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Opinião

A virtude na Guerra dos Farrapos

A virtude na Guerra dos Farrapos

Artigo por RED
15/05/2023 05:30 • Atualizado em 17/05/2023 10:11
A virtude na Guerra dos Farrapos

De ADELI SELL*

Desde as guerras narradas por Homero em A Odisseia, a virtude, as regras, a excelência moral eram um
parâmetro de conduta. Falava-se em ARETÉ. Alexandre preservou o que os seus derrotados tinham, não destruindo nada com suas conquistas.

Nada parecido com a Ucrânia e a Síria da atualidade. Não há conduta e ética quando se atacam alvos civis…

Em Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, os ditames da nobreza inglesa estão postos e preservados.

Vemos à partir da literatura que as pessoas podem e devem melhorar, pois os heróis da história erram, julgam mal um ao outro, são preconceituosos e orgulhosos, mas se arrependem, pedem desculpas e… melhoram.

Aqui, ao Sul do mundo, Onofre Pires ao derrotar os legalistas “passou todo mundo nas armas”. Nada de virtudes! Assim como na Guerra Civil de 1893-95, na qual as duas partes estavam longe de qualquer parâmetro de conduta, pois as degolas aconteciam “a torto e a direito”…

Onofre Pires comandou a invasão de Porto Alegre do dia 19 ao 20 de setembro de 1835, tomando a capital. Seu primo Bento Gonçalves assumiu o comando em seguida. Onofre e Bento foram presos na Batalha do Fanfa sob o comando do General Andrade Neves. Depois de fugirem da prisão do Rio e da Bahia voltaram às suas peleias.

Onofre, em 1844, acabou em “guerra” com Bento pelas formas de conduzir a Guerra…

Bento pede a Onofre explicação e este confirma suas críticas. Vão a um duelo. Afinal, a honra ditada por suas condutas só poderia ser assim: duelo! Nada de excelência, nada de virtude. Nada de empatia, nada de areté. Não poderiam conviver num mesmo espaço com tais diferenças. Era um ou outro.

Bento fere Onofre, mas não o executa. Ele morre quatro dias depois por causa da gangrena. Não havia penicilina.

Este episódio deve ter sido uma exceção à época. No Rio Grande do Sul, somente na disputa entre castilhistas e assisistas, o General Flores da Cunha não recebe as armas de Honório Lemes, pois um general gaúcho não desarma outro general gaúcho. Havia um Código e era respeitado.

Mas voltando à Guerra dos Farrapos, o massacre de Porongos é o oposto à virtude, à “areté”. É a traição no lugar da excelência moral.

Assim, naquela disputa – 1835/1845 – o duelo que não é uma conduta de excelência moral, mas o seu resultado, não matar o vencido, deve ter sido o único caso no qual se repete a regra de conduta narrada por Homero. Não se tira a vida do adversário caído e desarmado.


*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Imagem representando o duelo entre Onofre e Bento – reprodução da internet, sem autoria encontrada.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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