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Eleições 2022

PF encontra provas de plano golpista no celular de Mauro Cid
RED

A perícia no celular apreendido do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, encontrou mensagens, áudios e documentos que planejavam dar um golpe após as Eleições de 2022 caso Bolsonaro não fosse eleito. Cid foi questionado sobre os conteúdos em novo depoimento à Polícia Federal (PF) na terça-feira, 06, mas ficou em silêncio. Entre os documentos, foi identificado uma minuta para decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), operação militar que permite o presidente convocar as Forças Armadas em casos de esgotamento das forças tradicionais de segurança pública em graves situações de perturbação da ordem. De acordo com o Brasil de Fato, a PF acredita que o plano de um golpe envolvia a edição do decreto da GLO e depois a implementação da minuta encontrada na residência do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres. Além da minuta, foram encontrados tratativas para a decretação do Estado de Defesa, instrumento usado para preservar ou restabelecer a ordem pública ameaçada por uma instabilidade institucional ou por calamidades da natureza, segundo o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). A junção dos documentos poderia declarar Estado de Defesa nas sedes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e reverter o resultado da eleição presidencial. No depoimento concedido à PF, Mauro Cid foi questionado sobre as conversas encontradas pela perícia que arquitetavam o plano, mas decidiu ficar em silêncio. A defesa do tenente-coronel alegou que não teve acesso os documentos. Foto: Divulgação/PR. Para receber os boletins e notícias direto no seu Whatsapp, adicione o número da Rede Estação Democracia por este link aqui e mande um alô.

Espaço Plural

Ferrogrão é um problema de todos os brasileiros, aponta entrevista no Espaço Plural desta quarta-feira
RED

A construção da Estrada de Ferro (EF-170), conhecida como Ferrogrão, na área do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, está em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) após manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU) e do PSOL. O assunto foi tema do programa Espaço Plural desta quarta-feira, 07. Para Melillo Dinis do Nascimento, advogado e representante de várias organizações indígenas no Processo de Desestatização da Ferrogrão no Tribunal de Contas da União (TCU), o projeto da estrada estabelece conflitos entre a sociobiodiversidade da região e a logística. Além disso, Dinis acredita que a construção atende somente aos interesses do agronegócio, principalmente do Mato Grosso. São mais de 48 povos atingidos, especialmente os kayapós, os mundurukus e os panarás. "O grande tema é que só se pode fazer um projeto desse após a consulta e o consentimento prévio, livre e informado dentro dos marcos dos direitos humanos e da convenção 169 da OIT, além da própria constituição brasileira". Junto com os impasses com os povos indígenas está o debate sobre os impactos ambientais causados pela aprovação da Lei n° 13.452/2017, que alterou os limites do Parque Nacional do Jamanxim sem contrapartida ambiental, para a construção da estrada. O doutor elo Instituto de Ciências Básicas da Saúde e que trabalha com saúde complexa, educação de professores, projetos e planejamento em desenvolvimento sustentável e agroecologia, Francisco Milanez, ressalta que o problema não é somente dos indígenas. "É um problema do povo brasileiro verso algumas nacionais de commodities de soja. Esse é o que tá em jogo. E pra isso, para eles economizarem alguns centavos, nós temos que abrir mão da constituição brasileira, nosso maior bem legal, das áreas de preservação da Amazônia, nosso maior bem real", explicou Milanez. Assista o programa completo: [embed]https://www.youtube.com/watch?v=5pTHpfYWjQk&ab_channel=RedeEsta%C3%A7%C3%A3oDemocracia[/embed] O programa Espaço Plural vai ao no YouTube e no Facebook de segunda à sexta-feira, a partir das 14h, com a apresentação do jornalista Solon Saldanha. Devido ao feriado de Corpus Christi, não haverá programa na quinta-feira, 08. O Espaço Plural retorna na sexta-feira, 09. Foto: Reprodução. Para receber os boletins e notícias direto no seu Whatsapp, adicione o número da Rede Estação Democracia por este link aqui e mande um alô.

Politica

Câmara aprova MP que recria Minha Casa Minha Vida
RED

Texto segue para o plenário do Senado A medida provisória (MP) que recria o programa Minha Casa, Minha Vida foi aprovada, nesta quarta-feira (7), pelo plenário da Câmara dos Deputados. Agora, o texto segue para o plenário do Senado. A MP 1162 precisa ser aprovada no Senado até a próxima semana. Caso contrário, perde a validade. O programa habitacional de casas populares Minha Casa, Minha Vida, criado originalmente em 2009, foi extinto pelo governo Bolsonaro que, no lugar, criou o programa Casa Verde Amarela. Segundo o relator, o deputado federal Marangoni (União-SP), o texto buscou “agregar o desenvolvimento urbano à habitação, corrigindo erros do passado, para que não produzamos mais guetos nas periferias, segregando as famílias". De acordo com ele, a medida também quer a requalificação dos centros urbanos para que as famílias voltem a morar no centro. O relatório aprovado traz uma série de mudanças em relação ao texto original da medida provisória. Entre essas mudanças, está o fim da exclusividade da Caixa Econômica Federal para construção das moradias do programa, assim como a previsão de estímulos para entrada, como operadores do programa, de bancos privados, bancos digitais e instituições financeiras locais, como cooperativas de crédito. [caption id="attachment_8155" align="aligncenter" width="754"] Sessão plenária e virtual que votou a medida provisória (MP 1.162/2023) que retoma o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Foto: Lula Marques/ Agência Brasil.[/caption] A votação foi simbólica, ou seja, os deputados não precisaram colocar a digital no painel para apreciar a matéria. O único partido que se manifestou contrário ao texto foi o Novo. Para o deputado Isnaldo Bulhões Júnior (MDB-AL), a nova medida provisória será capaz de retomar a construção de casas populares no Brasil. “A retomada do Minha Casa Minha vida é um marco. Nós passamos 4 anos sem nem uma nova unidade habitacional contratada pelo governo para o faixa 1”, afirmou o deputado que foi o relator do programa Casa Verde Amarela no governo anterior. O deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB), que falou pela liderança da oposição, também defendeu a votação da matéria. “Não vejo diferenças em relação ao Casa Verde Amarela, mas como é uma importante medida para o povo brasileiros jamais faríamos qualquer cavalo de batalha, como o PT fez com o governo Bolsonaro, estamos pensando no povo brasileiro, que precisa de moradia”, afirmou o deputado paraibano. Faixas de renda Segundo o texto aprovado, haverá três faixas de renda de beneficiados. Nas áreas urbanas, a faixa 1 destina-se a famílias com renda bruta familiar mensal de até R$ 2.640; a faixa 2 vai até R$ 4,4 mil; e a faixa 3 até R$ 8 mil. Em áreas rurais, os valores são contados anualmente devido à sazonalidade do rendimento no campo. A faixa 1 das áreas rurais abrangerá famílias com até R$ 31.680 anuais; a faixa 2 vai até R$ 52.800; e a faixa 3, até R$ 96 mil. A atualização dos valores será feita pelo Ministério das Cidades. Matéria da Agência Brasil. Foto: Vinicius Thormann/Prefeitura de Canoas. Para receber os boletins e notícias direto no seu Whatsapp, adicione o número da Rede Estação Democracia por este link aqui e mande um alô.


Artigo

Austeridade para quem?

Artigo

Austeridade para quem?
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De PAULO KLIASS* Desde que foram anunciados os resultados das eleições presidenciais em outubro passado, as elites vinculadas ao financismo em nossas terras passaram a colocar em movimento uma estratégia de sequestrar o terceiro mandato do Presidente Lula. Uma vez derrotado o candidato que eles também haviam apoiado de forma quase unânime em 2018, esse pessoal põe em marcha seu plano B para minimizar a derrota e impedir que as ideias do programa econômico apresentado pelo candidato vencedor à sociedade permanecessem fora de qualquer possibilidade de implementação pelo futuro governo.  Entre a oficialização da vitória de Lula e a data de sua posse, os representantes da oligarquia financeira e os grandes meios de comunicação buscaram indicar nomes para compor a área econômica, com o intuito declarado de evitar uma descontinuidade em relação à gestão de Paulo Guedes e também de Henrique Meireles. Assim foram meses de balões de ensaio semanais, apresentando e sugerindo figuras com perfil conservador, alinhados à ortodoxia e ao neoliberalismo. Tendo em vista a resistência do futuro Presidente em aceitar tais ofertas, surge em cena um plano C. Como não conseguiram emplacar nomes, voltaram-se à tentativa de assegurar um programa que não significasse nenhuma ruptura com os anos de austeridade fiscal e arrocho monetário. Uma parte dessa tarefa já havia sido cumprida em 2021, quando Paulo Guedes conseguiu convencer seu chefe a apoiar a proposta de conferir independência ao Banco Central (BC). Assim, por meio dos dispositivos da Lei Complementar 179, o presidente e demais diretores do BC passaram a contar com mandato fixo. Por meio de tal artimanha, Lula só poderá indicar o novo Presidente da instituição e contar com maioria no colegiado de 9 membros a partir de 2024. Em razão de tal golpe perpetrado contra nossa democracia, o novo governo não consegue ter a seu dispor ferramentas essenciais da política econômica, a saber, a política monetária e a política cambial. Austeridade fiscal e arrocho monetário: mais do mesmo Como a diretoria do BC são os próprios integrantes do Comitê de Política Monetária (COPOM), os indicados por Bolsonaro mantêm uma política de sabotagem das intenções desenvolvimentistas do novo governo. Ao longo das 4 reuniões do colegiado responsável pela definição da taxa oficial de juros realizadas desde que foi reconhecido o nome do futuro Chefe do Executivo, a SELIC foi mantida nos estratosféricos níveis de 13,75% ao ano. O Brasil permanece como o país de maior taxa real de juros do mundo e esse patamar do custo financeiro inviabiliza a retomada dos investimentos necessários na economia, além de provocar um impacto significativo nas despesas financeiras do governo. Em outra esfera de atuação, os representantes do financismo metralharam de forma incessante qualquer tipo de proposta de flexibilização mais efetiva da política fiscal. Ainda que Lula tivesse anunciado inúmeras vezes durante a campanha eleitoral o seu desejo e a necessidade de o Brasil revogar a regra do teto de gastos, a pressão vinha no sentido de colocar alguma outra medida de austeridade fiscal no seu lugar. Infelizmente, esse movimento acabou conquistando alguns corações e mentes no interior da própria equipe econômica. Assim o desenho da PEC da Transição, promulgada sob a forma da atual Emenda Constitucional nº 126, incluiu a necessidade de aprovação de uma lei complementar com um novo regime fiscal para que o teto de gastos seja efetivamente revogado. Fernando Haddad priorizou a negociação e a interlocução com o Presidente do BC e com representantes do sistema financeiro para a elaboração de tal medida. O Relator Cláudio Cajado (PP/BA), colega de confiança do Presidente da Câmara dos Deputados Artur Lira (PP/AL), conseguiu tornar a proposta ainda mais distante das necessidades de um programa nacional de desenvolvimento. Se a proposta enviada pelo Executivo já mantinha a essência de controlar elevação de despesas em relação ao crescimento das receitas e insistia na lógica de obtenção de superávit primário, as alterações aprovadas pela Câmara aprofundaram ainda mais o caráter pró-cíclico da medida e retiraram as possibilidades de o Estado atuar como protagonista na busca do crescimento e do desenvolvimento. Arcabouço fiscal: austeridade remaquiada. Assim, corre-se o risco de o Congresso Nacional aprovar um texto que signifique a manutenção da estratégia de redução do peso do setor governamental na economia. A grande imprensa se encarrega de torpedear as propostas de flexibilização das regras da austeridade fiscal, ignorando que tal estratégia há anos já vem sendo implementado nos países do próprio centro do capitalismo, a exemplo dos Estados Unidos e da União Europeia. Como o arcabouço fiscal em tramitação determina que as despesas orçamentárias só poderão crescer a um ritmo de 70% do aumento observado nas despesas, a médio prazo isso terá o significado de um encolhimento relativo do Estado. Além disso, a malandragem toda reside na manutenção do conceito de superávit primário como métrica de avaliação do sucesso da austeridade. Ao apelar para o economês, o povo da finança esconde sua verdadeira intenção. Trata-se de continuar oferecendo um tratamento VIP às despesas financeiras - leia-se, gastos com juros sobre a dívida pública. Sim, pois estas rubricas não são consideradas “primárias” na terminologia adotada. Isso significa que o modelo pressupõe um enorme esforço para comprimir as despesas como assistência social, saúde, educação, previdência social, salários e outros, para que haja um resultado positivo nas contas públicas não financeiras. E esse saldo credor vai se transformar automaticamente no volume de juros a serem pagos aos detentores dos títulos da dívida pública. Esse tipo de despesa não era submetido a nenhum limite na política do teto de gastos e vai continuar assim no novo modelo a ser adotado após a aprovação da referida lei complementar. Assim, o que se depreende é que as regras de austeridade fiscal não valem para todos. Os números apresentados oficialmente há poucos dias pelo BC confirmam essa hipótese. Já são conhecidos os valores despendidos pelo governo federal a título de juros ao longo do primeiro quadrimestre do presente ano. Entre janeiro e abril de 2023 o governo federal gastou R$ 228 bilhões para pagamento de juros da dívida pública. O valor é 48% mais alto do que o a soma relativa ao primeiro quadrimestre do ano passado, que havia registrado R$ 154 bi. Esse total, por sua vez, representou uma elevação de 36% em relação aos R$ 113 bi de 2021. Ora, esses números evidenciam que a herança maldita do governo Bolsonaro & Guedes foi mantida e aprofundada durante os primeiros meses do novo mandato de Lula. A austeridade fiscal não se aplica aos gastos com juros. BRASIL - Juros pagos - 2021/23 (janeiro/abril) – R$ bilhões [caption id="attachment_8114" align="aligncenter" width="731"] Fonte: BC[/caption] Caso o enfoque seja direcionado sobre os valores pagos a título de juros ao longo do ano todo, o cenário se mantém o mesmo, ainda que com índices de crescimento mais atenuados de um período para outro. Os últimos 12 meses encerrados em abril de 2023 indicam um total de R$ 660 bi na conta financeira. Trata-se da segunda maior despesa do governo federal, atrás apenas dos gastos com previdência social. No entanto, como a rubrica é classificada como “não primária”, sobre ela não cabe a imposição de nenhum teto e nem de limite algum. Esse montante corresponde a um aumento de 13% sobre os R$ 586 bi gastos observados entre janeiro e dezembro de 2022 a título de pagamento de juros. Além disso, a comparação de 2022 com os R$ 448 bi relativos a 2021 representou um crescimento de 31%. BRASIL - Juros pagos - 2021/23 (últimos 12 meses) – R$ bilhões [caption id="attachment_8113" align="aligncenter" width="717"] Fonte: BC[/caption] Esses números refletem de forma bastante cristalina a verdadeira natureza do chamado “esforço fiscal”, elemento tão divulgado e idolatrado pelos defensores do financismo e do ajuste conservador. A austeridade tão proclamada como suposta condição para garantia de estabilidade macroeconômica não se aplica de forma isonômica sobre todos os setores da sociedade. À medida em que se introduz de forma sorrateira a separação entre as despesas financeiras e todas as demais não-financeiras, a busca da tão venerada responsabilidade fiscal deixa explícita a característica intrínseca à austeridade: reprodução das desigualdades sociais e econômicas. Teto do Temer e subteto do Haddad. Partindo de um modelo conceitualmente viesado em prol do capital financeiro, o equilíbrio fiscal não pode ser considerado como “neutro” ou “técnico”, como costumam qualificá-lo os defensores do regime. A austeridade tem rosto e endereço conhecidos. A exemplo de outros aspectos da política econômica, pouca coisa muda em termos essenciais na comparação entre o teto de gastos da herança Temer & Bolsonaro e o subteto proposto por Haddad. Trata-se de buscar o ajuste em cima de redução dos direitos dos setores de base da nossa pirâmide da desigualdade, ao mesmo tempo em que preserva e até amplia os benefícios concedidos às elites e ao capital, quer sejam os 1% ou os 0,1% do topo da nossa vergonhosa figura geométrica da concentração. *Doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal.  Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia. Para receber os boletins e notícias direto no seu Whatsapp, adicione o número da Rede Estação Democracia por este link aqui e mande um alô.

Internacional

Amorim alerta que Ocidente precisa ouvir a Rússia para evitar conflito maior

Internacional

Amorim alerta que Ocidente precisa ouvir a Rússia para evitar conflito maior
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De CEZAR XAVIER O assessor especial de Lula fez paralelos entre o cenário atual e aquele que antecedeu a 2a. Guerra, agora, sob risco da ameaça nuclear Em poucas palavras a Brian Harris, correspondente do Financial Times, em São Paulo, o chefe da Assessoria Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, foi direto ao ponto em expressar o que poucos têm coragem de falar abertamente na imprensa ocidental. Enquanto os líderes dos países mais ricos e influentes do Ocidente fecham todo e qualquer canal de diálogo com Vladimir Putin, tornando seus representantes párias em organismos multilaterais, Amorim comparece na manchete do FT alertando para a necessidade das “preocupações russas” com a Ucrânia “ser levadas em conta”. Putin foi ignorado por anos, sempre que falava de sua preocupação com a segurança nacional, conforme o crescente cerco de suas fronteiras era feito pela instalação de bases da OTAN (o exército europeu criado na guerra fria contra a união soviética). Quando a Ucrânia provocou a Rússia afirmando sua vontade de abrigar uma base militar, Putin ainda tentou fazer valer sua reivindicação. Tratado de Versalhes Ao recomendar a atenção às demandas russas, o assessor de Lula foi mais longe e advertiu que a postura dos líderes ocidentais pode provocar um conflito mais amplo, tecendo uma comparação entre o cenário atual e aquele que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Para ele, ao ouvir as “preocupações” de Putin, o Ocidente pode “impedir o escorregão em direção a uma paz dos vencedores na Ucrânia ao estilo do Tratado de Versalhes”. Com isso, Amorim admite que a guerra pode até chegar a um cenário de derrota russa total em algum momento, com o recrudescimento da ajuda militar a Volodymyr Zelensky. Líderes ocidentais expressam sua vontade de humilhar Moscou. Mas como aconteceu com a Alemanha, no final da Primeira Guerra Mundial, o resultado pode levar a uma ampliação do conflito. “Lembro-me da situação na Alemanha após a primeira guerra mundial: o objetivo era enfraquecer a Alemanha no [Tratado de] Versalhes e sabemos aonde isso levou.” Diz ele, referindo-se ao cenário de humilhação da Alemanha derrotada, que estimulou o surgimento de uma liderança como Adolf Hitler que estimulou o nacionalismo alemão e a invasão insana de toda a Europa. Numa época em que armas nucleares não eram uma ameaça. “Não queremos uma terceira guerra mundial. E mesmo que não tenhamos isso, não queremos uma nova guerra fria”, disse Amorim ao Financial Times. “Todas as preocupações dos países da região devem ser levadas em consideração, se você quer a paz. A única outra alternativa é a vitória militar total contra a Rússia. Você sabe o que vem depois? Eu não.” Este tom de apontar para o inimaginável não parece descabido, se considerarmos que, em muitas décadas, nenhum conflito chegou a extrapolar os patamares deste, ao provocar reações beligerantes de tantos países diferentes. A dissolução da Iugoslávia, por exemplo, acabou se restringindo a um conflito regional, ainda que no coração da Europa. Amorim também procura repelir raciocínios que tratam a Rússia e Putin pelo que ocorre a um ano e meio após a invasão da Ucrânia. Esta é também uma forma de relembrar os tratados feitos com a Rússia, que não foram cumpridos, e as hostilidades crescentes da Ucrânia, desde a revolução colorida de 2014. Até então, o país tinha uma alinhamento claro com os interesses de Moscou. “Não podemos julgar a situação pelos últimos 1,5 anos. Esta é uma situação de décadas. [A Rússia tem] preocupações que devem ser levadas em consideração. Isso não é culpa da Ucrânia. A Ucrânia é uma vítima, uma vítima dos resquícios da Guerra Fria”. A neutralidade brasileira A contato de Harris com Amorim para por aqui. O restante do texto procura investigar as diversas manifestações do governo brasileiro sobre a guerra, desde o governo Bolsonaro até as declarações de Lula. Menciona, portanto, a resolução contra Moscou aprovada na ONU com a ajuda do Brasil. Mas reafirma as desconfianças dos países desenvolvidos com uma suposta posição pró-Rússia de Lula ou a repetição de propaganda russa e chinesa. Esta é, aliás, uma forma de silenciar as demandas russas. No entanto, o jornalista entrevista Paulo Velasco (UERJ), que ressalta o fato da abordagem de Lula para o conflito na Ucrânia estar em linha com a tradicional diplomacia brasileira, que evita “posições extremas que possam comprometer os esforços para chegar a um entendimento”. “O Brasil acredita que as sanções raramente são o melhor caminho”, disse Velasco. “Eles tendem a isolar o Estado que se envolve em comportamentos desviantes, minando sua confiança na comunidade internacional, que é essencial para chegar a acordos pacíficos.” Já, Oliver Stuenkel (FGV), destaca o fato dos países não-alinhados contra a Rússia estarem defendendo seus interesses comerciais mais pragmáticos. A presença do Brasil e da Rússia nos BRICs seriam uma justificativa clara para estes laços, assim como um contraponto importante à dominação econômica das potências ocidentais. A reportagem coloca na conta de Zelensky o não-encontro com Lula em Hiroshima, ao citar a justificativa do Itamaraty após o atraso do presidente ucraniano. O texto ainda lembrou o legado do envolvimento dos Estados Unidos na América Latina durante a Guerra Fria como uma possível motivação para a postura brasileira confrontar Washington. Ele cita Amorim, que negou que isso tenha influenciado a visão de Lula, destacando as “boas relações” do Brasil com os EUA e que a segunda visita de Estado do presidente foi à capital americana. Matéria no portal Vermelho. Foto destacada de Celso Amorim, assessor de Lula para política exterior, em reunião com governo da Ucrânia - Divulgação/Governo da Ucrânia.

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Palácio Pedro Ernesto faz 100 Anos

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Palácio Pedro Ernesto faz 100 Anos
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De LINCOLN PENNA* Em 21 de Julho de 1923 foi inaugurado o Palácio que passou a abrigar o Conselho de Intendentes do Município Neutro criado pelo governo provisório da República, após a dissolução da Câmara da Corte, quando da instauração do regime republicano em 1889. Seu funcionamento teve início ainda no Campo de Santana (Praça da República) e foi depois para a Escola Pública da Freguesia de São José no então Largo da Mãe do Bispo, atual Praça Floriano, no atual espaço da Cinelândia. Quando da obra para a edificação da sua sede definitiva houve a interrupção causada pela irrupção da Primeira Grande Guerra, entre 1914 e 1918, período durante o qual foi transferido o seu funcionamento para a Escola de Artes e Ofício, no chamado Tabuleiro da Baiana, no Largo da Carioca, entre 1919 e 1923. A concepção do Palácio foi idealização de dois arquitetos, Heitor de Mello e Arquimedes Memória, no estilo eclético predominante desde o início do século XX, também presente na construção do Teatro Municipal. Interessante associar o estilo arquitetônico conhecido como ecletismo com a valorização das fachadas e o emprego dos mais nobres materiais de acabamento, o que sugere um custo adicional à obra. Uma dessas formas de valorização ou de dar destaque à visibilidade da construção se encontra, no caso do Palácio Pedro Ernesto, nas figuras que à época foram lembradas como se fossem gaiolas gigantes. O termo “Gaiola de Ouro” que foi foi popularizado para se referir ao Palácio decorreu do montante que foi dispendido em sua construção, muito maior do que fora previsto, sobretudo se comparado ao que se gastara com o Teatro Municipal, de 1909, contemporâneo em termos de edificação. Por sinal, o batismo do Palácio em homenagem ao prefeito Pedro Ernesto foi de iniciativa do povo carioca. Tornou-se tão corriqueiro assim chamá-lo que o deputado Gama Lima, da então Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara, através de propositura tornou oficial essa designação. Isto aconteceu no ano de 1961, trinta e oito anos após a inauguração do Palácio. Algumas curiosidades valem a pena lembrar. Uma delas se refere à presença de autoridades no dia da entrega do Palácio aos seus novos ocupantes, os intendentes. Além das figuras destacadas da República, como a do presidente Artur Bernardes, do prefeito Alaor Prata, de parlamentares e dos demais poderes, lá se encontrava o representante do magistério, a denotar o respeito e a importância que se dava ao professorado. O que seria reafirmado anos depois na prefeitura de Pedro Ernesto, que entregou a educação para Anísio Teixeira, um dos autores e signatário do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, durante o período de gestão de Pedro Ernesto. Dez anos antes, em 1922, e cerca de um ano antes da inauguração do Palácio, aconteceu a revolta dos "18 do Forte de Copacabana", que daria início ao ciclo do Tenentismo a anunciar o fim da Primeira República. Além disso, o surgimento de sua mais destacada liderança surgida desse processo de contestação à ordem oligárquico em vigor, que ganharia prestígio Nacional, a do capitão Luiz Carlos Prestes, cuja influência foi tanta que ensejou, após o término do Estado Novo, a eleição da maior bancada da Câmara do Distrito Federal na legislatura de 1947 a 1951, eleita na legenda do PCB, graças à popularidade do "Cavaleiro da Esperança". Nesse mesmo ano de 1922 dois outros fatos se anteciparam ao funcionamento do Palácio, a fundação do Partido Comunista e a Semana de Arte Moderna de São Paulo. Poderia também mencionar o surgimento do Centro Dom Vital, que mais adiante responderia pela criação da Liga Eleitoral Católica. Fatos que prenunciariam mudanças políticas e institucionais no pais, que viriam através da Revolução (ou golpe) Liberal de 1930. Mas, para não nos distanciamos do entorno do Palácio Pedro Ernesto, basta destacar dois eventos posteriores ocorridos nas proximidades do Palácio: as manifestações da Campanha O Petróleo É Nosso! (1948 a 1953), e a Passeata do Cem Mil de 1968. Muito embora o primeiro tenha sido mais extenso logrando mobilizar um conjunto diversificado de cidadãos sob a bandeira da defesa da soberania nacional, ao passo que a Passeata aconteceu como corolário de uma série de insurgências contra a ditadura implantada em 1964, o fato é que ambas tiveram a oportunidade de instigar e incrementar uma consciência cívica e democrática tendo como pano de fundo e área de apoio o Palácio Pedro Ernesto. Da Campanha resultaria uma série de consequências. Dentre elas, é claro, a criação da Petrobras, a formação da Liga de Emancipação Nacional, a Frente Parlamentar Nacionalista, o Movimento em Defesa da Economia Nacional, que deram impulso e continuidade à bandeira nacional-desenvolvimentista. No que concerne ao segundo, a Passeata, o embalo para que a ditadura começasse a perder progressivamente a sua base de apoio junto à sociedade civil e definhasse, a ponto de abrir negociações para que os resultados de sua derrota não fossem semelhantes a das ditaduras vizinhas, da Argentina e do Chile, que julgaram e puniram exemplarmente os algozes desses regimes. Afinal, grande parte dos que foram sacrificados durante a vigência dessas ditaduras era constituída de jovens desejosos de participação na vida pública dos seus países. É a esses que se deve lembrar nessas ocasiões a evocar datas e realizações que fazem parte de nossa história. Assim, preservar a memória de um próprio público como o Palácio Pedro Ernesto é um dever de cidadania, pois ele é a representação do poder público no que ele tem de mais eloquente, ou seja, o poder que emana do povo. Este mesmo povo, no entanto, não deve se restringir a ser um eleitor de ocasião. É preciso que no espaço onde se faz e se decide o interesse público, ele, povo, esteja presente dando apoio a decisões ou criticando quando elas não atendem as suas demandas. *Doutor em História Social, conferencista honorário do Real Gabinete Português de Leitura, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Imagem do início da construção do Palácio Pedro Ernesto, em 1920 - disponível no site da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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Dallagnol foi a primeira vítima de Sergio Moro

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Dallagnol foi a primeira vítima de Sergio Moro
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De MOISÉS MENDES* Deltan Dallagnol está apenas na porta do inferno. Sabe que não chegou nem à sala de espera. Sabe que Sergio Moro foi quem o levou a cometer delitos graves em Curitiba e a perder o mandato de deputado. Sem Sergio Moro e sem o lavajatismo, é provável que Dallagnol fosse apenas um procurador da República interessado e prestativo. E talvez não tivesse cometido nenhum dos desmandos dos quais é acusado, entre esses o de registar uma candidatura para escapar de investigações. Dallagnol tinha 34 anos em 2014, quando a força-tarefa da Lava-Jato foi criada para caçar Lula. Encarregaram um calouro para cercar, acusar, ajudar a condenar, encarcerar e tirar da eleição o favorito para vencê-la. Sem idade para ter uma história no MP, mas apto para o trabalho que a ele foi confiado, deveria ajudar a tirar do jogo da política a maior figura pública do país pós-ditadura. Um procurador jovem e impetuoso dedica-se à caçada a Lula e, paralelamente, ao projeto de ficar rico fazendo palestras. Vira herói de um filme, é aplaudido pela direita nas ruas e em palestras, planeja criar uma fundação com R$ 2,5 bilhões da Petrobras. E acaba envolvido em todo tipo de arbitrariedade que talvez não tivesse cometido se não estivesse sob a liderança incondicional de Sergio Moro. Dallagnol é uma invenção de Sergio Moro, que o transforma em seu subalterno por pelo menos cinco anos, como mostram suas atitudes e as conversas da Vazajato. O juiz mandava no procurador. MP e Judiciário se misturaram com promiscuidade, com o argumento de que sempre foi assim. Dallagnol relacionava-se com Moro com obediência, reverência e idolatria. Na hierarquia que eles inventaram em Curitiba, o juiz era o chefe de todos. Não são indícios de conluio, são provas de que passaram dos limites do que seria razoável numa relação entre quem investiga e acusa e quem vai depois julgar. E assim Dallagnol se transformou na maior atrofia funcional do poder do MP, conquistado a partir da operação Banestado, que marca a estreia de Moro. Esses dias, ao ser informado de que deveria depor na Polícia Federal (o depoimento foi adiado para segunda-feira), o ex-deputado disse que não sabia qual o era o caso sob investigação e por isso não podia antecipar o que diria aos policiais. Era o mesmo sentimento dos investigados, encarcerados e submetidos a prisões preventivas intermináveis em Curitiba. Muitos não sabiam direito qual era a acusação. O advogado Tacla Duran, o empreiteiro Emílio Odebrechet e agora o empresário Tony Garcia denunciaram os horrores da masmorra de Curitiba, onde tudo era possível. A imprensa aplaudia os métodos de Dallagnol e Moro, em nome da caçada aos corruptos, porque a Guantánamo da Lava-Jato, assim definida por Garcia, dependia de Globo, Folha e Estadão para existir. Dallagnol esteve a serviço dessa estrutura, com participação ativa dos americanos, sempre sob o comando de Moro. O procurador foi escolhido por ser impulsivo e competitivo. Era o perfil adequado para a tutela de Moro. E o juiz explorou sua imaturidade para orientar as ações do MP. Na tentativa de escapar do cerco que agora se inverte e se fecha em torno dele, Dallagnol não pode fugir da verdade. Ele tinha um chefe em Curitiba. Deve seguir a linha de toda a investigação, que no lavajatismo se transformou em prática arbitrária. Dallagnol precisa saber que a busca pela reparação passa pela identificação dos chefes. Seu chefe era Sergio Moro, de forma torta, enviesada, ilícita, mas era. Dallagnol precisa fazer o que ensinou aos réus da Lava-Jato. Sergio Moro não tinha apenas o domínio do fato, ele criava o fato, o fato só existia por intervenção direta do ex-juiz. E Dallagnol era o seu ajudador. Ativo, prestativo, interativo, impulsivo, assertivo, mas um ajudante. O projeto justiceiro de Moro em Curitiba destruiu Dallagnol. *Jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas 'Todos querem ser Mujica' (Editora Diadorim). Publicado no Blog do Moisés Mendes. Foto: Reprodução/Redes Sociais. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia. Para receber os boletins e notícias direto no seu Whatsapp, adicione o número da Rede Estação Democracia por este link aqui e mande um alô.

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