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Lula convoca reunião de emergência para manhã desta quarta-feira
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Segundo a Folha de São Paulo, "o presidente Lula (PT) convocou de última hora para a manhã desta quarta-feira (31) uma reunião com o núcleo da articulação política do governo para discutir as derrotas na Câmara e a MP (medida provisória) que trata da reestruturação ministerial". A publicação afirma que ministros da Casa Civil, Rui Costa, das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o líder do governo na Casa Legislativa, José Guimarães (PT-CE), estiveram com o presidente para debater o assunto, isso porque o governo tentará na sessão de hoje, 31, aprovar a medida provisória que iria à votação ontem, 30, mas teve apreciação adiada a pedido do Planalto. A MP original, formulada logo no início do governo Lula com a nova organização da Esplanada, ampliou o número de ministérios de 23 para os atuais 37 e redistribuiu setores e demandas entre as estruturas. Mas caso a medida provisória não seja aprovada, os ministérios voltariam a se organizar praticamente como na gestão anterior, de Jair Bolsonaro (PL). Já na Câmara, o relator da MP e líder do MDB, deputado Isnaldo Bulhões Jr. (AL), modificou pontos da política ambiental do governo, que atualmente estão com o Meio Ambiente e os Povos Indígenas, transferindo para outras pastas, e também entregou mais atribuições aos ministérios com partidos do centrão, que terão mais poder sob sua alçada. Este seria o motivo de insatisfação de Marina Silva (Rede), atual titular do Meio Ambiente, que é quem mais perde atribuições, enquanto trava disputa interna sobre a exploração da Foz do rio Amazonas pela Petrobras. Deputados da oposição e do centrão enviaram recados ao Palácio do Planalto de que há insatisfação e que podem usar a votação da MP para emparedar o governo pela demora na liberação de emendas, além da lentidão nas nomeações em cargos regionais. Eles estariam ameaçando não votar no prazo (esta quinta-feira, 01), fazendo com que a medida acabasse perdendo efeito. Foto: Ricardo Stuckert  

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Sob protestos dos povos originários, Câmara aprova PL do Marco Temporal
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Texto determina que apenas territórios ocupados por povos indígenas em 8 de outubro de 1988 podem ser demarcados A Câmara Federal aprovou na noite desta terça-feira (30) o Projeto de Lei 490/07, conhecido como PL do Marco Temporal. O texto prevê a aplicação da tese marco temporal na demarcação de terras indígenas. O placar foi de 283 a 155. Apenas PT, PSOL, PCdoB e Rede votaram contra o projeto. Nenhum dos destaques colocados pelos deputados defensores dos indígenas foi aprovado. A aprovação significa que novas terras só podem ser demarcadas se ocupadas por povos indígenas na data da promulgação da Constituição de 1988. A deputada Célia Xakriabá discursou em nome da bancada do cocar, pintando o rosto de urucum. "O Brasil começa por nós, mas se aprovado o PL 490, o Brasil que começa por nós vai ser enterrado no Congresso Nacional", declarou. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) diz que 60% das 1,4 mil terras indígenas brasileiras não são regularizadas. Quase 600 não tiveram sequer o processo de demarcação iniciado. Se virar lei, o marco temporal será o principal argumento de fazendeiros e grandes empresas para questionar as demarcações ainda não concluídas. [caption id="attachment_7929" align="aligncenter" width="679"] Deputados de direita comemoram aprovação do projeto do Marco Temporal / Reprodução[/caption] Além de demarcações paralisadas, há o receio de que demarcações já realizadas sejam revistas. Após a aprovação, o porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar afirmou que a aprovação do projeto é um "atraso". "A aprovação do PL 490 coroa os esforços da bancada ruralista para relativizar os direitos indígenas e forçar a abertura dos territórios tradicionais ao agronegócio e a outras atividades econômicas incapazes de conviver com a floresta; ignorando o desejo de reparação histórica aos povos originários expresso pela sociedade brasileira nos Artigos 231 e 232 da Constituição de 1988. Em pleno século 21, não podemos tolerar que um punhado de deputados comprometidos com o atraso, sigam trabalhando para reverter a vontade da maioria dos brasileiros. A bancada ruralista precisa entender que todo ataque aos direitos indígenas é um ataque contra a democracia", disse. Em nota, o Observatório do Clima lamentou a decisão do Congresso. "Agora, a Câmara dos Deputados dá um recado claro ao país e ao mundo: Bolsonaro se foi, mas o extermínio continua. No que depender de Arthur Lira e sua gangue da motosserra, o meio ambiente e os direitos indígenas serão varridos do mapa nos próximos quatro anos. O Senado, agora, tem a obrigação de reverter os absurdos aprovados pela Câmara, e o STF precisa analisar com urgência o processo do marco temporal." O cassado votou Apesar de ter tido o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral no dia 17 de maio, Deltan Dallagnol (Podemos-PR) participou da sessão e teve seu voto computado. Em resposta a questão de ordem levantada pelo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), o quarto secretário da Câmara, deputado Lúcio Mosquini (MDB-RO) respondeu que enquanto a mesa não se reunir para "fazer o quer tem que fazer", Deltan seguiria apto a exercer seu mandato. O projeto agora vai ao Senado. Analistas acreditam que o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, não tem a mesma pressa de Lira para votar o Marco Temporal. A legalidade da proposta será analisada pelo Supremo Tribunal Federal já no mês de junho. Matéria do Brasil de Fato Foto da deputada Célia Xakriabá protestando contra o texto no plenário da Câmara Federal - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados.


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Personagens a lembrar

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Personagens a lembrar
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De ADELI SELL* Porto Alegre tem muitas personagens a lembrar, algumas delas mereceriam até uma biografia pelo papel desempenhado. Outras, pelo menos um bom artigo de mídia, ajudaria. Quando o jornalista Marcello Campos escreve longos artigos sobre a noite em Porto Alegre, algumas pessoas são devidamente resgatadas. O mesmo se dá com artigos e postagens do Paulo Cezar Teixeira e do Márcio Pinheiro. Outros resgates estão sendo feitos pelo professor Frederico Duarte Bartz com os seus Caminhos Operários ou o Marco Ribeiro com os seus Caminhos da Imigração. Lançado em 13 de maio o sítio eletrônico – www.cronoletespoa250.com – faz um resgate por verbetes em cronologia, por isso, "cronoletes" da cidade e sua história. Por aqui, permitam-me lembrar aqui algumas figuras: PAULO COELHO, conhecido como Paulo Gordo, era um grande musicista. Morreu aos 30 anos de tuberculose. Famoso com sua “band”, seu primor ao piano no Club dos Caçadores e outros espaços nos anos 30. Ele musicou “Alto da Bronze”, cantada por Horacina Correa, Lourdes Rodrigues e, é claro, por Elis Regina. Uma de suas últimas obras colocadas no pentagrama deve ter sido um samba do Túlio Piva, feito para um concurso. Ele já estava muito doente. Este merece uma Biografia. Em sua homenagem temos uma Praça no Bairro Medianeira, na subida para o João XXIII. LOURDES RODRIGUES – Nossa cantora, nossa sambista. Tem um livreto sobre ela: Lourdes Rodrigues: uma história de sucesso. A "Dama da Canção", grande intérprete de Lupicínio Rodrigues dá nome a uma via na Zona Norte. ZILAH MACHADO – “patrimônio cultural do povo negro do sul”. Cantora, Compositora e Percussionista. Tive o prazer de conhecê-la e ajudá-la na divulgação de um de seus CDs. Está a merecer um nome de rua. TÚLIO PIVA – Já mereceu um livreto e um bom material gravado para lembrar sua rica atividade musical. Quando soube que ele era de Santiago/RS e que compusera “Pandeiro de Prata” fiquei impactado. É objetivo nosso colocar uma placa na casa onde morou na Rua Duque de Caxias. Aguardando alguns passos para dar tudo certo. Temos o Teatro Túlio Piva, mas fechado desde 2014. ARMANDO ALBUQUERQUE - Grande musicista clássico. Quando João Gilberto andou por sete meses em Porto Alegre, tocavam na Lopo Gonçalves, onde morava o maestro. Merece uma placa indicativa. É nome de rua na Zona Sul. Bem, são apenas algumas lembranças, mas temos e iremos falar mais nisso. *Escritor, professor e bacharel em Direito. Imagem em Pixabay. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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DPF Érika Marena acusada de fraudar novo depoimento

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DPF Érika Marena acusada de fraudar novo depoimento
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De MARCELO AULER* Principal responsável pela operação policial Ouvidos Moucos – e, consequentemente, pelo suicídio, em 2 de outubro de 2017, de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, então reitor afastado da Universidade Federal de Santa Cataria (UFSC) – a delegada federal Erika Mialik Marena foi acusada, no ultimo dia 26 de abril, em audiência na 1ª Vara Federal de Florianópolis, presidida pela juíza Janaina Cassol Machado, de modificar o depoimento de uma testemunha ouvida no inquérito. Não foi a primeira vez que a mesma delegada teve seu nome envolvido em possíveis falsificações de depoimentos em inquéritos policiais. Os primeiros casos surgiram com a Vaza Jato que revelou diálogos, pelo Telegram, entre os membros da Força Tarefa de Curitiba da Operação Lava Jato. Em janeiro de 2016, os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martello Júnior comentaram através do aplicativo que a delegada Erika “lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada… Dá no mínimo uma falsidade…” A existência desses diálogos foi noticiada amplamente, inclusive pelo site Conjur na reportagem – Polícia Federal forjou depoimentos para ajudar ‘lava jato’, mostram diálogos – e pelo 247 – Delegada Erika Marena, que comandou operação contra Cancellier, ex-reitor que se matou, falsificou depoimento na Lava Jato, em fevereiro de 2021. O mesmo diálogo dos procuradores nas mensagens levadas ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal pela defesa do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indicou que outros casos de falsificação de depoimentos podem ter ocorrido. Naquela conversa por aplicativo, Martello Júnior escreveu: “o mesmo ocorreu com padilha e outros. Temos q chamar esse pessoal aqui e reinquiri-los. Já disse, a culpa maior é nossa. Fomos displicentes!!! Todos nós, onde me incluo. Era uma coisa óbvia q não vimos” (sic). A nova modificação de depoimento, desta feita na Ouvidos Moucos, foi apontada pela administradora Simone Machado Moretto Cesconetto. Ela atuou como tutora de alunos no curso de graduação em administração do programa de Ensino a Distancia (EaD). A Polícia Federal de Santa Catarina, tendo à frente a delegada Érika, investigava uma suposta organização criminosa supostamente constituída por professores e servidores da UFSC. Falava-se em um desvio de R$ 3,3 milhões no EaD. Deprimido, o reitor suicidou-se Desencadeada em 14 de setembro de 2017, a operação Ouvidos Moucos repetiu os moldes da Lava Jato curitibana: prisão dos suspeitos antes mesmos de serem chamados a se explicar. Foram presos seis professores e o reitor Cancellier, que sequer era acusado de corrupção. Falou-se que ele estaria interferindo nas investigações, o que jamais foi provado. Algemado nas mãos e nos pés, obrigado a trajar um macacão comum aos presidiários ao passar a noite no presídio, afastado do cargo e impedido de ingressar no campus, Cancellier, mesmo tendo sido solto no dia seguinte e apesar de toda a solidariedade que recebeu, entrou em depressão. Em consequência, em 2 de outubro, jogou-se do sétimo andar do Shopping Beira mar, no centro de Florianópolis. No bolso um bilhete com a explicação: “Minha morte foi decretada quando fui banido da universidade”. Responsável pela operação, a delegada logo depois foi transferida para Sergipe, com a promoção ao cargo de superintendente. Uma sindicância do próprio DPF concluiu que não houve irregularidade alguma na ação que comandou e levou o reitor ao suicídio. No governo Bolsonaro, foi levada pelo ex-juiz Sérgio Moro para o ministério da Justiça. Nomeada diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça, perdeu o cargo junto com a queda de Moro. Retornou para a Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Paraná (SRDPF-PR), onde atua na Delegacia de Repressão a Entorpecentes. O relatório final do inquérito policial da Operação Ouvidos Moucos indiciou 23 pessoas, mas o Ministério Público Federal denunciou apenas 13, entre eles o filho de Cancellier, Mikhail Vieira De Lorenzi Cancellier. Este e mais dois réus terminaram por fazer um acordo com o Ministério Público. Comprometeram-se a pagar cestas básicas para instituições de caridade. Assinatura de escrivão ausente Na audiência de instrução do processo em que a administradora Simone foi interrogada como testemunha, alguns advogados dos réus estranharam quando a ela discordou dos termos que constam do seu depoimento na Polícia Federal. Notadamente Alexandre Salum Pinto da Luz, que defende o servidor Roberto Moritz da Nova, acusado de ser braço operacional e financeiro do grupo. Pelo termo de depoimento à polícia anexado ao inquérito, a administradora admitia que Roberto lhe pediu emprestado contas bancárias para pagamentos de terceiras pessoas. Em juízo, a testemunha alegou ter dito exatamente o contrário, ou seja, negado tal fato. A audiência não está transcrita. Foi totalmente gravada em vídeo. Apesar do som distante, consegue-se perceber que Simone discordou de alguns trechos importantes, em especial nas acusações a Roberto. A primeira surpresa para os advogados foi quando, aos dois minutos, a testemunha declarou que na sala onde prestou o depoimento ela estava sozinha com a delegada. Admitiu que naquele momento estava “fragilizada”, pois era o período em que amamentava seu filho pequeno, por isso se preocupava com a demora. No termo de depoimento, porém, consta a assinatura de César Akio Assakawa, Escrivão de Policia Federal, assumindo a redação do documento – “que o lavrei”. Segundo Simone, quem digitou o depoimento foi a própria delegada, “uma mulher loira de cabelo curto”. Ou seja, repetiu-se na Ouvidos Moucos o que já tinha ocorrido na Lava Janto. Como descreveu o procurador Martello, no depoimento que a delegada Erika foi acusada de ter forjado, constava a participação de um escrivão. Os procuradores, porém, admitiram que não houve o depoimento. Não foi isso o que disse Na audiência da Ouvidos Moucos, de 26 de abril, Simone afirmou que não estava acompanhada de advogado e também não conseguiu ler o depoimento que assinou. Atendendo ao apelo dos advogados das partes, a juíza concordou em ler a íntegra do depoimento para que a testemunha conferisse a realidade do que estava escrito. Em determinado trecho consta que Simone ao assumir a supervisão da tutoria de alunos passou a receber um “valor adicional de R$ 200,00. Esses pagamentos eram coordenados por Roberto da Nova Moritz”. Consta ainda que “quando não havia pagamentos (ela) apenas subia ao andar acima da sala de trabalho da declarante e perguntava a Roberto o motivo do atraso, ao que era informada que não havia recursos disponíveis”. Ao ouvir tudo isso, a testemunha apenas comentou: “Não lembro”. Já quando surgiu o trecho em que ela confirma que “na sua condição de supervisora de tutoria na época do Projeto Piloto 1, teve conhecimento de ingresso no programa de pessoas que não preenchiam os critérios da CAPES”, Simone negou, alegando que “não foi isso o que disse, o sentido era quanto ao comprometimento”. Pelo áudio da audiência não se consegue ouvir detalhes a respeito da resposta que explique claramente o que teria falado. Mais adiante veio o trecho em que ela diz que negou exatamente o que consta como tendo confirmado. No depoimento à polícia está que “perguntada se já emprestou sua conta para o recebimento de bolsa de EaD destinadas a outras pessoas, a declarante informa que não, jamais emprestou sua conta e seu nome para que outras pessoas recebessem valores. Que perguntada se isso já foi solicitado à declarante, esclarece que o funcionário Roberto da Nova, por três ou quatro vezes, fez tal solicitação”. Em juízo ela garantiu ter negado isso à delegada. Delegada incisiva e hostil Da mesma forma disse não ser verdadeiro ter admitido à delegada “que Roberto abordou a declarante perguntando se poderiam depositar valores em sua conta, dizendo que precisaria pagar um professor ou um tutor e que não teria como pagar se não fosse dessa forma; Que Roberto, nas três vezes em que abordou a declarante como pedidos dessa natureza não informou a que títulos se dariam referidos recebimentos, assim, não sabe se seriam como “bolsas” e se os valores viriam de fundação de apoio ou da CAPES; que em uma das conversas Roberto chegou a sugerir que a declarante poderia ganhar R$ 200,00 (duzentos Reais) de comissão por emprestar sua conta; Que como a declarante negou em todas as vezes e vinha se mostrando cada vez mais desconfortável com a abordagem, Roberto passou a não mais lhe fazer esse tipo de pergunta”. Em juízo garantiu que “nunca foi abordada pelo professor Roberto para emprestar sua conta”, estranhando, portanto, os termos que lhe foram atribuídos no depoimento. Também não confirmou, antes pelo contrário, disse ter negado na delegacia, saber que Roberto fez esse tipo de proposta (empréstimo de conta bancária) para outros colegas de declarante no EaD. No depoimento consta que “sim, pois já viu Roberto fazendo a mesma proposta para outras pessoas, porém não sabe dizer quem teria concordado ou não com esse empréstimo de conta”. As revelações da testemunha chamaram a atenção do procurador da República André Bertuol que acompanhou a primeira hora de audiência (depois foi substituído pelo seu colega Marco Aurélio Dutra Ayros). Aos 7 minutos da audiência, antes da leitura da íntegra do depoimento à polícia, Bertuol já destacava o fato de que Simone “nega peremptoriamente” ter sido abordada pelo professor Roberto com relação ao empréstimo de contas bancárias. Simone ainda esclareceu que a delegada era incisiva e foi hostil. Disse ter saído da Polícia Federal “muito constrangida e agredida moralmente e emocionalmente. Foi uma experiência muito ruim”. Admitiu que sabia de outras pessoas que prestaram depoimento à Erika naquele dia e saíram/sentiram-se constrangidas. Ofício à corregedoria A partir de todas essas constatações, a pedido do advogado Salum Pinto da Luz, a juíza Janaina determinou à secretaria da Vara o encaminhamento à Corregedoria da Superintendência da Policia Federal em Santa Catarina de cópia dos depoimentos. Para o advogado é necessário “apurar possíveis crimes cometidos pela delegada Erika contra a administração pública e da justiça”. No ofício endereçado em 11 de maio passado, a diretora da secretaria da Vara, Fernanda Ferreira Fernandes Cardoso encaminhou (i) Copia da Ata de Audiência realizada em 26.04.2023, (ii) Vídeo do depoimento da testemunha Simone Machado Moretto Cesconetto e, também (iii) copia do depoimento da Sra. Simone junto à Polícia Federal no inquérito nº 50184693220164047200.  No documento ela ressalta as “possíveis inserções indevidas nas declarações prestadas pela testemunha perante a autoridade policial, conforme alegado pela defesa do réu Roberto Moritz da Nova, Dr. Alexandre Salum Pinto da Luz”. Ao longo dessa semana que passou, o Blog enviou pedido de esclarecimentos da delegada Érika. Duas mensagens encaminhadas pelo WhatsApp para a Assessoria de Comunicação Social da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, sem merecer qualquer resposta. Da mesma forma que ficou sem resposta o e-mail encaminhado diretamente para a delegada. Ficamos no aguardo de uma manifestação da mesma. *Publicado originalmente no site do Marcelo Auler. Imagem: reprodução.

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Política e Ideologia no Brasil do Século XXI

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Política e Ideologia no Brasil do Século XXI
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De LINCOLN PENNA* Já é tempo de nos darmos conta do quadro político brasileiro a revelar a sua identidade. Vivemos de uns tempos para cá com uma manifestação política que se encontrava até então adormecida. Envergonhada de sua existência, dado o receio de se expor com toda a sua intensidade manteve-se mascarada. Estou a falar do fenômeno político que melhor traduz a nossa história cruenta, violenta, de cunho escravocrata, intolerante e profundamente reacionária, expressa mais recentemente no bolsonarismo que galgou a esfera do governo e ameaça a frágil democracia que temos. Em nossa história política republicana não faltaram exemplares filiados a essa tendência reacionária. Não me reporto aos conservadores que cultivavam o espírito democrático, mas aqueles que representaram uma direita avessa a toda e qualquer mudança, tementes que eram e são de qualquer transformação que venha a afetar os seus interesses e aos seus valores tradicionais. E essa ideologia própria das classes dominantes brasileiras se tornou dominante como sói acontecer com as ideologias das classes dominantes. Mas, o que se tem presentemente no cenário político a partir especialmente da ascensão de Bolsonaro e seus mais fervorosos adeptos é algo que anuncia que dias piores teremos pela frente, pois é a mais nova expressão da fornalha fascista que precisa ser reconhecida pelos democratas. O termo fascismo não é um adjetivo para qualificar a irrupção desse animal político mais recente. É um fato do qual não se pode mais silenciar se quisermos manter vivo os valores civilizatórios. A história do Brasil não conheceu extensas guerras civis e tampouco revoluções a provocar profundas rupturas, senão poucas mudanças progressistas e muitas regressistas, sem, no entanto, alterar radicalmente as estruturas em vigor. A contemporização e a prática contumaz da conciliação têm se mantido como um legado atravessando gerações, não obstante o surgimento de lideranças populares em meio à mesmice de sempre e a ocorrência de insurgências populares que tem resistido à opressão a sua maneira. No momento em que escrevo essas linhas estão sendo constituídas no Legislativo comissões parlamentares de inquéritos para tratar dos mais diferentes objetos a serem investigados nas casas legislativas, Câmara e Senado. Em paralelo a votação do novo marco fiscal, o já conhecido projeto do governo do Arcabouço a suscitar críticas de dentro e de fora do governo. Se as CPIs são prerrogativas do Poder Legislativo a proliferação dessas iniciativas - direito das oposições – tem, no entanto, um único objetivo: a paralisia do governo. E num caso específico com indisfarçável teor ideológico, a do MST. A tão propalada democracia que lhes interessa a ponto de alguns dos membros da oposição bolsonarista designar os golpistas de manifestantes com direito ao exercício da liberdade de expressão, no caso das ocupações do MST que encontram amparo nos termos da Constituição são consideradas invasões injustificáveis e, portanto, sujeitas a serem enquadradas como crimes contra o patrimônio particular. Discurso que encontra guarida na mídia que reproduz essa narrativa. Quanto aos grileiros, estes sim invasores, nada se fala, seja por ignorância ou por não interessar que esses personagens venham à tona nos noticiários politizados. O que deve nos alertar para o expediente de uma oposição centrada unicamente em acusações pueris, sacadas de um balaio constituído de afirmações sem fundamento na realidade dos fatos é exatamente estarmos diante de um quadro moldado para reafirmar o conteúdo ideológico de seus acusadores. Escorados em mentiras fabricadas ou distorcidas criam o ambiente favorável para reacender o golpe, única possibilidade que enxergam para impedir ou turvar o governo Lula desde o seu início de mandato. Porém, o alerta se estende a termos a percepção de que há os ideólogos do caos que são precisamente os engenheiros encarregados de introduzirem os alicerces de uma nova experiência do fascismo. A quantidade de pequenas organizações nazifascistas no território brasileiro pode ser vista com algo alegórico, mas foi desta maneira que os regimes na Itália e na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930, irromperam embalados pela descrença na política e nas instituições abaladas pela Grande Guerra de 1914 -1918. Ter clareza dos intuitos dos que integram essas forças antidemocráticas que iludem a boa-fé de muita gente é tão necessário quanto o ar que respiramos. Isto me faz de novo recordar o educador Paulo Freire para quem a educação enquanto formação de cidadania incomoda aos que não tem interesse em promover o bem-estar do povo porque para isso teriam de ceder os seus imensos privilégios patrimoniais. Nós não conhecemos guerras que tivessem devastado o nosso país de modo a rebaixar a autoestima de nosso povo. Todavia, temos conhecido processos de exclusão social regulares suficientes para abalar as esperanças de amplas parcelas do povo, situação a gerar combustível para ser aproveitado por falsos patriotas que agem com o intuito de arrebanhar os incautos para a implantação de um regime que se abastece dos métodos e práticas similares às do nazifascismo. Por isso vale uma breve digressão sobre presença desse animal político entre nós. Voltemo-nos à política. A política enquanto intervenção nas questões que envolvem os membros de uma sociedade é operada pela visão de mundo que cada classe social possui necessariamente. Quanto à ideologia ela é a representação dessa visão de mundo por parte das classes dominantes que a impõe de certa forma ao conjunto das demais classes. Neutralizar essa imposição através do recurso da verbalização extremada é agir exclusivamente no âmbito do embate ideológico, que só interessa às classes dominantes, que o desqualifica a partir dos meios de comunicação sob o seu controle. O emprego de um discurso baseado no que Marx denominava de fraseologia aplicado nos debates políticos só presta para reafirmar convicções, mas costuma estar desfocado da realidade em questão. Mesmo que tal atitude revele uma contundente negação da ordem política existente, ele não consegue congregar os que potencialmente podem vir a superá-la para que em seu lugar se implante um modo de vida que possa representar e traduzir a vontade geral de um povo. A ideologia entendida como uma leitura pertinente a uma classe se encontra incorporada ao nosso ser. Em razão desse conceito a atribuir a cada classe uma dada ideologia, seja ela pertencente às classes dominantes ou as classes dominadas ou subalternas, o fato é que em ambos os casos ela formata a nossa visão de mundo, mesmo que não nos demos conta de sua existência como parte do que somos. No caso da política ela está presente porque estamos envoltos nas relações sociais que são de cunho político e nos faz integrar às atividades comunitárias ou societárias, e enfim no mundo. A ideologia nesse sentido está entranhada de tal forma que não é possível desapegar dessa situação que carregamos em nossas vidas. Somos parte integrante de um universo que define a classe a que pertencemos. No mundo moderno esse fato se dá no mundo dos que detém os meios de produção ou dos que vendem a sua força de trabalho. E isto ocorre nas grandes metrópoles ou no campo. Todavia, esse pertencimento às nossas origens sociais não é algo a reproduzir mecanicamente os valores que nele se fazem presentes. É possível com a leitura do mundo desenvolvermos uma perspectiva crítica e dele se desapegar mediante o conhecimento da realidade e o comprometimento com valores que nem sempre são cultivados pelos que integram aquele nosso universo de origem. Ter essa compreensão é importante para que saibamos, penso eu, combinar ideologia e política. De tal maneira que as ações no âmbito da vida social se façam mediante o conhecimento das realidades concretas. Lançar mão de meras fraseologias doutrinárias para dar impulso às ações políticas é um contrassenso. Visam mais reforçar ideários assumidos do que interferir inteligentemente no mundo político. Esse problema tem sido evitado por quem se situa no campo das esquerdas que são, como se sabe, vocacionadas para promoverem as grandes e necessárias transformações, mas que estas começam com a prática do exercício da autocrítica sem a qual os agentes dessas mudanças de profundidade não superam essas fragilidades, muitas das vezes tidas como virtudes de quem esposa uma convicção revolucionária. A convicção ideológica é um elemento inerente à formação do cidadão consciente de seu papel na sociedade, mas a sua conduta no cotejo das disputas políticas não pode dispensar a leitura da dinâmica que preside os processos sociais e políticos a partir dos quais se deve interagir com os demais cidadãos igualmente portadores de suas visões de mundo oriundas de sua origem de classe e perseguir caminhos que nos levem à combater os nossos males de origem, geralmente perpetuados pela ideologia dominante. Sim, se somos portadores do instinto político e trazemos conosco certos valores que configuram a nossa visão de mundo estamos sujeitos as intercorrências que se manifestam nas relações sociais. Isto não é um problema, todavia cabe refletir sobre situações embaraçosas diante das quais é preciso lançar mão de uma dose de racionalidade. Do contrário, essa carga que incorporamos pode vir a dificultar as soluções de impasses corriqueiros na vida em sociedade. A formação de consensos em determinados momentos nada tem a ver com conciliação de classes. É uma imposição de situações que transcendem as conveniências de classe porque dizem respeito a contingências comuns a serem enfrentadas conjuntamente, sem prejuízo dos enfrentamentos futuros decorrentes da própria existência das contradições entre os que se batem na disputa pela hegemonia. Se os conflitos sociais são inerentes em sociedades desiguais ou mesmo plurais do ponto de vista étnico-cultural, agir inteligentemente com base no que dita o nosso comportamento como seres políticos embasados em visões de mundo quase sempre distintas, senão divergentes, exige discernimento. Este nada mais significa do que ter a capacidade de negociar saídas que evitem os confrontos violentos, graus mais elevados dos conflitos que são comuns nesses casos. O confronto sistemático não está confinado ou recluso a uma só forma de luta. Por vezes a decisão de esgotar negociações pode vir a ser mais útil e válida do que a permanência saturada do enfrentamento pelo enfrentamento. Saturação esta que atinge mais diretamente as classes subalternas já profundamente atingidas pela violência diária. As lutas de classes não devem ser entendidas como um embate com vistas ao expurgo de quem não comunga com ideários dos quais nos valemos, e nem pode fazê-lo porque têm valores que não se coadunam com outros. Trata-se de um embate que se processa no campo das ideias. Em certas etapas dessas lutas, dado o estágio em que se encontram esses confrontos de maneira a atingir fases mais agudas, o emprego de recursos mais violentos acaba ocorrendo. Contudo, é possível conviver com graus acentuados de disputas dentro de determinados padrões de coexistência, de modo a priorizar a argumentação e a força da persuasão. E essa possibilidade de conduzir as lutas de classes dentro de um mínimo de civilidade é um desafio ainda não alcançado e, segundo os mais céticos ou sectários, jamais chegaremos a essa situação. O próprio aprofundamento das contradições num mundo cada vez mais desigual e excludente para a maioria dos seres humanos, tende a impedir objetivamente que essa possibilidade venha a presidir as futuras disputas enquanto as sociedades de classes entravarem a superação de nossa pré-história. O sectarismo e a intolerância maculam a ação política e servem apenas para a reafirmação das convicções de quem as praticam. As duas atitudes radicalizam não os seus fundamentos, mas acabam por implementar o extremismo como meio de reafirmação de seus propósitos. Daí, a diferença entre radicais e extremistas geralmente tidos como semelhantes. Essas duplas atitudes empobrecem os valores que seu portador julga sustentar nas polêmicas travadas por vezes em troca de ofensas que acabam sendo mais pessoais do que doutrinárias ou filosóficas. Mas, atenção! Há certos momentos em que o imperativo da racionalidade dá lugar às transformações que derivam de um processo social a exigir uma tomada de posição. Vejamos no caso das revoluções ou mais precisamente em suas etapas pré-revolucionárias. A racionalidade aparece para dar o rumo certo visando sua realização de maneira a admitir avanços mais decisivos bem como recuos que venham a garantir o êxito do processo revolucionários. E isso se aplica independentemente das formas assumidas por uma revolução, seja ela responsável pela remoção de estruturas arcaicas, sejam científicas ou tecnológicas, o que importa é todas elas passam pela ação política. Contudo, as primeiras ao superarem as estruturas e a darem lugar ao socialismo, por exemplo, têm um caráter necessariamente revolucionário diante dos obstáculos interpostos pelas classes dominantes da esfera capitalista. E cada um dos exemplos acima citados enfrenta obstáculos que vão do preconceito a fórmulas inovadoras no tratamento de enfermidades e reações virulentas diante da aceitação de comportamentos sociais tidos como desviantes. Os protagonistas dos embates políticos e ideológicos que buscam compreender a cultura política em vigor têm mais aptidão para um desempenho mais bem-sucedido no confronto com os seus oponentes no campo das ideias. Ignorar essa referência torna a querela das ideias ainda mais alienante. Nestes casos, evade-se da realidade sobre a qual devem ser travados os enfrentamentos e toda a discussão acaba evocando realidades outras em face de meras citações calcadas em argumentos de autoridade. Este tem a finalidade de legitimar as pregações de quem tem a necessidade de reforçar as suas fundamentações, sobretudo quando elas não estão escoradas na realidade da qual se deve ter como base sobre a qual se discutem as teses e proposições direcionadas para saídas em face de impasses que nos atormentam. No espectro da direita, os argumentos se voltam para as sociedades que se julgam superiores e, por isso mesmo, modelos para serem tomados como referência, da mesma forma que o passado é cultuado para fazer valer o imobilismo e suscitar a necessidade de se conter os processos transformadores. Já no que se refere à esquerda o apelo a ícones revolucionários por vezes está escorada na incapacidade de apreensão das realidades de seu tempo. Daí a evocação aos grandes protagonistas das revoluções contemporâneas, como se essa evocação significasse a reprodução de situações que projetaram tais celebridades de experimentos revolucionários que não existem mais. Já a extrema-direita não tem como referenciar, porque se vale da violência para inibir qualquer processo contraditório de ideias. É o caso do fascismo, sua mais completa expressão. Não há como dialogar com quem se recusa a aceitar opiniões que contestem as suas crenças absolutas e reativas a toda e qualquer crítica. Desse modo, essa digressão evidentemente não se aplica a esse fenômeno político que reduz a política a um manto sagrado porque suas concepções são julgadas superiores e, portanto, do ponto de vista deles incontestáveis. Vivemos no Brasil um momento político no qual a preservação do espaço democrático assim entendido como o lugar da prática do contraditório entre as forças políticas deve ser o objetivo de quem deseja dotar os embates da prevalência do diálogo, mesmo por vezes impertinentes. E ter claro que com o fascismo não há como se dialogar, uma vez que o fascismo é a própria negação da política. E é no jogo das contradições políticas que se afirmam ou não os princípios normativos de cunho propositivo. Seus métodos de ação e suas práticas supostamente políticas visam destruir os nossos valores civilizatórios, que estão a essa altura acima das classes sociais, mesmo que cada qual tenha uma avaliação distinta com vistas à preservação desses valores. O fascismo é destruidor e faz desse impulso a sua razão de ser. *Doutor em História Social, conferencista honorário do Real Gabinete Português de Leitura, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Imagem em Pixabay. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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O corajoso cinema brasileiro em Cannes

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O corajoso cinema brasileiro em Cannes
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De LÉA MARIA AARÃO REIS* Cannes este ano é uma festa para o cinema brasileiro. Não é nada, não é nada, o Festival de Cinema está emplacando sua 76ª edição. É o segundo mais antigo do mundo que perde apenas para o Festival Internacional de Cinema de Veneza criado sob o domínio do fascismo de Mussolini em 1932. Mas nesse retorno ao tapete vermelho do Palais – o edifício-sede atual da festa, que sucedeu ao cinema instalado no prédio do cassino da cidade –; depois de exorcizada a pandemia e do isolamento imposto pela Covid, depois da retração econômica do nosso país, do desemprego em massa e de todas as desgraças frutos de um governo funesto instalado em Brasília, é surpreendente que o cinema nacional se faça presente, com força e qualidade, e chame a atenção na Croisette com os filmes que lá estão sendo exibidos até hoje, quando será anunciado o Palmarès. Eles são quatro e mais uma produção Brasil-Argentina e outros países. Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema; Firebrand, de Karim Aïnouz;  Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho; A Flor do Buriti, de João Salaviza e Renée Nader Messora; Levante, de Lillah Halla e Os Delinquentes,  de Rodrigo Moreno, co-produzido por Argentina, Brasil, Luxemburgo e Chile, presente na mostra Un Certain Regard com a história de dois bancários que odeiam o trabalho que fazem e resolvem cometer um roubo. Um “poema de saudade” é como vem sendo chamado o doc sobre Nelson Pereira dos Santos de autoria da produtora Ivelise Ferreira, viúva do cineasta e da professora da UFF Aída Marques,  e apresentado na última sexta-feira na sala Buñuel durante a mostra paralela Cannes Classics. O filme disputa o L’Oeil d’Or, prêmio concedido a produções de não ficção e analisadas por um júri à parte. “A costura que as duas fazem nesse filme é um primor”, escreveu o crítico Rodrigo Fonseca depois de assisti-lo. “É comovente ouvir Nelson se abrir,  elas deixando que ele conte a sua própria história através de entrevistas, na primeira pessoa, desde Rio 40 Graus, de 1955″. Outro filme brasileiro selecionado para Cannes este ano é  Retratos Fantasmas, o novo trabalho do celebrado diretor Kleber Mendonça Filho, um filme-ensaio sobre salas de cinema de antigamente, em sua cidade, no Recife, e integrante da Seleção Oficial de Cannes, mas fora da competição. O diretor pernambucano é veterano de Cannes: já fez parte do júri do festival em 2021, competiu pela Palma de Ouro em 2019 com Bacurau (dirigido com Juliano Dornelles),  e com Aquarius, em 2016. Retratos Fantasmas  é o resultado de sete anos de  pesquisas, filmagens e montagem. O personagem principal é o centro de Recife como espaço histórico e humano revisitado através dos grandes cinemas que atravessaram o século 20 como espaços de convívio. Na Croisette desta semana, pelas notícias que chegam de lá, a interpretação de Jude Law como o Henrique VIII de Firebrand,* do diretor Karim Aïnouz, é uma sensação. O diretor cearense é outro veterano de festivais europeus e concorre à Palma de Ouro. Disputou  o Urso de Ouro da Berlinale  com o belo Praia do Futuro 1, em 2014, e brilhou duas vezes na mostra Orizzonti, do Festival de Veneza: com o clássico O Céu de Suely, em 2006, e com Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (codirigido por Marcelo Gomes) em 2009. Em Cannes, Aïnouz ganhou o Prix Un Certain Regard, em 2019, pelo seu excelente A Vida Invisível2 e é o diretor do célebre Madame Satã, de 2002, do poético ensaio Aeroporto Central3, de 2018 e do recente Marinheiros da Montanha, de 2021. Firebrand é o primeiro filme em língua inglesa do brasileiro, é roteirizado pelas irmãs Henrietta e Jessica Ashworth e rememora os embates entre a rainha Katherine Parr e o rei Henrique VIII, com quem ela foi casada. No pano de fundo, lances das intrigas palacianas e amorosas da época desta sexta e última mulher do rei vivida pela atriz sueca Alicia Vikander, também ela motivo de elogios entusiasmados pelo trabalho nesse papel. Karim disse, em recente entrevista, que Firebrand foi gestado em meio à crise política vivida no Brasil em 2016, “embora eu não tenha feito nenhuma alusão direta a Dilma Rousseff”, ele ressalta. E comenta que o que o atraiu na personagem foi a sua relação  com  as figuras de (e no) poder: “É como se eu estivesse falando de uma mulher que se casou com o Trump e foi amiga do Che Guevara. Uma mulher em um trapézio político”. Uma mulher que enfrentou o machismo e a intolerância do fedorento Henrique, o qual, por causa de uma ferida permanente e de uma prótese na perna, usava um forte e enjoativo perfume de flores para disfarçar o odor nauseabundo dele emanado. A maternidade de Katherine Parr – acrescenta o cineasta – foi um ponto central na vida dela. Criou os filhos do rei, que não eram frutos legítimos dela, e toda a prole real se encantou com sua maneira maternal de ser e a via como uma mãe. Nessa tarefa que Katherine se impôs de educar uma nova realeza ela encontrou  um caminho de moderação política. Neste sábado, dia 27, o júri presidido pelo cineasta sueco Ruben Östlund vai anunciar os prêmios do Palmarès. Estimamos que ao menos um dos três cineastas brasileiros de excelência  que se encontram na vitrina de Cannes, este ano, ganhe um ramo da palma de ouro maciço. Será importante para reforçar, no mercado internacional de cinema, a resiliência e o vigor da arte e da nossa cultura diante da estúpida negação e do desprezo aos quais foram submetidas durante o tempo de ignorância fascista que acabamos de deixar para trás. *Jornalista carioca. Foi editora e redatora em programas da TV Globo e assessora de Comunicação da mesma emissora e da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foi também colaboradora de Carta Maior e atualmente escreve para o Fórum 21 sobre Cinema, Livros, faz eventuais entrevistas. É autora de vários livros, entre eles Novos velhos: Viver e envelhecer bem (2011), Manual Prático de Assessoria de Imprensa (Coautora Claudia Carvalho, 2008), Maturidade – Manual De Sobrevivência Da Mulher De Meia-Idade (2001), entre outros. Artigo publicado originalmente no portal Fórum21, disponibilizado pela autora que é leitora da RED. Tradução de firebrand: agitador(a), militante, revolucionário(a). Imagem em destaque: Cena de ‘Firebrand’, de Karim Aïnouz (Divulgação/Sony Pictures). 1 Praia do Futuro está disponível na Claro TV+ 2 A vida invisível está disponível na Claro TV+ 3 Aeroporto Central está disponível no Globoplay As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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Quem quer neoliberalismo no seu país?

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Quem quer neoliberalismo no seu país?
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De ANDRÉS FERRARI HAINES* e ALESSANDRO DONADIO MIEBACH** Uma fantasia recorrente no imaginário brasileiro e latino-americano reside na ideia de que as possibilidades de desenvolvimento residem na imitação das condutas observadas nos países percebidos como avançados. Entretanto é comum observar-se uma adoção acrítica de tais condutas por parte de vários setores sociais. O que fica nítido é a necessidade de avaliação do desempenho das estratégias nos países centrais. Nada melhor para isso do que a avaliação que a própria população faz sobre as políticas econômicas que vivenciaram. A análise é ainda mais enriquecida ao observar-se a experiência norte-americana sistematicamente exaltada como paradigma a ser seguido por amplos segmentos da elite latino-americana. Como ponto de partida, é fundamental o reconhecimento de que nos últimos cinquenta anos , 58% dos americanos afirmam que suas condições de vida pioraram, enquanto 19% afirmam que permaneceram as mesmas. De mal à pior: A Terra da Liberdade... e da Desesperança Para piorar a situação, o recente estudo do Pew Research Center revela que a maioria da população também não vê o futuro melhor. Para 66% em 2050 a economia estará fraca, 71% consideram que o país será menos importante mundialmente – com 77% afirmando que os EUA também estarão mais divididos internamente. Deve-se notar que 81% acreditam que o fosso entre ricos e pobres aumentará neste período – o que coincide com o resultado de que apenas 19% se declararem satisfeitos com suas atuais condições de vida. A confiança no futuro do país é de apenas 12%. Em abril passado, uma pesquisa da CBS News/ YouGov mostrou que 97% da população estava preocupada com sua situação financeira. Estes resultados têm-se agravado a cada inquérito realizado nos últimos anos, refletindo assim uma tendência consolidada de mal-estar existente na população norte-americana. 80% não estão satisfeitos com o estado do país – 76% não confiam na sabedoria nacional para tomar decisões políticas. Enquanto apenas 37% aprovam o governo Biden, os representantes no Congresso receberam nota pior, já que a gestão parlamentar é aprovada por 28%. Em junho passado, a Gallup observou que 50% dos norte-americanos consideravam a moralidade do país “pobre”, o número mais alto desde que essa pesquisa foi realizada – embora a visão negativa sempre tenha prevalecido. Além disso, trinta e sete por cento consideraram a moralidade dos EUA “aceitável” e 12 por cento “bom” – apenas um por cento “excelente”. O Tio Sam cada vez mais doente De acordo com uma pesquisa de janeiro último, 49 por cento dos norte-americanos disseram que se sentiram "assustados" com o que está acontecendo, enquanto 22 por cento disseram que estavam "bravos" e apenas 11 por cento expressaram entusiasmo. Apenas sete por cento acreditam que as coisas estão indo muito bem sob a liderança de Biden. Trinta por cento disseram que estão indo muito mal. Esse contexto está afetando negativamente o estado mental da população dos EUA. De acordo com uma pesquisa Gallup de dezembro , 31% consideraram sua saúde mental “excelente”, enquanto 26% avaliaram sua saúde física dessa forma. Esses números são os mais baixos já registrados. Consequentemente, o número de pessoas que procuram um profissional de saúde mental aumentou de 13% em 2004 para 23% em 2022. No entanto, devido aos custos, 38 por cento, o maior número registrado, afirmaram que adiaram o tratamento médico — enquanto 27 por cento o fizeram mesmo considerando sua doença muito grave ou algo grave. Esse contexto provavelmente está relacionado ao aumento acentuado dos fuzilamentos em massa. Em 2023 já eram pelo menos 202 casos — ou seja, mais de um por dia, e confirma uma tendência crescente: em 2015 foram 329. Em particular, destaca-se o forte aumento da taxa de mortalidade por armas de fogo entre crianças e adolescentes, que passou de 2,4 para 3,5 mortes por 100.000 menores entre 2019 e 2021 – em números, de 1.732 para 2.590 mortes por armas de fogo; o mais alto desde que o registro começou em 1999. Armas matam 12 meninos e ferem outros 32 diariamente nos EUA. 50 anos de neoliberalismo: A terra da oportunidade... de ser desigual Para 60% dos americanos, nem as grandes corporações nem os ricos pagam o que deveriam em impostos. Assim, 77% sustentam que o sistema econômico é injusto para a maioria da população. Não é uma percepção infundada: há 50 anos começou a ser implantado no país o modelo neoliberal - aquele que culpava a força sindical e o Estado de bem-estar social pela recessão dos anos 1970, passando a postular que, favorecendo o acúmulo de riqueza dentro de um quadro de liberdades para o capital, o crescimento econômico e melhores condições de vida para a maioria retornariam. A gestão macroeconômica neoliberal implicava uma opção por um controle mais rígido da inflação – mesmo que isso significasse conviver com taxas de desemprego mais altas e salários mais baixos. Assim, o salário-mínimo no país aumentou nominalmente de 1981 até o presente em apenas cinco anos. Já inflação acumulada entre 1970 e 2022 foi quase o dobro do aumento acumulado do salário-mínimo. Como resultado desse processo, os ganhos da elevação da produtividade líquida do trabalho – que indica, em média, quanto cada trabalhador produz e se distribui entre os salários e as diversas rendas categorizadas como rendimentos do capital – se converteram majoritariamente em lucros a partir da década de 1980 (Gráfico a). Com o neoliberalismo, os salários cresceram muito pouco, enquanto os lucros disparam. [caption id="attachment_7805" align="aligncenter" width="537"] Gráficos: (a) Produtividade líquida do trabalho e salários reais, (b) Participação do 1% mais rico e dos 50% mais pobres na renda nacional antes dos impostos – EUA, 1961 – 2021.[/caption] Os efeitos dessa mudança ficaram explícitos na concentração de renda (gráfico b): os 50% mais pobres, que vinham aumentando sua participação na renda nacional no pós-guerra, após 1980 com o advento do neoliberalismo, observaram o aumento da concentração de renda nos 1 por cento mais ricos. Dessa forma, a desigualdade de riqueza também se aprofundou. Em 1978, o 1% mais rico detinha 21,6% da riqueza, enquanto em 2021 essa magnitude correspondia a 34,9%. Os 50% mais pobres que detinham 2,5% da riqueza viram uma perda de quase 50% até a crise de 2008. Após uma pequena recuperação na última década, em 2021 eles detinham 1,5% da riqueza dos EUA (gráfico c). [caption id="attachment_7807" align="aligncenter" width="539"] Gráfico: (c) Participação do 1% mais rico e dos 50% mais pobres na riqueza pessoal dos domícilios – EUA, 1961 – 2021.[/caption] Esse 1% do topo hoje está, depois de contabilizada a inflação, 527 % acima do patrimônio líquido do 1% do topo em 1976, enquanto a renda dos 50% da base está agora, após a inflação, apenas 30% acima de seu nível em 1976. Rendas americanas para os 0,01 por cento do topo dispararam quase 600 por cento. Durante os dois anos da pandemia, o Institute for Policy Studies indica que enquanto um milhão de americanos morreram, a riqueza dos 727 milionários da América cresceu US $ 1,71 trilhão (58%). A terra da oportunidade onde os muito ricos ficam mais ricos os pobres cada vez mais pobres Apesar do forte corte nos gastos sociais, a dívida pública dos Estados Unidos cresceu de 31,8% do PIB em 1974 para mais de 120% – ultrapassando 31 trilhões de dólares. Nos últimos 50 anos, a política neoliberal só conseguiu superávit fiscal em cinco anos – o último em 2001. Depois desse ano, o déficit passou de meio trilhão de dólares para algo entre 2 e 3 trilhões de dólares. Estima -se que o serviço dessa dívida, que era inferior a US$ 100 bilhões na década de 1970 , chegue a US$ 1,4 trilhão neste ano. Esse resultado está ligado à política neoliberal que foi sucessivamente reduzindo a incidência de impostos sobre a riqueza e as altas rendas. A alíquota máxima de impostos pagos para cada dólar adicional ganho como renda era de 94% em 1944, passou para 70% em 1965 e está entre 28-37% desde 1987. Segundo a CIA , entre 178 países, apenas 45 (incluindo a Argentina) têm uma distribuição de renda pior do que os Estados Unidos. Atualmente 14,4% dos americanos vivem na pobreza, e 11,1% das famílias vivem com insegurança alimentar. Mais de meio milhão de pessoas vivem nas ruas, embora se estime que outras 140 mil vivam em carros – um crescimento de 40% nos últimos cinco anos. Muitos outros vivem em barracas, mas cada vez mais localidades estão banindo essas ' cidades' , através de repressão policial. O número de pessoas que necessitam de assistência alimentar por meio do Programa de Assistência Suplementar à Nutrição (SNAP) cresceu de quase três milhões em 1969 (1,4% da população do país), para 17 milhões de pessoas em 2000 e mais de 40 milhões de pessoas em 2010 (13 % da população). Em 2022, foram 41,2 milhões de beneficiários. Mesmo assim, informou a CNBC 1 em cada 10 adultos americanos passou fome em dezembro de 2021. Mas como três em cada quatro trabalhadores têm dificuldade para pagar as contas, 20% deles disseram que passaram fome por falta de renda, segundo a NBC News. Do sonho americano ao pesadelo neoliberal Recentemente, Lyndon Haviland, especialista em saúde e políticas públicas, alertou que “a maneira como medimos a pobreza é fundamentalmente falha. Ela subestima grosseiramente o número de pessoas que vivem na pobreza na América… O problema está piorando, não melhorando.” Na verdade, para a Poor People Campaign, existem 140 milhões de pobres, ou seja, 43% da população, e mais de 10 milhões de pessoas estão desabrigadas ou prestes a perder suas casas. Em sua campanha presidencial, em evento organizado pela entidade, Biden se comprometeu a erradicar a pobreza como "a única coisa que pode derrubar este país". Já como presidente, Biden presidiu a primeira conferência contra a fome no país em quase 50 anos na Casa Branca, que estima-se que afete mais de 10% dos lares norte-americanos. Essa trajetória se reflete na evolução do índice de Gini (que mede o nível de desigualdade de renda, sendo que quanto maior o índice, maior a desigualdade). O resultado do neoliberalismo foi um significativo aumento da desigualdade nos EUA (gráfico d). Talvez o registro mais preciso dessa realidade seja que, pelo segundo ano consecutivo, a expectativa de vida nos Estados Unidos caiu, de 78,8 anos em 2019 para 76,1 anos em 2021. É o menor registro em 25 anos . Não só a expectativa de vida nos Estados Unidos é menor do que a de muitos países desenvolvidos. É menor que a de Cuba… Mas os mais ricos dos EUA vivem entre 10 e 15 anos a mais que os mais pobres. Cuidado com seus desejos... eles podem se tornar realidade Tanto a elite brasileira como suas congêneres latino-americanas insistem em tomar a versão norte-americana do neoliberalismo como modelo a ser perseguido. Entretanto os últimos 50 anos se caracterizam pela decomposição do “sonho americano”. O recente clamor que deseja “fazer a América grande de novo” manifestado pela extrema-direita norte-americana é a mais pura expressão das fraturas econômicas e sociais que se multiplicaram nos EUA ao longo do período. Se a trajetória dos EUA no último meio século foi essa, não se entende como aplicando as mesmas políticas neoliberais em outro país o resultado seria diferente. O Brasil e a América Latina precisam buscar soluções próprias para seus dilemas e problemas. O neoliberalismo precisa ser superado. *Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). **Professor Adjunto do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Imagem em Pixabay. As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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