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Geral

CUT-RS realizará plenária em defesa do IPE Saúde
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A Central Única de Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS) promove nesta segunda-feira, 5, às 14h, Plenária Estadual de Mobilização em Defesa do IPE Saúde, a fim de mobilizar a participação de dirigentes de entidades sindicais e associações que representam usuários do plano de saúde. A plenária ocorre em crítica ao projeto de reestruturação do IPE Saúde (PLC 259/2023), encaminhado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) para a Assembleia Legislativa em regime de urgência. A CUT-RS critica que a sociedade foi deixada de fora do debate sobre o futuro do instituto. Para o presidente da entidade, Amarildo Cenci, “o governador ignora a informação de que o estado deve um valor superior ao déficit acumulado do IPE Saúde, oriundo do não repasse de contribuições, da venda de patrimônios e do congelamento salarial (...) Defendemos que a solução para a crise do IPE Saúde passa pelo reajuste geral dos salários, já que os servidores e as servidoras estaduais estão com perdas de até 60% e não têm condições que pagar mais pelo atendimento de saúde”, destaca. O encontro será em formato híbrido, realizado no auditório da CUT-RS (Rua Barros Cassal, 283, em Porto Alegre), e através da plataforma Zoom. Para aqueles que desejam participar de forma online, a CUT-RS está disponibilizando o link de acesso em seus grupos de Whatsapp. Demais interessados podem preencher o formulário do Google ou entrar em contato com a secretaria-geral, através do whatsapp (51) 99581-5797. Foto: Carolina Greiwe/Ascom IPE Saúde

Politica

Tony Garcia diz que gravou autoridades a mando de Moro: depoimento pode mudar rumos do judiciário
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O delator Tony Garcia prestou depoimento sigiloso à Justiça no qual fez graves denúncias contra Sergio Moro e procuradores da força-tarefa de Curitiba por ilegalidades cometidas na Lava-Jato. Alguns detalhes do depoimento foram revelados pela revista Veja na última sexta-feira, 2, e, mais tarde, no mesmo dia, Garcia deu entrevista à TV 247, onde confirma as revelações e dá mais informações sobre o caso. Se confirmadas, as ações denunciadas por Garcia são uma exposição escrachada dos pecados da Lava Jato, pois mostram que Moro e os futuros procuradores da Lava Jato já trabalhavam em parceria bem antes. Na entrevista, o delator afirma que foi coagido pelo ex-juiz suspeito e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR) a forjar informações à revista Veja que pudessem comprometer o ex-ministro José Dirceu (PT). A entrevista foi concedida em 2006. Em 2012, Dirceu foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal no âmbito da Ação Penal 470, o chamado Mensalão, com voto da ministra Rosa Weber, que tinha Sérgio Moro como juiz auxiliar. Garcia ainda destacou os esforços de Moro e aliados para prejudicar o Partido dos Trabalhadores. “O que eles botavam na minha boca… para buscar coisas contra o PT, para tirar o Lula da eleição. Fui instado a procurar coisas contra o PT através do Eduardo Cunha, que era meu amigo. Uma perseguição clara (contra o PT)”, disse ele. Para Luís Nassif, do portal GGN, "o depoimento dele (Garcia) pode explicar a resistência do TRF4 em permitir uma gestão transparente na 13a Vara. Mas abre o caminho para a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça e o próprio STF para proceder a maior operação da história, de limpeza do Judiciário. E depressa, já que há indícios de destruição de provas. O GGN ainda elencou algumas das acusações gravíssimas contidas no depoimento: Félix Fischer. A longa mão da Lava Jato era eminentemente paranaense. Começava com Moro, a estendia-se para a 8a Turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região, depois pelo paranaense Félix Fischer, no Superior Tribunal de Justiça, e pelo paranaense Luiz Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal. No depoimento, Tony diz que um dos grampos flagrou Bertholdo pagando honorários a Sérgio Fischer, filho de Félix. Seu nome não entrou no inquérito, mas deu a Moro poderes sobre Fischer. Baile das cuecas. Conta que por volta de 2003, Bertholdo organizou um “baile das cuecas” no principal  hotel de Curitiba, para o qual vieram vários desembargadores do TRF4 em jatinhos fretados (a sede do Tribunal é em Porto Alegre). O encontro teria sido filmado. Obviamente, Tony terá que apresentar provas e pistas robustas. No episódio em questão, segundo ele, bastaria levantar a ficha dos hóspedes do hotel na data mencionada. Depoimento escondido por Gabriela Hardt. Tony sustenta que deu um depoimento em juízo para Gabriela Hardt, narrando os pontos principais de seu trabalho. Em vez de levar adiante, ela engavetou. No curto período em que esteve à frente da 13a Vara, o juiz Eduardo Appio mandou desengavetar. Afastado, o primeiro ato de Hardt foi engavetar novamente. Tony era, também, amigo de Eduardo Cunha e prometeu revelar, em juízo, ações que empreendeu no impeachment de Dilma Rousseff. Assista o depoimento de Tony Garcia a Joaquim de Carvalho, na TV 247: https://www.youtube.com/watch?v=ULdbXXAqMI0  

Geral

RS contabiliza 43 mortes por dengue este ano
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Na última semana, o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), vinculado à Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, confirmou mais três óbitos por dengue no estado, chegando a 43 mortes pela doença só nos cinco primeiros meses de 2023. O estado já contabiliza 19.457 casos confirmados de dengue. Dos 19.457 casos confirmados de dengue em 2023, 17.777 são autóctones, ou seja, quando o contágio ocorreu dentro do estado. Os demais são os chamados importados (residentes do RS que foram infectados em viagem a outro local). Em 2022, o RS registrou seus maiores índices da doença em toda a série histórica. Foram mais de 57 mil casos autóctones e outros 11 mil casos importados. Ao todo, foram registrados 66 óbitos por dengue durante todo o ano passado. Em 2023, nem se chegou ao meio do ano e o número de mortes já ultrapassou a metade do número do ano passado. O Cevs ressalta que é fundamental adotar medidas de prevenção à proliferação e circulação do Aedes, com a limpeza e revisão das áreas interna e externa das residências ou apartamentos e eliminação dos objetos com água parada. O uso de repelente também é recomendado para maior proteção individual contra o aedes aegypti. Já a Secretaria da Saúde destaca a importância da população procurar atendimento médico nos serviços de saúde logo nos primeiros sintomas para evitar o agravamento da doença. Os principais sintomas da dengue são: - Febre alta (39°C a 40°C), com duração de dois a sete dias - Dor retro orbital (atrás dos olhos) - Dor de cabeça - Dor no corpo - Dor nas articulações - Mal-estar geral - Náusea - Vômito - Diarreia - Manchas vermelhas na pele, com ou sem coceira Imagem de Wikipédia


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Metas fiscais? Monetárias? E as sociais?

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Metas fiscais? Monetárias? E as sociais?
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De PAULO NOGUEIRA BATISTA JR* O Brasil tem metas para a inflação desde 1999. Acabamos de lançar metas para o resultado primário das contas públicas. Por que não teríamos, também, metas sociais? Por que só metas monetárias e fiscais? Eis a pergunta que não quer calar. Se dependesse do mercado financeiro e dos economistas da mídia corporativa, os objetivos sociais, aceitos retoricamente como “importantes”, “relevantes”, “essenciais”, seriam estabelecidos de forma bem genérica, flexível e vaga. Em contraste com os monetários e fiscais, especificados com cuidado, detalhes e rigor, especialmente os fiscais. Na ausência dessas especificações, não haverá confiança na política econômica, asseguram os economistas ortodoxos, com ampla ressonância midiática. Já os objetivos sociais, vistos na prática como menos relevantes, podem ficar na esfera do meramente vago. Preciso fazer uma ressalva antes de prosseguir. Longe de mim considerar irrelevantes as sagradas metas fiscais e monetária. Pelo amor de Deus! (Estou até me benzendo aqui.) Gostaria apenas de sugerir que metas sociais talvez sejam importantes também. O pouco caso com questões sociais é típico dos brasileiros privilegiados, tacanhos em visão e aguerridos na defesa dos seus interesses imediatos. O povo que se vire, que se contente com as sobras do banquete. Enquanto os pobres padecem, a pequena minoria continua vivendo tranquila no paraíso dos rentistas em que se converteu o Brasil – único país, repito, que oferece aos aquinhoados a possibilidade de aplicar as suas gordas poupanças em títulos líquidos, sem risco e com alta remuneração real. Paraíso dos rentistas e, também, paraíso fiscal de todos os super-ricos, que têm carga tributária superleve, e ainda assim reclamam, indignados, quando se tenta fazê-los pagar um pouco de impostos. Um nojo, em suma. Pequeno distúrbio, porém. Desde janeiro de 2023, o Brasil tem um governo declaradamente reformista, comprometido, tudo indica, com a distribuição da renda e o combate à fome e à miséria. Uma serpente no paraíso dos rentistas e super-ricos. Rosnando volta e meia, a Faria Lima observa com inquietação os movimentos de mudança esboçados por Brasília. Opera na mídia, por um lado, e nos bastidores do Executivo e do Congresso, por outro, para obstruir tentativas de fazer um pouco de justiça social. Vozes autorizadas protestam contra os “ruídos” do Presidente da República, que estaria supostamente atrapalhando a condução da política econômica. Foi eleito pelo voto direto, sem dúvida, mas deve ficar reduzido à condição de um inofensivo e decorativo Rei da Inglaterra. Um parêntese Paro de repente, e releio o que escrevi. Sinto necessidade de abrir um pequeno e rápido parêntese. É que um texto como este, dirigido a um público não especializado, não pode ficar circunscrito a generalidades; tem que descer ao nível do concreto e dar nome aos bois. É a melhor maneira de retratar as classes dirigentes brasileiras, quase sempre caricaturais e burlescas, como já dizia Machado de Assis. Vejamos. Um bom exemplo é o financista Ilan Goldfajn, que ocupa atualmente o cargo de presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Lá está o bufunfeiro, confortavelmente instalado em Washington. Nada sabe de desenvolvimento, é verdade, mas tem a pose e a solenidade que o cargo requer. A sua função, na realidade, tem pouco a ver com financiamento do desenvolvimento. O que lhe cabe é essencialmente cumprir as ordens do Tesouro dos EUA, que manda e desmanda no BID. Pelo Tesouro ele foi eleito, e do Tesouro receberá orientação e instruções detalhadas. Mas o ponto a que quero chegar é o seguinte: o bufunfeiro em questão, como todos, presta as suas homenagens enfáticas à distribuição da renda e ao combate à miséria. Recentemente, esteve num congresso como keynote speaker. Quando chegou a sua vez, encolheu a generosa barriga e subiu ao pódio para proferir a sua conferência. Disse algumas palavras introdutórias, desfiou várias trivialidades, repassou os slogans mais batidos, até que, em determinado momento, estufou o peito, empostou a voz e proclamou: “Tudo faremos pelo progresso social e pela distribuição da renda na América Latina!” Aplausos. Satisfeito, a autoridade internacional voltou a seu lugar, arfando com o esforço que fizera, como um tenor medíocre depois de uma ária difícil. Mas essa figura carimbada é uma entre mil. Temos uma verdadeira legião de economistas e financistas desse tipo, fiéis serviçais do status quo e da turma da bufunfa. Na condição de implementadores ou porta-vozes dos interesses dos beneficiários da injustiça vigente, contribuem incessantemente para que a distribuição da renda e luta contra a pobreza fiquem apenas no plano da retórica e dos keynote speeches. A determinação de Lula É o de sempre, leitor ou leitora. Subdesenvolvimento não se improvisa, dizia Nelson Rodrigues, é obra de séculos. Desta vez, entretanto, temos Lula. Percebe-se que ele não desistiu. Quer porque quer colocar o pobre no orçamento e, além disso, o rico no imposto de renda. Naturalíssima essa insistência. O Brasil, como sabemos, é um dos países com renda e riqueza mais concentradas no mundo. Uma grande parte da população vive na pobreza, passa fome, não tem acesso adequado a serviços básicos como educação, saúde e saneamento. Enquanto isso, os bilionários embolsam juros pornográficos e escapam da tributação. Essa é a nossa miséria nacional estrutural. Responsabilidade social acima de tudo, portanto! Se Lula não lutar até a morte para superar esse quadro de pobreza e injustiça, terá patrocinado um dos maiores estelionatos da história. Mas digo com toda tranquilidade, leitor ou leitora: é visível que o presidente Lula está determinado a honrar seus compromissos de campanha. Não só as promessas de 2022, mas a história de uma vida inteira. Lula deve ser se não o único, um dos poucos líderes políticos que viveu na carne a pobreza e o desamparo. “Todos nós somos cínicos”, dizia Delfim Netto, “só o Lula sabe da vida do povo”. Os políticos e intelectuais discursam ou teorizam sobre a pobreza e a injustiça. Já Lula viveu essa realidade, tem a memória do sofrimento do povo inscrito na sua trajetória desde a infância profunda. E ele tem pressa, pois sabe, como político experimentado, que o tempo corre contra o governo e a favor das forças da inércia e do status quo. Metas sociais – bazucas na única guerra que vale a pena Volto à pergunta que não quer calar. Metas sociais seriam, a meu ver, úteis para dar foco à ação do governo. Num país como o Brasil, são tão ou mais importantes que as metas monetárias e fiscais, consideradas sacrossantas pelo mercado financeiro e seu puxadinho, a mídia corporativa. Não faltam dados da área social no Brasil. É viável, acredito, usar estatísticas conhecidas e confiáveis para construir metas quantitativas específicas, a serem alcançadas em prazos pré-determinados. O ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, anunciou recentemente que em torno de 20 milhões de brasileiros serão retirados da pobreza até o final deste ano, refletindo a retomada do Bolsa Família e os novos benefícios previstos no programa. Hoje, a estimativa do governo é que 62 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza. A busca da responsabilidade social já começou. O governo, desde janeiro, tem tomado medidas pontuais para distribuir renda: a volta da política de valorização do salário mínimo, o aumento do limite de isenção para o imposto de renda na fonte, a mencionada retomada do Bolsa Família, entre outras. Será que esse esforço não se beneficiaria da definição e do anúncio de metas sociais quantitativas? Metas que o governo se proporia a cumprir ao longo do seu mandato, ano a ano, de 2023 a 2026? Essa é uma área em que os partidos de esquerda e o governo Lula contam com quadros experimentados. Não haveria maior dificuldade de mobilizar esses especialistas para selecionar criteriosamente um conjunto de indicadores que balizariam as metas sociais anuais do governo. Por exemplo, a quantidade de pessoas ou famílias com renda inferior às linhas de pobreza e miséria, o número de domicílios sofrendo de insuficiência alimentar, índices de escolaridade e alfabetização, indicadores de acesso à saúde e saneamento básico, indicadores de distribuição de renda, entre outros. Essas metas não seriam de um ministério, mas do governo no seu conjunto. Receberiam, no mínimo, o mesmo destaque e a mesma atenção que recebem as metas macroeconômicas. O anúncio das metas sociais, após cuidadosa discussão, pública e aberta, deveria ser feito pelo próprio Presidente da República, com a pompa e circunstância que o assunto merece. Qual a vantagem de seguir procedimentos como esses? É questão de bom-senso. O anúncio, no mais alto nível, de um conjunto de metas previamente discutido e elaborado com o auxílio dos melhores especialistas ajudará a que todos os setores relevantes do governo, em colaboração com entidades da sociedade, se engajem nessa guerra contra a fome, a pobreza e a injustiça. Como tem repetido o presidente Lula, essa é a única guerra de que nos interessa participar. É preciso lutá-la com garra, determinação incansável, sangue nos olhos. Metas sociais ajudarão a vencê-la. *Economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Lançou no final de 2019, pela editora LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata. A segunda edição, atualizada e ampliada, começou a circular em março de 2021. E-mail: [email protected] Twitter: @paulonbjr Canal YouTube: youtube.nogueirabatista.com.br Portal: www.nogueirabatista.com.br Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista Carta Capital. Imagem em Pixabay. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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Os venezuelanos irão votar nas próximas eleições brasileiras?

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Os venezuelanos irão votar nas próximas eleições brasileiras?
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De LUCIANO FEDOZZI* Nas últimas eleições municipais em Porto Alegre, um caminhão de som circulou nos bairros anunciando que em caso de vitória da candidatura de Manuela e Rossetto (PCdoB/PT) a cidade iria virar uma Venezuela, “onde se come cachorro para não passar fome”. Essa farsa não será evitada nas próximas eleições, porque já sabemos o que a extrema-direita e seus agregados liberais autoritários são capazes de fazer, mas é de se perguntar: está correta a linha de fornecer de peito aberto argumentos a estes inimigos da democracia? Quais são os ganhos nacionais e locais dessa estratégia? Isto ajuda a tarefa primordial que é derrotar a extrema direita e o projeto neoliberal no país e nas cidades? Afinal, hoje em dia, com as mídias sociais, se pode dicotomizar o nacional e o internacional, adotando uma estratégia distinta para cada plano onde se dá a luta pela hegemonia? Sem entrar no mérito da discussão sobre o que se passa na Venezuela, apesar dessa questão ser muito importante para definir as relações normativas e práticas da esquerda socialista em relação a democracia, é urgente debater a atual estratégia internacional do governo Lula, a fim de contribuir para seu sucesso e em consequência para a consolidação da democracia no Brasil e o prosseguimento das reformas populares que são necessárias à reconstrução da nação. Nesse sentido é preciso firmar na direção do projeto democrático-popular, que a tarefa internacionalista primeira é derrotar politicamente em cada país a extrema-direita conservadora e a direita neoliberal do capital, correntes aliadas que constituem uma das coalizões mais poderosas e em crescimento no mundo hoje. Esta é a maior contribuição que as forças de esquerda podem e devem dar ao mundo na atual quadra histórica do capitalismo, marcada pelo crescimento dos neofascismos e todo o tipo de assombro anticivilizatório, negacionista e destrutivo. Esse imperativo político e moral não deve se limitar ao plano interno, mas articular o nacional e o internacional. As ações da presidência da república em nível mundial precisam sempre ter em mente que não se pode facilitar o trabalho do inimigo interno, porque o mundo com mídias sociais mudou a forma de veicular as ações políticas e a forma de construção discursiva das hegemonias. Isto significa medir de forma estratégica cada ato na arena internacional como sendo um ato que também se apresenta na arena nacional. Que fique claro: não se trata de renunciar a princípios que balizam a própria existência da visão de mundo da esquerda diante da atual crise estrutural do capitalismo, mas sim de medir com absoluta clareza as consequências internas das ações adotadas (com atos e palavras) sobre as questões que dizem respeito ao cenário internacional. Hoje, o nacional e o internacional estão mais ligados do que nunca na história das civilizações. Seria um erro grave achar que se pode viabilizar um governo nacional de frente ampla democrática e reconstrutiva do país e ao mesmo tempo efetivar uma política internacional balizada apenas pelas políticas que seriam próprias supostamente a um governo de esquerda. Esta divisão entre o interno e o externo é falha e vai gerar condicionantes internos ainda mais restritivos do que já o são, pelas atuais relações de força tanto nas instituições da democracia representativa como na sociedade em geral. As dificuldades da disputa institucional e societária são suficientemente grandes para justificar a prudência e o cuidado que o projeto político reconstrutivo em curso no Brasil precisa ter, a fim de se viabilizar com sucesso. Engana-se quem acha que o problema da imagem pode ser uma Folha de São Paulo ou a Globo, conhecidas agências neoliberais, apesar de antibolsonaristas e nos últimos anos defensoras da democracia. Sim, a disputa das camadas médias é chave, para o qual boa parte dessa mídia tradicional é representativa. Todavia, o advento das TICs e das mídias sociais tornou a disputa pela hegemonia muito mais difícil, por uma série de razões que especialistas e pesquisas multidisciplinares vêm mostrando. Esta realidade material não pode ser considerada apenas nos períodos eleitorais, mas sim no cotidiano, onde são construídas versões e narrativas, factuais e/ou fake que moldam a opinião e a vontade de um grande contingente da cidadania. Nessa questão o projeto de comunicação é tão importante quanto às próprias ações governamentais. Por outro lado, a ideia de que no plano internacional o governo Lula III está liberado para dizer e fazer o que quiser, como se nessa dimensão o que vale é o projeto da esquerda hegemônica que governa o Brasil, é equivocado e potencialmente danoso. Não interessa à complexa reconstrução do país – ainda que hegemonizada pelo PT no governo – que supõe aliados, demonstrar dubiedades em relação à forma do regime democrático, por mais legítima que seja esta questão. Aliás, isto não é tema pacífico mesmo no campo das esquerdas, e provavelmente nuca o será. E não deve ser nesse momento, já que a opção do PT foi pela defesa intransigente das regras que sustentam nossa democracia liberal, que, apesar de tudo e dos abusos, permitiram a vitória e a posse de Lula. Sabemos dos limites da democracia liberal e do quanto esse modelo vem sendo questionado a partir das reformas neoliberais nos anos 1980 no mundo capitalista. Mas também sabemos das suas virtudes, atestadas por exemplo nas cinco vitórias petistas dentre os nove pleitos realizados no Brasil desde a redemocratização. Por isso, a discussão internacional sobre modelos de democracia e o exercício da soberania popular que se dá em cada país não deve ser um tema prioritário, sob pena de eleger pautas que tem somente a perder no bloco de forças que precisam sustentar o governo e no conjunto da sociedade em geral. A disputa estratégica que realmente precisa e merece atenção, além da defesa de nossa democracia e da ampla participação popular para aprofundá-la, é a que diz respeito à construção da alternativa ao projeto neoliberal e rentista, que sufoca a nação e impõe pesados sacrifícios às classes trabalhadoras e aos segmentos mais empobrecidos. Toda a energia prática e discursiva precisa ser direcionada ao campo interno no que diz respeito à melhoria da vida da grande maioria da população. Reconstrução do Estado e da capacidade de desenvolver políticas públicas redistributivas e atinentes aos direitos identitários, assim como a retomada do desenvolvimento econômico, inclusivo e sustentável, precisa ser o Norte. Isto define a necessidade histórica da luta de classes e pelos direitos humanos básicos no país e no mundo, e é ao mesmo tempo a maior contribuição que podemos dar ao internacionalismo nas lutas contra o neoliberalismo e as antigas e novas formas de colonialismo num mundo em efervescência e transição. Evidentemente, ações em favor da paz, do desarmamento, de relações de cooperação mais justas entre Sul-Norte, da escolha de parceiros estratégicos fora do campo de influência dos EUA e da unidade latino-americana sempre são importantes no papel que o Brasil deve desempenhar. Devemos prosseguir fortalecendo os BRICS, o Mercosul e a América Latina, além de lutar pela reformulação das instâncias da ONU. Como vemos, já são muitas as tarefas para dar conta em nossa política internacional. Elas não precisam de polêmicas desnecessárias ou atitudes típicas de congresso estudantil, com todo o respeito que essas instâncias merecem, porque a decisão nas próximas eleições sobre quem deve governar será dos cidadãos e das cidadãs brasileiras. *Professor de Sociologia da UFRGS. Pesquisador do Observatório das Metrópoles. Imagem em Pixabay. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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Nossa casa está em chamas

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Nossa casa está em chamas
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De LENEIDE DUARTE-PLON*, de Paris É fundamental mudar de paradigma e sair da era dos combustíveis fósseis, dizem todos os relatórios científicos Eu poderia escrever sobre a infeliz ideia de Emmanuel Macron de ter como convidado de honra o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, no tradicional desfile de 14 de julho, nos Champs Elysées. Modi é um personagem tóxico. Mas é um bom cliente da tecnologia francesa: em fevereiro, a companhia aérea Air India assinou uma carta de intenções para comprar 250 aviões Airbus. Poderia escrever sobre muitos assuntos da vida cultural francesa… Mas é urgente falar da destruição do planeta. Ou melhor, a destruição de todas as formas de vida que ele passou milhões de anos a tecer, numa evolução lenta e fascinante. "Nossa casa está em chamas e estamos olhando para o lado." Esta frase que se tornou famosa, frequentemente citada na França, foi lida por Jacques Chirac, em 2002, no seu discurso na IV Cúpula da Terra, em Johannesburg. Ela foi sugerida pelo historiador das ciências do meio ambiente, Jean-Paul Deléange, que lamentava, em entrevista de 2019, a inação dos políticos para limitar o aquecimento global, que avança catastrófico: "Chirac foi um dos primeiros presidentes a ter consciência do problema climático mas não fez muito para combater o aquecimento. Ele não soube se cercar de ministros à altura". Oceanos e montanhas de plástico Na última segunda-feira, 29 de maio, começou na Unesco, em Paris, uma cúpula internacional de 175 países com o objetivo de elaborar um acordo multilateral até 2024. Sete anos depois da COP21 e do histórico Acordo de Paris, cerca de mil delegados e 1500 cientistas e representantes da sociedade civil se reunirão até dia 2 de junho com a missão de "pôr um termo à poluição plástica". É uma corrida contra o tempo levando-se em conta a ameaça que a poluição do plástico representa para os ecossistemas, a saúde humana e o clima: mais de 350 milhões de toneladas de dejetos plásticos são gerados por ano no planeta. E a produção mundial de plástico deve triplicar daqui a 2060, ultrapassando um bilhão de toneladas por ano. A ONG Greenpeace, citada pelo jornal Libération, afirma que "é essencial para os grandes grupos do setor de combustíveis fósseis como Aramco, Total, Exxon e Shell investir maciçamente na produção petroquímica e plástica a fim de encontrar novos produtos. Enquanto os países reduzem sua dependência dos hidrocarburantes, programando a proibição de veículos a gasolina e diesel para breve, estas multinacionais enfrentam esta ‘incerteza existencial’ que o plástico vem cobrir". E têm lucros gigantescos. A matéria de capa do jornal do fim de semana informava que "o plástico se degrada no meio ambiente em micro e nanopartículas que poluem o ar, os solos, a água e todos os ecossistemas a tal ponto que todos nós ingerimos ao menos 5 gramas por semana, o equivalente de um cartão de crédito". A conferência em Paris pretende estabelecer um texto internacional sobre a poluição causada pelo plástico, na esperança de se ver livre deste flagelo que invade os oceanos e as terras. Mais e mais petróleo Enquanto isso, a empresa multinacional francesa de petróleo Total realizou 36 bilhões de euros de lucro em 2022, dos quais 9,4 bilhões foram distribuídos aos acionistas. Mas estes tiveram dificuldade em entrar na Assembléia Geral da empresa, realizada na semana passada em Paris. Dezenas de manifestantes bloquearam a entrada do edifício impedindo a passagem, até serem brutalmente deslocados por policiais CRS, especializados neste tipo de ação. Nove personalidades religiosas (um ex-bispo, um rabino, um monge budista, uma pastora, um pastor protestante, entre outros) se amarraram em correntes vermelhas e brancas para protestar contra dois projetos petrolíferos da multinacional Total: um em Uganda e outro na Tanzânia. Recentemente, vi um documentário sobre os estragos ambientais e humanos que esses dois projetos vão causar e já estão causando desde agora, inclusive com deslocamento de populações e destruição de terras aráveis. Para limpar sua imagem, a Total continua a fazer seu greenwashing investindo uma ínfima parcela de seus lucros em energias renováveis enquanto tem mais de 90% de seus investimentos em energias fósseis, esclarecem as ONGs que protestaram na entrada da Assembleia Geral. O planeta pode se tornar inabitável, mas os governos seguem sob pressão de lobbies dos responsáveis pela poluição, que continuam a explorar o petróleo, o gás e o carvão, os principais responsáveis pelo aquecimento global. Mudança de paradigma Nosso planeta azul tem cada vez mais águas poluídas, ar irrespirável, temperaturas impróprias à vida humana, chuvas torrenciais, secas devastadoras, incêndios catastróficos de florestas e ciclones apocalípticos. E no futuro, tudo tende a se agravar. Gaia, nossa mãe, vai se transformar mas continuará sua existência nessa galáxia que a vê dançar entre os outros planetas. Mas não é a terra que está ameaçada de extinção, dizem os cientistas. O planeta continuará a existir. É a espécie humana que não terá futuro se não estancar seu modelo de dependência de combustíveis fósseis responsáveis pelo aquecimento global, se continuar consumindo no ritmo atual, fabricando lixo plástico no ritmo atual, produzindo carne bovina no ritmo atual e destruindo as florestas no ritmo atual. O planeta está em mutação por ação do homem, que se vê frente à “urgência climática”, essa corrida contra o tempo para frear o aumento das temperaturas que desregulam todos os ecossistemas. Essa reconhecida ação do homem no aquecimento global gerou o termo “antropoceno” – popularizado no ano 2000 pelo químico holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de química em 1995 – para designar uma nova era geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra. "É fundamental mudar de paradigma e sair da era dos combustíveis fósseis", dizem todos os relatórios científicos, cada vez mais preocupados com a corrida vertiginosa para o abismo. O abandono dos combustíveis fósseis é a única forma de reverter o suicídio coletivo da humanidade. Esse abandono total, por enquanto, é apenas uma meta. Na França, os veículos elétricos serão os únicos a poder circular na próxima década. A maioria dos ônibus de Paris (empresa estatal RATP) já são elétricos. A partir de 2024 não será mais possível rodar na França com veículos de motor a diesel. O fim dos veículos a gasolina é previsto para 2030. Esta semana, li um texto de Jean-Marc von der Weid, escrito em maio deste ano no qual ele escreve: "Posso listar algumas das últimas notícias que ou nos levam a uma paralisia de ecoansiosos desesperados ou nos levam à ação para tentar evitar o desastre para o qual o homem caminha levando consigo todos os ecossistemas e suas espécies. Por muito tempo, adotou-se uma visão da economia voltada para a busca do crescimento econômico como a meta da sociedade, aquilo que eu chamo de “pibismo”. Nesta concepção, tudo o que favorece o crescimento do PIB é visto como positivo, independentemente de seus impactos ambientais, sejam eles o aquecimento global, a contaminação de águas e solos, a destruição da biodiversidade, entre outros. Antes do mundo científico acordar para os imensos riscos para o planeta provocados pelo crescimento econômico sem limites, tal visão ainda podia ser discutida. Hoje em dia, ela é um anacronismo perigoso." Ele prossegue criticando projetos de exploração de petróleo na foz do Amazonas e outras riquezas nas terras indígenas… Esperemos que o Brasil acorde de uma vez por todas do sono profundo em matéria de meio ambiente. *Jornalista internacional. Co-autora, com Clarisse Meireles, de Um homem torturado – nos passos de frei Tito de Alencar (Editora Civilização Brasileira, 2014). Em 2016, pela mesma editora, lançou A tortura como arma de guerra – Da Argélia ao Brasil: Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado. Ambos foram finalistas do Prêmio Jabuti. O segundo foi também finalista do Prêmio Biblioteca Nacional. Imagem: Poluição de plástico numa praia de Bali, publicada na semana passada pelo jornal Libération, de Paris. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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O que podemos aprender com a fábula “Antístenes”, de Aristóteles, mais “Jogos de Tronos” na atual conjuntura política brasileira

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O que podemos aprender com a fábula “Antístenes”, de Aristóteles, mais “Jogos de Tronos” na atual conjuntura política brasileira
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De ALEXANDRE CRUZ* "O poder reside onde os homens acreditam que reside. Um homem pequeno pode projetar uma sombra muito grande.” Varys,  A Aranha Quem assistiu aos Jogos de Tronos (série Game Of Thrones) lembrará desta frase emblemática sobre o poder. E Lula tem razão ao ficar surpreso diante de um clima de hecatombe que se instalou dentro do campo da esquerda, na semana passada, com aprovação de esvaziamento da pasta do Ministério do Meio Ambiente. A militância e uma parte dos dirigentes do nosso campo super dimensionaram o poder do Arthur Lira, que ocupa o cargo de presidente da Câmara dos Deputados. A resposta do presidente Lula foi perfeita: não podemos ter medo da política. A palavra chave é a negociação. Uma lição da qual Luiz Inácio Lula da Silva nos remete é que a política deve ser devolvida para a sociedade. Buscar o entendimento que ela é uma relação social. E quando a relação social está quebrada, a política também está. Talvez, seja por isso que uma parte do povo ficou assustada com o poder do Parlamento. Nos períodos sombrios na gestão do Jair Bolsonaro, tivemos a negação da política provocando rachaduras na sociedade brasileira. A ausência da gramática da democracia e a presença forte da sombra do autoritarismo. Estamos muito apreensivos com um GSI civil, com o enxugamento de um número alto de militares que foram nomeados pelo Bolsonaro e que ainda seguem no governo... Estamos nervosos por um arcabouço fiscal que não é muito condizente com o perfil de modelo de esquerda...  A política requer paciência. Para entendermos melhor que não é da noite para o dia que vamos conseguir implementar a marca do governo Lula, tem um diálogo fascinante da série Jogos de Tronos: Lord Baelish: As famílias importantes esquecem a simples verdade que eu descobri. Cersei Lannister: E que verdade é essa? Baelish: O conhecimento é poder. Lannister: (Se dirige aos guardas pretorianos). Apressem. Cortem o pescoço. Alto! Parem! Mudei de opinião. Soltem. Retrocedam três passos. Deem a volta. Fechem os olhos. (Se aproxima do Lord Baelish) Poder é poder! Ou seja, a correlação de força da direita é desproporcional em relação à esquerda. Possui a maioria no Congresso Nacional, tem o controle da mídia, ainda domina o Poder Judiciário e o Exército.  Cada movimento no jogo de xadrez requer muito controle para não cair um passo em falso. No Tratado sobre Política, Aristóteles narra a fábula de Antístenes. Um grupo de lebres reúnem os animais para reivindicar a igualdade de todos eles. Após escutar o resto dos animais, os leões tomam as palavras, elogiam o discurso da lebre, mas perguntam de uma forma irônica: Onde estão as vossas garras e vossos dentes, lebres? Uma mensagem direto para esquerda festiva, psolistas: a fábula lembra a mesma verdade de Maquiavel e Gramsci, os bons discursos, sem garras e sem dentes, não são suficientes... *Jornalista. Imagem em Pixabay. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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A contribuição da mídia gaúcha para a decadência do RS – PARTE 1

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A contribuição da mídia gaúcha para a decadência do RS – PARTE 1
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De CARLOS ÁGUEDO PAIVA* Justiça é tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais na medida de sua desigualdade. Aristóteles. Ética a Nicômaco Chamar o governo do PT de um governo de esquerda stricto sensu é uma impropriedade do ponto de vista do vocabulário. Ele é um governo de centro, de frente-ampla antifascista. Reinaldo de Azevedo. Eu me dou ao direito de mudar de ideia - entrevista a Marco Antônio Villa (14’27’’)   ⦁ Introdução Entre os dias 4 e 20 de julho de 2022, a Rede Estação Democracia (RED) e as Faculdades Integradas de Taquara (Faccat) realizaram aquele que, do meu ponto de vista, foi o mais importante Seminário sobre Planejamento e Desenvolvimento Regional do RS. Mais de 60 palestrantes avaliaram as venturas e desventuras das políticas econômicas de promoção do desenvolvimento global, enfrentamento das desigualdades regionais e equacionamento dos desequilíbrios fiscais. O grupo de debatedores envolveu desde o ex-Presidente da Fundação de Economia e Estatística nos idos tempos de Amaral de Souza e Jair Soares, até o Secretário Adjunto da Fazenda no Governo Leite, passando por ex-Vice-Governadores, ex-Secretários das mais diversas pastas (Fazenda, Planejamento, Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento, etc.), professores Universitários vinculados a pesquisas sobre dinâmicas regionais, lideranças do Fórum dos Coredes, dirigentes municipais renomados por práticas bem sucedidas de planejamento, e pensadores de expressão nacional e internacional acerca da questão do desenvolvimento local e regional. Os resultados deste Seminário (que se encontra integralmente preservado em vídeos), dentro em pouco terão sua divulgação na forma de um e-book que será lançado pela Editora Conceito e pela Faccat com apoio da RED. Eu tive o enorme prazer de ser o Coordenador Técnico deste grande evento; pensado e projetado pelo amigo Benedito Tadeu Cesar, que respondeu pela Coordenação Geral do mesmo. Não resta dúvida de que o Seminário foi um sucesso e que a preservação de sua memória em livro ainda vai dar base para novas reflexões e discussões sobre os destinos, desatinos, caminhos e descaminhos do RS nos últimos 40 anos. Porém, olhando agora o debate realizado no ano passado pelo retrovisor não posso deixar de reconhecer uma falha no mesmo: a ausência de uma reflexão mais aprofundada sobre o processo de reconquista da hegemonia conservadora e neoliberal no RS nas duas últimas décadas e, acima de tudo, pelo papel cumprido pela grande imprensa gaúcha nesse processo. A primeira mesa temática do Seminário acima referido foi um painel sobre o desenvolvimento socioeconômico do RS, seus desafios e potencialidades. O primeiro palestrante desta mesa (realizada no mesmo dia e local da Mesa de Abertura) foi o economista e jornalista Paulo Timm. Sua exposição tem início à 1 hora e 20 minutos deste vídeo, e está centrada nas peculiaridades da formação socioeconômica gaúcha e, por extensão, no papel do Estado e do Planejamento Público na construção daquele que viria a ser, ao longo de mais de um século, o segundo Estado mais industrializado do país; à frente de Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Pernambuco e Paraná. E se é inconteste que, desde o último quartel do século XIX, São Paulo se transformou no centro dinâmico (a “locomotiva”) da economia nacional alcançando, em poucos anos, a posição de maior PIB brasileiro, também é inconteste que, em termos de indicadores de desenvolvimento humano (alfabetização, educação, longevidade, distribuição de renda e da propriedade fundiária, etc.), o RS manteve-se, ao longo da maior parte do Século XX, ou à frente, de São Paulo, ou disputando a primazia com nossa “locomotiva”. Com apoio nas pesquisas de alguns dos melhores analistas do processo histórico de desenvolvimento econômico gaúcho – em especial, Luiz Roberto Targa e Ronaldo Herrlein - Paulo Timm demonstra que o peculiar dinamismo da nossa economia não se baseou (como em São Paulo) na identificação e exploração de um nicho de mercado – o café – cujo potencial de demanda externa era muito grande e o Brasil contava com vantagens competitivas estruturais. Nem se deu sobre qualquer outra vantagem natural ou locacional. A chave do desenvolvimento gaúcho foi o planejamento público, consolidado nas quatro primeiras décadas republicanas, de Júlio de Castilhos a Getúlio Vargas, passando por Borges de Medeiros. Com a Revolução de 30, a expertise de políticos e burocratas gaúchos em gestão e planejamento público foi “exportada” para o restante do Brasil. E se manteve viva e pujante até a gestão Brizola. Durante a Ditadura Militar, houve uma grande concentração de recursos e de poder no governo central, deprimindo a autonomia regional e, por consequência, o próprio estímulo para o desenvolvimento de competências. Mas, com alguns percalços, sobreviveu alguma capacidade de planejamento e gestão até, pelo menos, o primeiro governo Guazelli. O verdadeiro descalabro começa depois. ⦁ O papel da mídia “charrua” na construção do falso consenso Dizer que as competências públicas para o planejamento e a gestão viveram um processo secular de deterioração não é o mesmo que pretender que todos os governantes nos últimos 40 anos foram maus gestores. Absolutamente, não. Ocorre, contudo, que os governos que mais fizeram pelo desenvolvimento do Estado e pelo equacionamento das finanças públicas, são tratados, sistematicamente pela mídia “charrua” como irresponsáveis e gastadores. Enquanto os governos que ajudaram a levar o Rio Grande Amado para o fundo do poço, são incensados como os salvadores da pátria e da lavoura. A questão que nos interessa entender aqui é o porquê de tanta distorção da realidade. Trata-se de ideologia arraigada ou mera ignorância? Jornalistas renomados que vêm se dedicando ao tema – dentre os quais se destaca minha ex-aluna e querida amiga Juliana Bublitz - tendem a associar de forma direta nossos problemas crônicos de crescimento e desenvolvimento aos déficits crônicos e à dívida acumulada. Não vejo a questão exatamente da mesma forma. Deixo para explicar meu ponto mais adiante. Mas entendo que quem abraça esta perspectiva tem o dever de analisar a fundo e no detalhe quais foram os governos que trouxeram o RS para o estado fiscal e financeiro atual. Mas não é isso que acontece. Num determinado momento da matéria Como se originou a dívida do RS , Juliana declara: “...não há um único culpado. É o resultado de uma combinação crônica e perniciosa de gastos excessivos, descontrole a apostas erradas, cujos efeitos foram potencializados por crises econômicas nacionais e internacionais.” Alguém pode discordar dessa afirmação? Evidentemente não. Quem poderia pretender que uma dívida de bilhões de reais pudesse ter um único “culpado” por sua constituição. Quem pode negar que há fatores internos, nacionais e internacionais na estruturação da mesma? Lida de uma certa forma, a frase não passa de uma tautologia. Porém, ela também pode ser interpretada como uma generalização indevida. Sub-repticiamente, somos induzidos a pensar que todos os governos, sem exceção, erraram. E o fizeram exatamente da mesma forma: gastando demais. Nesse caso, Juliana precisaria nos responder duas questões: ⦁ Onde mesmo que houve os tais gastos excessivos? Na Educação? Na Saúde? Na Segurança? No transporte coletivo? Na infraestrutura? Ou com prebendas, sinecuras e corrupção? Em todas estas áreas simultaneamente? E todos os governos foram iguais e devem ser igualmente responsabilizados? .... ⦁ O problema é sempre de “gastos excessivos”? Não poderia ser, também, de arrecadação insuficiente? Qual o nível de desoneração da economia gaúcha? Por que os dados do Fundopem não são abertos à sociedade? Por que nem mesmo o Tribunal de Contas do Estado tem acesso a estas informações? Qual é a evasão fiscal no RS? Isto não é um problema? Na sequência, ainda na introdução geral do mesmo artigo, Juliana entrevista e cita dois economistas: João Batista Soligo Soares, do (TCE) e Liderau dos Santos Marques Jr. (ex-FEE; atual DEE). João Batista declara que o RS é “como aquele parente que todo mês, há anos, gasta mais do que recebe, faz novas dívidas e não consegue mais sair do buraco. Estamos pagando pela existência do Estado no passado”. Numa pequena frase, duas grandes teses; ambas, totalmente descabidas: 1) o Estado pode ser comparado a um “parente oneomaníaco” (com compulsão ao gasto); e 2) a dívida de hoje é o custo da existência do Estado ontem. Onde estão os erros? O Estado não é como uma família. Muito menos um parente em permanente crise de insanidade. Primeiro porque, quando ele gasta (com salários ou aposentadoria, por exemplo, seus dois maiores dispêndios), ele estimula o consumo e arrecada mais ICMS. Ao gastar, aumentam suas receitas. A isto se chama “efeito multiplicador do gasto”. E o maior efeito multiplicador da economia gaúcha é, justamente, aquele associado aos gastos do governo. Além disso, um parente quebra – e pode ser interditado para não quebrar. O Estado não. Na pior das hipóteses, pode aumentar a arrecadação lançando novos impostos. Por fim, o Estado não é “descartável”. Não é algo “cujo custo” possamos não cobrir. Alguém que possamos interditar ou, no limite, internar para tratamento. Desde logo, porque seus gastos não são supérfluos. Ele não gasta com bebidas, drogas, sexo, rock and roll e consumismo. Ele gasta com salários e equipamentos para a operação dos serviços públicos básicos que atendem à população em geral: Saúde, Educação, Segurança, Justiça, Regramento e Legislação, Políticas de Desenvolvimento Regional, etc. Pergunto novamente: em que ponto, em que momento, os gastos com essas áreas se tornaram “excessivos”? Já, segundo Liderau, “durante décadas ..., a estratégia foi gerar déficits (despesas maiores que receitas). Era relativamente fácil fazer empréstimos e não havia maior preocupação em relação a isso, porque nas horas de extrema aperto era possível contar com o socorro da União. Isso só começou a mudar em 1994, com a estabilização econômica, e em 2000, com a Lei de Responsabilidade Fiscal.” Em suma: até FHC, vivíamos o festerê da imprevidência. Com a chegada do Príncipe dos Sociólogos ao poder, atingimos o Estado de graça. Claro que isto teve uma que outra consequência perversa. Como, por exemplo, o endividamento galopante dos Estados e a incapacidade de alguns deles cumprirem com suas obrigações com a sociedade. Mas isto é somenos importância. O único que importa é que a baderna acabou. O Governo Federal não deu as condições para que os Estados cumprissem suas obrigações. Apenas impediu os Estados de gastarem demais, subtraiu recursos pela lei Kandir, colocou os juros lá em cima (para garantir a ancoragem cambial do real) e exigiu que os Estados cumprissem suas obrigações constitucionais com a sociedade, sem recursos próprios, e sem poder se endividar. E Liderau trata dessas consequências como se fossem “danos colaterais”. Não, não são colaterais. São danos centrais. Mas João Batista e Liderau têm todo o direito a terem suas próprias leituras e as defenderem. Meu ponto central é outro. Por acaso esta é “A” (artigo definido singular) visão dos “economistas”? Não há visões alternativas? Será mesmo que a Economia é uma ciência tão insossa e tão exata que não admite sequer aquelas polêmicas básicas que dividem – por exemplo – a Física, sempre às voltas com a necessidade e as dificuldades de integrar relatividade geral e física quântica? No mundo da Economia todos concordam em tudo e há sempre uma única e mesma resposta? Ou será que a nova geração de jornalistas está perdendo a capacidade de investigar e esquecendo o princípio mais elementar desta importante profissão: se há versões contraditórias, a equidistância e a dúvida metódica exigem que todas elas sejam apresentadas para bem informar o leitor? E, acima de tudo, qual a influência dos nossos “jornalões” nessa perda de capacidade? ⦁ Para além do Rio Grande Amado: a evolução da mídia em outros Estados É público e notório que os jornalões brasileiros são de um conservadorismo extremo e não primam pelo respeito à verdade. Não gratuitamente, o Brasil encontra-se usualmente abaixo da mediana de liberdade de expressão segundo o ranqueamento dos Repórteres Sem Fronteiras. Os dois quesitos que nos rebaixam sistematicamente são a violência que incide sobre repórteres investigativos (que, no limite, levam ao assassinato dos mesmos) e a censura interna dos jornalões à livre manifestação de opiniões dos jornalistas. O caso é seríssimos e conta com amplo reconhecimento internacional. Contudo – e apesar das aparências em contrário – há mudanças em curso. A Lava-Jato – com todas as suas ilegalidades, estrepolias e loucuras – não teria sido possível sem o apoio insensato da mídia reacionária. O casamento de um discurso oportunista contra a corrupção – com prisões espetacularizadas de empresários e políticos – e a divulgação permanente, efusiva e festiva destes eventos pela mídia alimentou uma verdadeira “onda” fascista no país; cujo resultado foi a eleição de Bolsonaro. Ora, mesmo aqueles que saudaram a “onda” em seus primórdios foram percebendo, pouco a pouco, que “havia gato na tuba”. A face política do “juiz” – que já era visível em conduções coercitivas ilegais e em seu padrão de atuação como promotor em todo o processo – foi evidenciada quando Sergio Moro largou a magistratura para ser Ministro de Bolsonaro. Mas, se alguém ainda tinha alguma dúvida legítima, elas não poderiam sobreviver à Vaza-Jato, comandada por Glenn Greenwald e The Intercept Brasil a partir de 2019. As revelações da Vaza-Jato são um “corte epistemológico” na interpretação que o Brasil pode e deve fazer de si mesmo. Se alguém tinha o direito de ter dúvidas de que o caso Lavo-Jato era puro lawfare, este alguém deixou de tê-lo após o evento. O mínimo que se exige desde então de uma pessoa sem “certezas ideologicamente pré-concebidas” é a imposição da dúvida. Uma dúvida que, por inúmeras razões, teria que ser minada desde dentro nos anos que se seguiram. A começar pelas práticas de Bolsonaro que levaram ao afastamento (até) de Sergio Moro do Ministério pelo fato deste último defender alguma (pouca) autonomia para a Polícia Federal, passando pelas revelações mais recentes de todas as prevaricações do pobre sujeito (do extermínio Yanomami, às joias do Oriente Médio, passando pelo cartão de vacina, pelas aquisições milionárias de chuleta e linguiça calabresa para povos indígenas que nunca chegaram ao seu destino e pelas próteses penianas dos militares). É possível perdoar quem não viu esta dimensão aética, corrupta, miliciana, menor, vulgar, medíocre e antissocial de Bolsonaro até 2019? Eu, particularmente, acredito que sim. A mídia nacional tem uma capacidade de lavagem cerebral que é única. Foram anos de oposição sistemática e fakenews divulgadas em todos os horários. Em especial, nos horários nobres. Junte-se o apoio das Igrejas Pentecostais, o Orçamento Secreto e as barras de ouro para intermediar recursos para a “educação” nas prefeituras, e teremos o caldo de cultura da (pseudo)ignorância. Mas o fato de ainda existirem fãs de Bolsonaro, Moro e Dalagnol dentre os “tios e tias do zap” e/ou dentre os militares formados pela AMAN e suas “conjes” não justifica que tantos “intelectuais e jornalistas investigativos” ainda pretendam que “Lula não demonstrou sua inocência” ou que (na melhor das hipóteses) “Lula e Bolsonaro são duas faces da mesma moeda”. É bem verdade que os grandes jornalões do país – especialmente os de São Paulo; vulgo Tucanistão – não fizeram qualquer autocrítica pública do apoio à Lava-Jato, ao impeachment de Dilma e à prisão de Lula. Mas, de outro lado, não há como negar uma sutil inflexão da grande mídia nacional. Há algum tempo que as organizações Globo estão suavizando seu antipetismo. Assim como a própria Veja. Até mesmo a Jovem Pan – que chegou a demitir Reinaldo de Azevedo por suas críticas à Lava-Jato e a Marco Antônio Villa por suas críticas a Bolsonaro - agora está afastando dos seus quadros a turma fascista mais raivosa (nem que seja para evitar processos por fakenews) E, dada a expressão e o público cativo de Reinaldo e Villa, eles foram contratados, respectivamente, pela Bandeirantes e a CNN como âncoras de programas de grande sucesso. Já na mídia “charrua” a coisa vai como sempre: de vento em proa; só de ré. Nos recentes “anos de chumbo”, em que os líderes da República foram Eduardo Cunha, Michel Temer e Jair Bolsonaro, a Zero Hora demitiu Luís Fernando Veríssimo e Moisés Mendes, os derradeiros cronistas de esquerda de sua bateria “de uma nota só”. Enquanto isso, o Correio do Povo e a Rádio Guaíba demitiam e calavam Juremir Machado da Silva. Ora, direis, ouvir Juremir. Certo é que perdeste o senso! ... Não. Não perdi. Juremir dá uma no cravo e outra na ferradura. Privilegia sua fama de enfant terrible a qualquer coerência. Porém, não obstante, todavia, contudo, é preciso reconhecer duas coisas: 1) com todas as suas idas e vindas, Juremir mostrou-se insuportável para o grupo editorial do Bispo Macedo; 2) ele é um jornalista que - como Reinaldo de Azevedo ou Marco Antônio Villa - conta com um público expressivo e é capaz de atrair leitores, audiência e recursos. Porém, a mídia “charrua” não é apenas conservadora. Ela é chucra. E. ao invés de recontratar seus cérebros privilegiados, prefere contratar J.R Guzzo. Para se ter ideia de quem seja, vale lembrar um de seus textos mais recentes na ZH, intitulado A Casa Caiu, que começava assim: Desde o começo, a história do 8 de janeiro pareceu esquisitíssima. Depois de três meses de esforços desesperados do governo Lula e de seus aliados para esconder a verdade, a casa caiu. Imagens publicadas pela CNN mostram o general Gonçalves Dias, homem da confiança de Lula, em atitude de colaboração com os invasores que vandalizaram o Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. A “tentativa de golpe” e os “atos terroristas” tiveram a participação, incentivo ou cumplicidade de agentes do governo. É por isso que Lula e o PT lutaram com tanta ferocidade para impedir a CPMI sobre o que realmente aconteceu. Creio que eu posso me dar ao direito de não fazer qualquer comentário sobre um tal devaneio sádico-onírico. Quando o autor de um texto não consegue mais diferenciar a sua vontade de ver algo, daquilo que realmente se sucedeu, é porque o princípio da realidade se rendeu integralmente ao princípio do prazer. Neuróticos criam castelos no ar. Psicóticos os habitam. Quando a mídia “charrua” demite gênios como Veríssimo e dá voz a moradores do Castelo de Kafka, que futuro você projeta para o Rio Grande Amado? Do meu ponto de vista, um futuro bastante triste. E não só em função dos moradores do Castelo. Mesmo pessoas inteligentes e com formação sólida parecem ser tragadas pelo senso comum da mídia conservadora e chucra. Assim é que, num outro artigo, intitulado Afinal, a dívida do RS com a União já foi paga?, Juliana Bublitz faz uma (nem tão) discreta defesa do Regime de Recuperação Fiscal afirmando: O que vale para o RS vale para os demais. ....  O fato é que qualquer revisão por parte do Congresso, da União ou do Supremo Tribunal Federal envolve o todo - e não apenas o Rio Grande do Sul. Por isso é tão difícil obter o perdão da dívida ou um amplo abatimento do saldo. Isso precisa ser levado em conta no debate em torno do Regime de Recuperação Fiscal. (Juliana Bublitz, ZH, 09/05/2022) Juliana tem Doutorado em Desenvolvimento Regional. E o princípio primeiro do Desenvolvimento Regional é reconhecer que um mesmo movimento histórico traz consequências distintas para territórios distintos. Juliana tem uma sólida formação em História. E a História nos ensina que movimentos similares trazem consequências distintas quando efetivados em momentos distintos. Por isso mesmo, a cada artigo seu que leio, não consigo deixar de me afligir e me entristecer com suas crescentes concessões ao padrão narrativo RBS. Na RBS de hoje só vicejam dois tipos de “jornalistas”: o direitão truculento (na linha J.R.Guzzo) e o defensor de teses fofas e anódinas, típicas do senso comum. E me dá uma vontade maluca de gritar para Juliana o que o pai de Maddy gritava para sua filhinha sequestrada por espíritos malignos em Poltergeist: “Não vá para a luz, Juliana, não vá para a luz.” ⦁ A História da Crise Fiscal: bem além do senso comum dos jornalões gaudérios Logo após a Introdução do artigo Como se originou a dívida do RS, Juliana Bublitz apresenta um Quadro-Mapa do Brasil com informações sobre a relação entre “dívida x receitas” que tem algo de “assustador”. O Quadro-Mapa está reproduzido abaixo. Ora, se seguirmos as pistas dadas até agora por Juliana, João Batista e Liderau não há como deixar de chegar à conclusão de que o RS é o Estado com a pior gestão do Brasil. É um gastador impenitente, incapaz de planejar e – como gostam de dizer os arautos do senso comum – de “fazer o dever de casa”. O RS é um “parente-garotinho mal comportado”. O problema, contudo, é que a história contada por Juliana e a história real são muito diferentes. Para entender a peculiaridades da nossa dívida é preciso recuar no tempo, para muito antes da crise econômica que leva à queda da Ditadura Militar. Vamos ver onde se encontram as raízes históricas da dívida gaúcha. As consequências da Proclamação da República no RS e a precocidade da aposentadoria integral do funcionalismo público gaúcho A República foi o resultado da articulação política de dois grupos com interesses bem distintos: o Exército e a Cafeicultura Paulista. Ao Exército interessava um programa de modernização conservadora - mas com inclusão social das camadas não proprietárias da sociedade; exatamente aquelas camadas donde advinham os seus quadros – levado à frente por um Estado forte e centralizado. O Curso de Filosofia Positiva e O Catecismo Positivista de Auguste Comte eram os livros de cabeceira de Benjamin Constant, Floriano Peixoto e Júlio de Castilhos. De outro lado, a cafeicultura paulista tinha um anseio muito distinto: a criação de um Estado hiper liberal, com pouco poder arrecadatório, desvinculado da sustentação de um aparelho de Estado custoso e da promoção do desenvolvimento regional através da instalação de equipamentos caros e complexos (como as ferrovias) em Estados (à época, Províncias) da periferia da nação. A riqueza de São Paulo ficaria em São Paulo. Em contrapartida, cedia-se o direito das oligarquias regionais retrocederem a um Estado de beligerância e conflitos coronelísticos como não mais se vira desde a transmigração da Corte de Dona Maria e Dom João. Como se sabe, o projeto paulista foi vencedor no Brasil. Mas, no Extremo Sul do país, uma estranha “aldeia gaulesa” manteve intacto o projeto do Exército. Por quê? Porque o RS sediava a maior parte das tropas do Exército brasileiro, sempre preocupado com um possível conflito com Argentina, Uruguai e Paraguai (o acesso ao Paraguai só podia ser feito pelo Mato Grosso ou RS; a mata atlântica em SC e PR era, então, intransponível). Júlio de Castilhos comandava o Partido Republicano Riograndense com mão de ferro e abraçava um positivismo radical. Tão radical que, hoje, seria considerado um político situado à esquerda do PT. E ele escreve (sozinho) a Constituição do Estado do RS e a promulga na simbólica data de 14 de julho de 1891. Ela toda é uma Constituição centralizadora e autocrática. Mas o que realmente perturbou a “paz interna” foi o Artigo 47 da nossa segunda Carta Magna. “Art. 47 - Só à Assembleia compete lançar impostos I – Sobre exportação; II – Sobre imóveis rurais; III – Sobre transmissão de propriedade; IV – Sobre heranças e legados; V – Sobre títulos de nomeação e sobre vencimentos dos funcionários do Estado. § 1º - A exportação de produtos do estado e a transmissão de propriedade deixarão de ser tributadas, logo que a arrecadação do imposto chamado territorial estiver convenientemente regularizada.” A Constituição de Castilhos não se contentava em dizer que haveria um Imposto Territorial Rural. Anunciava que ele seria a base da arrecadação pública, com a depressão paulatina das alíquotas sobre exportação e transmissão de propriedade, até a extinção destes dois tributos. Inconformados com o projeto castilhista, os grandes proprietários de terra de todo o Estado se levantaram contra o novo governo, dando início à mais sangrenta revolução da História do Brasil: a Revolução Federalista. O grupo de Júlio de Castilhos foi vencedor na refrega. Mas, para tanto, dependeu do apoio de Marechal Floriano, ainda na presidência, que enviou tropas do Exército para “colocar ordem” no território. Um apoio que não foi gratuito. Na verdade, apresentou um alto custo para o RS. Um dos pontos programáticos centrais do Exército Positivista-Republicano era a concessão de aposentadoria integral a todos os funcionários públicos. Por quê? A aposentadoria integral para o funcionalismo emerge no Império Patrimonialista. Mas, neste período, ela atinge apenas o alto escalão da burocracia. Por exemplo: dada a escassez de bacharéis, muitos juízes e promotores eram meros rábulas, vale dizer, pessoas com notório saber jurídico, mas sem a formação acadêmica adequada. Estes, não tinham direito à aposentadoria integral. A falta de um curso superior era um atestado de falta de pedigree. Deodoro universaliza a aposentadoria integral, mas deixa aos Estados Federados a decisão de adotar, ou não, a mesma regra. O único Estado que o fez foi o RS. Não se sabe se por comungar dos mesmos princípios; se por pressão de Floriano Peixoto; ou se por temor de não contar com o apoio necessário para a derrota dos “maragatos insurretos”. Muito provavelmente, por um misto destes três elementos. Assim, 30 anos após a emergência da República, ainda na década de 20 do século passado, o Tesouro do Estado do RS passa a ter que arcar com duas folhas: a dos ativos e a dos inativos. Com o fim do Estado Novo, a Constituinte de 1946 universalizou a aposentadoria integral para todo o funcionalismo público. Mas enquanto alguns Estado só começaram a pagá-la 30 anos depois (por volta de meados da década de 70 do século passado), o RS já arcava com seu pagamento desde os anos 20. Eventualmente, minha amiga Juliana Bublitz poderia dizer que esta foi uma opção nossa e, portanto, é um problema nosso: temos que arcar com nossas responsabilidades. E eu responderia: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A aposentadoria integral no RS foi uma exigência de Floriano para apoiar os republicanos-castilhista. Ora, a vitória dos castilhistas sobre os latifundiários federalistas foi condição sine qua non para a Reforma Agrária no Norte do Estado do RS, para a industrialização do Estado e para a emergência de uma cultura de Planejamento do Desenvolvimento que esteve na base da Revolução de 30 e da subsequente modernização capitalista do Brasil. Só que este processo deixou um ônus histórico sobre o RS representado por um problema fiscal crônico associado à precocidade da folha de inativos nos dispêndios de custeio do RS. Um problema fiscal que adveio de uma negociação política com o governo federal nos primórdios da República. Nos termos de Aristóteles, o RS emerge como uma Unidade da Federação diferenciada, desigual. E, nesse caso, a justiça encontra-se no reconhecimento desta diferença e no tratamento desigual de agentes desiguais. Até porque, tal como veremos abaixo, este não será o único elemento de desigualdade. Muito antes pelo contrário. To be continued. The worst is yet to come... *Doutor em economia e professor do mestrado em desenvolvimento da Faccat (Faculdades Integradas de Taquara). Este é o primeiro texto da série de Carlos Paiva intitulada A contribuição da mídia gaúcha para a decadência do RS. O próximo será publicado no sábado, dia 03/06. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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A vitória de Erdogan e seus impactos

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A vitória de Erdogan e seus impactos
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De BRUNO BEAKLINI* No pleito finalizado domingo, 28 de maio de 2023, o presidente e ex-premiê da Turquia Recep Tayyip Erdogan foi reeleito em um segundo turno muito apertado. O mais poderoso político turco após Kamal Ataturk (o herói de Galípolo e pai fundador do país), lidera o AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) e se mantém em Ankara e não permite a retomada da coalizão liderada pelo kemalismo civil. O candidato derrotado, Kemal Kilicdaroglu, à frente do CHP (Partido Republicano do Povo, a legenda secular da elite de Istambul), comanda a Aliança Nacional, uma frente com outras seis legendas, incluindo um racha do AKP. O discurso do derrotado passava pelo elogio e defesa dos hábitos da cultura moderna turca, buscava os votos mais nacionalistas (incluindo os mais extremados), mas não alcançou este objetivo. O terceiro colocado no primeiro turno, Sinan Ogan à frente da Aliança Ancestral (ATA), compunha – em primeiro turno – basicamente o mesmo espectro da direita coligada com Erdogan. A diferença seria sua propensão a recuperar o parlamentarismo. No segundo turno, Ogan e as lideranças políticas com ele alinhadas, fecharam apoio ao candidato da Aliança do Povo (Erdogan), garantindo assim uma folga maior no segundo. Entre 14 de maio e 28 de maio, o atual presidente ampliou em 3 milhões de votos a diferença e, das 600 vagas no parlamento, a coligação governista atingiu a 323 cadeiras, sem necessitar de outros apoios para governar com maioria. As alianças minoritárias foram fundamentais para a oposição em 2023   Nas eleições de 7 de junho de 2015, o Partido Democrático do Povo (HDP), a frente eleitoral vinculada à esquerda curda, ultrapassou a cláusula de barreira de 10% (fez 13,12% dos votos) e poderia formar a composição de governo pela primeira vez na história. O gabinete de Erdogan, composto pela maioria (e hegemonia do AKP) junto da extrema direita do Partido da Ação Nacionalista (MHP, herdeira direta das Juntas Militares golpistas e do seu braço paramilitar, Lobos Cinzentos), conseguiu mudar as regras do sistema político. Destituiu o parlamento, prendeu opositores seculares à esquerda e convocou novo pleito para novembro daquele ano. O país passou  a ser presidencialista – de facto e na regra – e a intensidade do nível repressivo nas “regiões administrativas especiais” de maioria curda aumentou muito. https://twitter.com/LulaOficial/status/1662906654969540611?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1662906654969540611%7Ctwgr%5Eae2fbb573fd151f57fa7ee5a039e28676fd73bc4%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.monitordooriente.com%2F20230529-a-vitoria-de-erdogan-e-seus-impactos%2F Desde então, o HDP amplia seu leque de alianças e se aproxima do CHP, mesmo com a elite kemalista negando a possibilidade da existência de um Curdistão federativo dentro do Estado nacional turco. Nas eleições de novembro de 2015 o HDP fez 10,76% e em 24 de junho de 2018, alcançou 11,70%. Apesar do decréscimo eleitoral, a projeção não era ruim, em função de alianças improváveis no pleito municipal de 2019. Há quatro anos atrás, nas eleições metropolitanas e distritos municipais, a coligação civil kemalista ganhou em Istambul e em Ankara (capital). Assim, criou as condições para ameaçar realmente a permanência de Erdogan à frente do Estado controlador do segundo maior contingente militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, o guarda-chuva de países aliados dos EUA). Ekrem İmamoğlu, o prefeito de Istambul vitorioso em março de 2019, tardou muito a chegar a ocupar o posto, porque o pleito foi contestado por semanas através da Suprema Corte. Desde a metade de dezembro de 2022, um dos políticos mais importantes do país foi condenado pela Justiça – a acusação é de ofensa contra magistrados da corte – e banido das eleições gerais deste ano. Ekrem estava cotado a ser candidato a vice do derrotado líder político da CHP. https://twitter.com/cancilleriasv/status/1663003528812457988?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1663003528812457988%7Ctwgr%5Eae2fbb573fd151f57fa7ee5a039e28676fd73bc4%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.monitordooriente.com%2F20230529-a-vitoria-de-erdogan-e-seus-impactos%2F Na corrida eleitoral das proporcionais – para o parlamento – a Aliança por Trabalho e Liberdade (o mais amplo guarda-chuva de maioria curda) fez 11% das cadeiras do parlamento, sendo que a lista conjunta da Esquerda Verde (YSP e HDP) atingiu 8% deste total. https://twitter.com/Minrel_Chile/status/1663206218125410304?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1663206218125410304%7Ctwgr%5Eae2fbb573fd151f57fa7ee5a039e28676fd73bc4%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.monitordooriente.com%2F20230529-a-vitoria-de-erdogan-e-seus-impactos%2F Em 2019, a soma dos votos da esquerda, da juventude urbana e das elites civis seculares levou à vitória do CHP nas maiores metrópoles (Istambul, Ankara e Izmir) e todo o Curdistão. Ainda assim não foi suficiente para atingir a maioria entre os 66,4 milhões de eleitores e eleitoras aptos na Turquia e na diáspora. A cobertura majoritária das eleições na mídia ocidental  É muito complicado cobrir eleições à distância, sem entender nada ou quase nada do contexto político do país e menos ainda relacionar o cenário doméstico com o externo. Após a reviravolta de 2015 e a derrota da tentativa de golpe de Estado por parte do movimento gulemista em julho de 2016, a política turca entrou em uma espiral de três dimensões. Uma, a nacional – ou de fronteiras geopolíticas ao menos – traz um governo Erdogan muito agressivo, impondo uma área de território tampão, violando a soberania da Síria e dominando parte dos cantões de maioria curda na fronteira dos dois países. https://twitter.com/CRcancilleria/status/1662963230195564544?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1662963230195564544%7Ctwgr%5Eae2fbb573fd151f57fa7ee5a039e28676fd73bc4%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.monitordooriente.com%2F20230529-a-vitoria-de-erdogan-e-seus-impactos%2F Simultaneamente, o líder do AKP modifica sua relação com o Estado sionista, e mesmo sem romper completamente, eleva a tensão com o aparelho militar do Apartheid Colonial e expande sua presença em todo o Oriente Médio. Isso implica uma aliança estratégica com o ascendente Catar e uma relação de melhor convivência com o Irã. No cenário europeu, não sai da OTAN mas se torna um problema para a aliança ocidental. Com o conflito russo-ucraniano, a situação muda radicalmente, cabendo a marinha turca a tutela e vigilância do estreito contínuo de Bósforo e Dardanelos, além do exercício de dominância naval no Mar Egeu. Erdogan se pôs como intermediário de primeira grandeza, incidindo nos preços mundiais de fertilizantes russos e grãos ucranianos (a começar pela precificação global de trigo e milho). Por fim, a política econômica de Erdogan, tentanto manter a soberania da lira turca e dificultando a participação do chamado “hot money” – os fundos de aplicação financeira – atraiu para o país uma série de ataques especulativos além da pressão inflacionária. E pensar que em 2002 o recém-empossado primeiro ministro demandava para a União Europeia o ingresso completo, incluindo a moeda única e corrente! Ambas requisições foram negadas. https://twitter.com/CancilleriaCol/status/1662977522332585987?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1662977522332585987%7Ctwgr%5Eae2fbb573fd151f57fa7ee5a039e28676fd73bc4%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.monitordooriente.com%2F20230529-a-vitoria-de-erdogan-e-seus-impactos%2F Quase todos os níveis de análise acima descritos não foram narrados nas reportagens circulando em mídia brasileira e mesmo em emissoras de língua inglesa. Menos ainda o compromisso de Kilicdaroglu de permanecer na OTAN e ampliar a presença de fundos especulativos na composição da dívida pública turca. Dois pontos críticos no cenário internacional  Recep Tayyip Erdogan tem plenas condições de tomar duas decisões polêmicas e urgentes. A primeira é romper relações com o Estado sionista, elevando a temperatura e pressão da Ummah sunita contra os invasores europeus na Palestina Ocupada. Em consequência, a saída da OTAN seria inevitável, ampliando a dimensão multilateral de sua política externa. No plano doméstico, os aliados de Erdogan herdeiros das Juntas (e redes ergenekon) não sustentam essa posição, mas após mais uma vitória, isso seria perfeitamente possível. Resta o desafio de gerar uma convivência viável com os mais de 4 milhões de refugiados sírios e com os territórios do Curdistão, algo que também é pouco crível. Não cabe uma análise acrítica e menos ainda subestimada. Hoje a Turquia e Erdogan estão no centro da política eurasiática e por consequência, de todo o Sistema Internacional. Negar esse fato seria como trocar a realidade por disputa “narrativa”. *Militante socialista libertário de origem árabe-brasileira, cientista político, jornalista e professor de relações internacionais. Artigo publicado originalmente no site MEMO (Monitor do Oriente Médio). As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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