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Opinião

A democracia começa a ser resgatada

A democracia começa a ser resgatada

Artigo por RED
01/11/2022 17:00 • Atualizado em 04/11/2022 10:07
A democracia começa a ser resgatada

De ALEXANDRE CRUZ*

Esses dias estive no Bar Faísca em Porto Alegre. Por lá rolou um sarau cujo tema principal foi o livro Corpo Presente, de Cláudia Marzano. Quem me avisou foi a minha amiga e escritora Helena Terra. Aliás, neste lugar, pelo menos naquele dia, havia uma grande concentração do PIB cultural. Guardada a devida proporção, parecia um ambiente saído da ótima obra do Hemingway, Paris em Festa. Encontros e conversas do mundo intelectual. No livro, era numa cafeteria. O nome do bar estava a altura, pois faísca significa fagulhas, luminosidade e centelhas de  ideias em peso.

Os leitores que estavam no Faísca foram convidados a declamar o poema do próprio livro, o qual a inspiração da Cláudia nasceu no tempo da adversidade do confinamento da pandemia. Época da incerteza, da angústia. No Corpo Presente, o poema Ego, uma poesia fantástica que mostra este tipo de personalidade  que traz tantos prejuízos que carrega para si e para as relações. Por fim, eu recebi de presente da Helena o seu livro Bonequinha de Lixo. Um tema sério, grave, que envolve a doença do patriarcado passando por pedofilia. A técnica da escrita da Helena é suave, com sequências de textos de tirar fôlego perante ao tema tão complicado e que me perdoem uma parte dos intelectuais que torcem o nariz ao universo futebol, no entanto, me lembrou o time do Barcelona comandado pelo Pep Guardiola. Muito toque, técnica, arte, principalmente nos jogos difíceis.

É disso que o Lula (que tem) vai precisar muito: habilidade para costura política num momento grave que passa o país. Domingo, festejei muito. Uma gigantesca vitória diante de cascata de mentiras e uma poderosa máquina pública usada sem precedentes no nosso Brasil. Na mesa do Cotiporã, rodeado de colorados e petistas e do campo da esquerda, estava a emoção. O choro presente. Cada um com suas memórias e sofrimentos particulares. Fomos para rua. Uma maré vermelha na Cidade Baixa, principalmente na rua Lima e Silva. Sai de lá com alma lavada. Chovia muito. Quando caminhava lentamente em direção ao carro para ir embora, as gotas frias da chuva não apagavam da memória por tudo que ocorreu neste nefasto governo Bolsonaro e vinha acesa a esperança de um novo governo que defende a cultura, educação, redistribuição de renda, quiçá uma renda fiscal equitativa. Se via rostos felizes, o símbolo do L presente e o povo dançando e abraços a mil.

Mesmo assim, o outro lado não desiste de implementar o golpe. Não aceita o resultado eleitoral. Escrevo este artigo na terça-feira, 01/11, e até o momento beira o silêncio do Jair Bolsonaro. E o resultado eleitoral foi no domingo. E nas rodovias federais e estaduais, pneus queimados bloqueiam  o acesso do direito de ir e vir dos motoristas. Caminhões parados realizam o muro da insanidade e da intolerância. Postos de combustíveis em Porto Alegre e em outros lugares praticamente desabastecidos.

Essa gravidade da situação cujo movimento é provocar Estado de Sítio não irá prosperar. Bolsonaro está isolado. As Forças Armadas já reiteraram diversas vezes que não será cúmplice do golpe. O Tribunal Superior Eleitoral, cuja presidência é o Alexandre de Moraes, ontem, anunciou uma multa pesada seguido de ameaça de prisão ao diretor da Polícia Rodoviária Federal caso não cumpra a lei de desbloquear as vias para os usuários irem para os seus trabalhos, retornarem as suas casas ou mesmo comparecer a consultas médicas. A presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, junto com as demais magistraturas da alta corte da Justiça, guardiã da Constituição, vai para o mesmo caminho e apoia as ações em curso do Alexandre Moraes, do TSE.  O Centrão recuou. Os atuais presidentes da Câmara e do Senado reprovam qualquer intento golpista. O vice presidente Mourão, que foi desprezado pelo Jair durante os quatro anos, ontem já conversou com  o Geraldo Alckmin e reconheceu a vitória. No exterior, os países já cumprimentaram o Luiz Inácio Lula da Silva. Reconhecem o presidente eleito, a legitimidade do pleito eleitoral, principalmente os países mais relevantes como Estados Unidos e China. E os países europeus também!

Muitas Helena Terra, Chico Buarque, Pep Guardiola estarão presentes no espírito do Lula para compor, costurar de uma forma hábil num tempo tão difícil. E não duvidamos da capacidade política do Lula. Um gênio!  Saberá com certeza construir pontes, desmontar armadilhas de um ego doentio chamado Bolsonaro e bolsonarismo. O presidente eleito buscará trazer coesão a este país. E o  próximo governo terá o objetivo de resgatar a democracia.

Parabéns, presidente Lula. Seguimos em frente na transição e posse! E tomo a liberdade de dizer que pode contar com o Comitê em Defesa da Democracia e o Comitê Suprapartidário Lula/Alckmin, do qual faço parte.


*Jornalista.

Imagem em Pixabay.

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