando assim a autonomia do ente em legislar por uma maior proteção da saúde de sua população e do meio ambiente.

Cordialmente…


*Engenheiro Agrônomo, mestre em Economia Rural e doutor em Engenharia de Produção. Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio  e presidente da AGAPAN. Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.

Foto destacada de Pablo Piovano, fotógrafo argentino que retratou vítimas dos agrotóxicos.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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